Por constatar que o bullying se manifesta desde cedo e que a prevenção nesta área é "escassa e pouco eficaz", a portuguesa Cátia Vaz decidiu apostar num jogo que pretende alertar para a necessidade de despertar para esta problemática emergente.
O bullying é, para muitas crianças, mais do que uma palavra, uma realidade. Por constatar que os comportamentos agressivos – físicos ou verbais – repetidos no tempo que cabem neste conceito se manifestam cedo, logo desde o 1º e 2º ciclos, e que a prevenção nesta área é “escassa e pouco eficaz”, Cátia Vaz decidiu apostar num jogo que pretende alertar para a necessidade de despertar para esta problemática emergente.
por CATARINA FERREIRA
A jovem de 25 anos, licenciada e mestre em Educação Social pelo Instituto Politécnico de Bragança, juntou-se ao programador português Filipe Duarte e criou o kit “A Brincar e a Rir o Bullying Vamos Prevenir”, que inclui dois tipos de jogos: um de tabuleiro e outro digital.
“Quando tive de optar pela realização de uma tese ou projeto, a minha escolha recaiu sobre um projeto, porque em termos profissionais era algo que me enriqueceria mais e porque sustento a ideia de que, como parte de uma sociedade, mais do que indignar-nos, devemos implicar-nos”, conta, em entrevista ao Boas Notícias.
Foi na sequência deste pensamento que nasceu o jogo educativo-pedagógico desenvolvido no âmbito do seu mestrado em Educação Social e destinado a alunos entre os 7 e os 13 anos. O objetivo, explica a mentora, “é contribuir para a prevenção do bullying escolar, funcionando como auxílio na educação das nossas crianças”.
A versão tradicional, em tabuleiro, pode ser jogada por grupos de duas até
seis crianças e é composta por 40 casas que têm de ser percorridas até se chegar ao chamado “Parque da Prevenção do Bullying Escolar”. “Criei uma série de regras que devem ser respeitadas e que vêm descritas com linguagem adequada à leitura das crianças”, salienta Cátia.
Quanto ao jogo digital, elaborado para ser utilizado num sistema operativo multiplataforma – desde iPad a Android, Mac, Windows e Linux – rege-se pelos mesmos princípios do de tabuleiro. Depois de instalado, oferece também às crianças o acesso ao “Parque de Prevenção do Bullying” onde podem escolher quatro desafios diferentes: um de palavras, outro de memória, um terceiro de perguntas e o último de desenho.
Próximo passo é a comercialização
As crianças que já experimentaram a criação reagiram, afirma Cátia, de forma “muito positiva”. “Umas dizem que gostam mais do jogo digital porque é computador, outras acham que a versão para iPad está 'mais na moda' porque não é preciso o rato, basta o dedo no ecrã, e porque têm uma maior oferta de desafios”, revela a educadora social.
“Mas também há algumas que preferem o jogo de tabuleiro porque acham que a possibilidade de jogarem em conjunto com os amigos mais divertida, envolve uma maior socialização”, acrescenta.
O próximo passo, desvenda Cátia ao Boas Notícias, é a comercialização. “Neste momento estou a estabelecer parcerias e contactos para tornar isso possível”, admite, sublinhando que espera “efetivamente” que este trabalho “contribua para dar mais destaque na nossa sociedade à grande necessidade que existe de trabalhar a prevenção do bullying”.
Futuramente, o desejo da criadora é que os jogos “A Brincar e a Rir o Bullying Vamos Prevenir” sejam “adotados e implementados no maior número possível de escolas, câmaras municipais e outras instituições”.
Consequências até à idade adulta
A propósito do problema do bullying vale a pena mencionar os resultados de um questionário efetuado pela revista Proteste anunciados parcialmente esta semana. As conclusões, que serão publicadas na íntegra na edição de Setembro, revelaram que mais de um terço das 1.240 pessoas inquiridas já foram vítimas destes comportamentos agressivos na escola, no trabalho ou na Internet.
No que toca ao bullying escolar, uma percentagem de inquiridos já adultos que sentiu na pele a violência destas ações admite que ainda “sonha com os eventos (14%) ou recorda com sofrimento a situação (36%)”, informa a Proteste, acrescentando que “no global, há uma prevalência de bullying escolar retrospetivo”, isto é, recordado pelos indivíduos questionados.
Segundo a Proteste, a maioria das crianças e jovens, hoje maiores de idade, admite ter-lhe faltado instrumentos para resolver o problema, pelo a decisão tomada foi ignorar ou evitar a questão.
O bullying assume maior prevalência entre as raparigas, sendo os motivos mais frequentes para as agressões, físicas e/ou verbais, fatores como a timidez ou o peso. Em 47% dos casos, os inquiridos confessaram à revista ter sido vítimas devido à introversão, ao passo que 28% afirma que tal se deveu ao facto de serem considerados pessoas fracas.
O questionário da Proteste foi enviado em Novembro do ano passado a uma amostra representativa da população portuguesa, entre os 18 e os 64 anos, tendo sido recebidos 1.240 questionários válidos.
[Artigo sugerido por Raquel Baêta e Elsa Martins]