A Crioestaminal, banco de criopreservação em Portugal, libertou recentemente 2 amostras de sangue do cordão umbilical para tratamento do autismo em duas crianças, uma portuguesa e outra espanhola.
Os tratamentos aconteceram em agosto e setembro, na Universidade de Duke, na Carolina do Norte (EUA), e foram realizados com recurso às células estaminais do sangue do cordão umbilical das crianças infundidas.
Carolina, a criança portuguesa infundida com as suas próprias células estaminais, atualmente com 8 anos, apresentou um desenvolvimento normal até aos 9 meses. A partir dessa altura, começou a evitar o contacto visual e a interação, sobretudo com adultos – incluindo os pais e a ama. O atraso no desenvolvimento cognitivo tornou-se evidente a partir dos 10 meses e iniciaram-se os exames, análises e consultas da especialidade no sentido de detetar uma possível síndrome, mas o resultado foi negativo. A Carolina tornou-se uma criança não verbal e não é 100% autónoma. O diagnóstico conclusivo de Perturbações do Espetro do Autismo (PEA) aconteceu passados cerca de três anos.
A infusão agora realizada com sucesso, foi conduzida pela equipa da Dr.ª Joanne Kurtzberg, médica hemato-oncologista e especialista em transplantação hematopoiética pediátrica da Universidade de Duke, pioneira na transplantação de sangue do cordão umbilical e fundadora de um dos maiores bancos públicos de sangue do cordão umbilical, o Carolinas Cord Blood Bank. Aguardam-se os resultados da infusão de células estaminais do sangue do cordão umbilical nos próximos seis meses.
Atualmente, as Perturbações do Espetro do Autismo afetam cerca de 6 em cada 1000 crianças em todo o mundo e incluem um conjunto heterogéneo de disfunções de ordem neurológica, caracterizadas por alterações no normal desenvolvimento da criança, nomeadamente ao nível da comunicação, linguagem, comportamento e interação social. Estima-se que as PEA estejam associadas a uma falha na comunicação integrativa entre várias áreas do cérebro e que o seu aparecimento se deva à conjugação de uma multiplicidade de fatores relacionados com predisposição genética, exposição a determinados estímulos ambientais e desregulação imunológica.
Em Portugal, a Crioestaminal tem experiência na libertação de amostras de sangue do cordão umbilical para o tratamento de doenças, com 17 amostras já utilizadas. O 1º transplante foi realizado, em 2007, para o tratamento de uma Imunodeficiência Combinada Severa (SCID), num transplante alogénico entre irmãos. Desde então, seguiram-se outras utilizações de células estaminais do sangue do cordão umbilical: um caso de leucemia mieloide aguda (Hospital Niño Jesus, em Espanha) e oito utilizações no âmbito da paralisia cerebral (sete nos EUA e uma em Espanha). Nos casos das crianças com paralisia cerebral, os pais e os prestadores de cuidados, identificaram melhorias após a infusão de sangue do cordão umbilical. Recentemente, libertamos mais 2 amostras para tratamentos no âmbito de ensaios clínicos para patologias do espectro do autismo, na Universidade de Duke, nos EUA.