Durante vários anos, Pedro Matos – um engenheiro do território de 39 anos e natural de Lisboa – tentou fazer parte de uma missão humanitária. Ao fim de várias tentativas, conseguiu ser recrutado pelo Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas para trabalhar no Darfur, Sudão, onde esteve cerca de três anos a fazer mapas e gestão de Informação.
Naquela região do Oeste sudanês, Pedro Matos (na foto) verificou que, mesmo num cenário bélico onde as condições de vida se reduzem aos mínimos e onde a terra batida serve de pano fundo às ações do dia-a-dia, a esperança prevalece. Uma esperança que a população veste sobre a pele, com roupas repletas de cor e combinações ousadas.
Foi essa realidade menos conhecida de Darfur que levou Pedro a avançar com o projeto fotográfico Darfur Sartorialist, registando com a objetiva algumas das personagens que encontrou. Pedro explica ao Boas Notícias que se surpreendeu com o “cuidado no vestir, o aprumo, as incríveis combinações de cores” e por verificar que essas vestes “coexistiam com histórias terríveis e com a vida num dos ambientes mais duros e inóspitos do planeta”.
O conflito entre o grupo muçulmano janjawid e outros grupos étnicos de Darfur começou em 2003 deixando um rasto de ódio e destruição. Calcula-se que nos últimos nove anos, as milícias árabes tenham obrigado mais de 2 milhões de pessoas a abandonar as suas casas – muitos deles para viver em campos de refugiados dentro e fora do Darfur – e calcula-se que o conflito tenha causado a morte de 300 mil pessoas.
Imagens valem pela “história que contam”
O Darfur Sartorialist é uma versão adulterada do blogue do norte-americano Scott Schuman que – à semelhança do “nosso” ‘Alfaiate Lisboeta’ – fotografa pessoas comuns (mas ‘fashion’) nas ruas de Nova Iorque e outras cidades. “O nome Darfur Sartorialist junta duas palavras que não é suposto estarem associadas: ‘Darfur’ com a sua história trágica e o ‘Sartorialist’ com as suas gentes da moda”, explica Pedro matos.
Mas essa combinação é intencional e quase provocatória. “Espero que esse desconforto inicial dê lugar a uma discussão (…) sobre a forma como olhamos o mundo e assimilamos culturas e continentes inteiros a uma única imagem”, sublinha.
Pedro – que depois de ter estado uns dias em Portugal já está de regresso às missões humanitárias, desta vez no Quénia – salienta que não é fotógrafo e que apenas avançou com este projeto porque achou importante passar a mensagem de que há muitas “imagens que normalmente não nos chegam”.
“Não sou fotógrafo profissional e estas imagens valem mais pela história que contam do que pela qualidade técnica”, avisa, explicando que fica em aberto a hipótese de dar ou não continuidade ao projeto noutros locais onde venha a trabalhar.
Mesmo que esta venha ser uma coleção única, sem sucessoras, vale a pena ir até à Livraria Ler Devagar, na Lx Factory, em Lisboa, e ver de perto as imagens que compõe a exposição Darfur Sartorialist, onde a esperança se revela em tecidos de todas as cores.
Visite AQUI o Facebook do projeto para visualizar as fotos de Pedro Matos.