Uma nova geração de fármacos destinada a estimular a luta do sistema imunitário contra o cancro tem potencial para oferecer uma "cura clínica" aos pacientes com cancro da pele (o chamado melanoma), uma espécie de milagre médico.
Uma nova geração de fármacos destinada a estimular a luta do sistema imunitário contra o cancro tem potencial para oferecer uma “cura clínica” aos pacientes com cancro da pele, uma espécie de milagre médico para os cientistas e para os doentes que, até há poucos anos, tinham muito escassas hipóteses de sobrevivência.
A novidade foi apresentada este fim-de-semana durante a Conferência Europeia do Cancro (ECC), em Amesterdão, onde os investigadores explicaram que estes medicamentos imunoterapêuticos (em especial o Yervoy, produzido pela farmacêutica o Bristol-Myers Squibb's e também conhecido por ipilimumab) têm transformado e poderão continuar a transformar esta área da oncologia.
Stephen Hodi, professor assistente de medicina no Dana-Farber Cancer Institute, nos EUA, disse, na Holanda, ter algumas reservas em usar o termo “cura”, mas descreveu os mais recentes progressos como uma “mudança de paradigma”.
Segundo o especialista, citado pela Reuters, o sucesso da nova geração de fármacos significa, pelo menos, que os pacientes com melanoma poderão passar a viver com uma doença crónica em vez de enfrentarem uma morte iminente.
“Estamos a viver tempos incríveis. Há alguns anos nunca poderíamos imaginar usar sequer a 'palavra C', cura, para o melanoma. Mas estamos a caminhar nesse sentido”, congratulou-se Hodi, garantindo que o “ipilimumab abriu ua porta” e os progressos estão a ser feitos “muito rapidamente”.
Aprovado em 2011, o fármaco Yeroy foi, à data, visto como um enorme avanço nas terapias contra o melanoma, por ter sido o primeiro de sempre a aumentar o tempo de vida de pacientes com formas avançadas deste que é o tipo mais mortífero de cancro da pele.
Em média, de acordo com os ensaios clínicos iniciais, o medicamento acrescentou apenas quatro meses à vida dos doentes, mas cerca de 20% dos pacientes tiveram uma reação “impressionante” e “duradoura” em consequência do tratamento.
Mais de 10 anos de vida após o diagnóstico
Hodi apresentou, durante a ECC, novas conclusões obtidas durante o maior e mais longo estudo acerca da sobrevivência dos pacientes com cancro da pele tratados com Yervoy, que mostraram que alguns destes conseguiram viver mais de 10 anos após o diagnóstico.
Para Alexander Eggermont, do Comprehensive Cancer Center do Instituto Gustave Roussy, em França, especialista no tratamento do melanoma, os resultados do investigador norte-americano sugerem que certos pacientes podem, efetivamente, ficar “curados” à luz do conceito de “cura clínica”, já que o medicamento ajuda o sistema imunitário a controlar a doença.
“Aparentemente, é possível que os pacientes mantenham tumores residuais sob controlo durante muito tempo quando o sistema imunitário é 'reiniciado' de forma apropriada e, assim, o conceito de 'cura clínica' torna-se realidade”, realçou Eggermont na mesma conferência.
Além disso, um grupo de novos fármacos atualmente a ser testado e desenhado para desativar as proteínas PD1 e PDL1, que impedem o sistema imunitário de detetar e atacar as células cancerígenas, constitui uma “fantástica esperança” no que respeita ao tratamento do melanoma se combinado com o Yervoy, antecipou Stephen Hodi.
“Os bons resultados [obtidos com o Yervoy] podem vir a duplicar-se ou a triplicar-se com o uso de anticorpos monoclonais anti-PD1 e anti-PDL1 e, se assim for, o melanoma com metástases pode tornar-se uma doença tratável para, possivelmente, mais de 50% dos pacientes nos próximos 5 a 10 anos”, concordou Eggermont.
Neste momento, a Bristol-Myers Squibb, responsável pelo medicamento, está a conduzir ensaios clínicos sobre um dos seus fármacos de nova geração, o nivolumab, em melanomas em estado avançado. Nos EUA, a concorrente Merck encontra-se a desenvolver um outro medicamento, o lambrolizumab, que, nos primeiros ensaios, ajudou a encolheu em 38% os tumores em pacientes com melanoma avançado.