No Reino Unido, a prescrição de livros em vez de fármacos está a ser adotada como terapia para tratar a depressão. De acordo com os especialistas, a leitura de determinadas obras é uma forma eficiente e "low-cost" de ajudar os pacientes.
No Reino Unido, a prescrição de livros em vez de fármacos está a ser adotada como terapia para tratar a depressão. De acordo com os especialistas, a leitura de determinadas obras é uma forma eficiente e “low-cost” de ajudar os pacientes a ultrapassar os problemas que os atormentam sem efeitos secundários.
O método começou a ser utilizado em Junho, mês em que o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) arrancou com uma campanha baseada numa investigação desenvolvida em 2003 pelo psiquiatra galês Neil Frude, que concluiu que os livros tinham potencial para se assumir como um substituto eficaz dos antidepressivos.
À data, o cientista constatou que alguns dos seus pacientes, frustrados com o longo período de tempo – às vezes anos – que passava até sentirem os primeiros efeitos dos fármacos, começaram a ler como forma de se entreter e que, entre as várias centenas de milhares de livros de autoajuda impressos no Reino Unido, alguns títulos traziam, realmente, benefícios a quem os lia.
A divulgação desta nova campanha foi feita recentemente por Leah Price, investigadora e professora da Universidade de Harvard, num artigo publicado no jornal The Boston Globe. Segundo Price, a iniciativa baseia-se na prescrição de livros para ajudar os pacientes com depressão a encontrar ligações com os outros e com o mundo.
A grande diferença é que os livros não são apenas recomendados – são prescritos como se de um fármaco se tratasse. “Se o psicólogo ou psiquiatra diagnostica o paciente com depressão leve ou moderada, uma das opções é passar-lhe uma receita com um dos livros aconselhados”, uma receita que se 'avia' na biblioteca e não na farmácia.
“Esta parece ser uma solução vantajosa tanto para os pacientes, como para os amantes da leitura. Ler melhora a saúde mental e é difícil pensar na existência de malefícios quando se fala de um programa como este”, defende a professora de Harvard.
Programa tem tido grande adesão
“Ao contrário dos fármacos, ler um livro não acarreta efeitos secundários como o ganho de peso, a diminuição do desejo sexual ou as náuseas (a menos que se leia no carro)”, realça Price, que escreve que o programa “Books on Prescription” lançado pelo serviço de saúde britânico é apenas mais um exemplo da difusão, naquele país, da “biblioterapia”.
Trata-se do “uso de livros selecionados com base no conteúdo e no âmbito de programas de leitura desenhados para facilitar a recuperação de pacientes que sofram de doenças mentais ou distúrbios emocionais” e que, embora não seja uma novidade, tem ganho cada vez mais adeptos.
O facto de este ser um programa recente ainda não deu às autoridades de saúde do Reino Unido a oportunidade de atestar a sua verdadeira eficácia mas, apesar de os especialistas garantirem que os livros não podem, em nenhuma circunstância, substituir um profissional de saúde, podem constituir-se como uma ajuda preciosa.
Em qualquer dos casos, a campanha aparenta estar a ter grande adesão: de acordo com os números avançados pela investigadora, nos primeiros três meses do programa, foram feitas mais de 100.000 requisições dos livros de autoajuda recomendados.
Saliente-se que esta não é, no Reino Unido, a única iniciativa a relacionar a saúde mental com a leitura. O Serviço Nacional de Saúde britânico financia também outras iniciativas, como a “The Reader Organization”, uma associação que reune pessoas desempregadas, presos, idosos ou apenas solitários para que, todos juntos, leiam poemas e livros de ficção em voz alta.