por Raúl Sousa, presidente da Associação de Profissionais Licenciados de Optometria
A ambliopia ou “olho preguiçoso” consiste na diminuição da acuidade visual de um olho ou dos dois olhos não melhorável com óculos ou lentes de contacto, devido a problemas no desenvolvimento da visão, e afeta principalmente as crianças. É um reconhecido problema de saúde pública, sendo a causa mais frequente de perda de visão monocular entre os 20 e os 70 anos de idade.
Aproximar-se muito dos objetos para ver ou semicerrar os olhos para tentar ver melhor, podem ser sinais de ambliopia nas crianças. Já o estrabismo, o erro refrativo ou diferença de graduação entre os olhos (anisometropia) e a obstrução do eixo visual são as principais causas de ambliopia.
Para corrigir a ambliopia pode ser necessário o uso de óculos com graduação para correção de erros refrativos, e nos casos mais graves pode estar indicada a cirurgia precoce para permitir a estimulação do córtex visual.
Esta condição é detetada, diagnosticada e tratada nos cuidados primários de saúde pelos Optometristas. Contudo, Portugal tem o mesmo nível de cuidados primários para a saúde da visão que o pior dos países do terceiro mundo, ou seja, são inexistentes.
Sobre a inexistência de cuidados primários para a saúde da visão no SNS, devemos refletir sobre as palavras de Daksha Patel, Oftalmologista e professora especialista em saúde global do Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Londres, e Dr. Serge Resnikoff, Coordenador da unidade de Prevenção e Gestão de Doenças Crónicas da Organização Mundial de Saúde: “A disponibilização de serviços de erros refrativos devia, idealmente, fazer parte do serviço de saúde. Contudo, também tem de ter em conta o que é aceitável pelo indivíduo e pela comunidade.” E “A correção dos erros de refração é uma intervenção simples e económica no tratamento oftalmológico”.
Se as recomendações da Organização Mundial de Saúde e da Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira, tanto para a ambliopia infantil, como para todos os erros refrativos, são para a disponibilização de consultas de Optometria nos centros de saúde, e para a prescrição de óculos, a pergunta é: porque é que o Governo não as cumpre? Porque se mantém o estado atual de agravamento de listas de espera de atendimento em Oftalmologia no Hospital, quando se pode implementar uma verdadeira solução por menos dinheiro e muito mais rápida na prestação dos cuidados de saúde para a visão?
Não há justificação razoável para a decisão da Direção-Geral da Saúde por um mero rastreio apenas à ambliopia e só para as crianças com 2 e 4 anos de idade, perante a opção alternativa recomendada pela OMS de consulta de saúde da visão, em centro de saúde, por Optometrista, para todas as idades, para todos os problemas visuais, com menor custo e real acesso ao tratamento. Esta segunda abordagem resolveria mais de 80% dos problemas da saúde de visão de forma imediata.
A implementação de Consulta de Optometria nos centros de saúde permitiria uma redução significativa do impacto desta doença, melhorando a prevenção, deteção e correção de erros refrativos de forma atempada, através da reabilitação após o diagnóstico da presença de ambliopia.
A APLO defende ainda que a integração de Optometristas no Serviço Nacional de Saúde é a solução para resolver o problema crónico na lista de espera de Oftalmologia e para melhorar o acesso de todos os portugueses aos cuidados necessários para a saúde da visão. Em 2017 ficaram por realizar 233.228 consultas de Oftalmologia.