Mas, para conhecermos verdadeiramente a história deste estudo, temos de recuar a 2013.
Nesse ano, Francisco José Galindo Rosales candidatou-se ao Programa Investigador FCT, da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Com o intuito de criar as condições para o estabelecimento de líderes científicos, através da atribuição de financiamento por cinco anos aos mais talentosos e promissores cientistas, o programa premiou este investigador que, assim, pôde aprofundar a sua pesquisa.
Instalado no Centro de Estudos de Fenómenos de Transporte (CEFT), uma das unidades de i&d da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, o projeto começou a ser desenvolvido com a colaboração direta de Laura Campo Deaño e outros membros do CEFT.
Cientificamente, o projeto CorkSTFfluidics procura reforçar materiais de célula fechada a partir da inclusão de um fluido reo-espessante (Shear Thickening Fluid -STFs- em inglês) mediante uma rede de microcanais, desenhados especificamente para dissipar a quantidade de energia que se pretende para uma aplicação em concreto.
Ficou confuso? Se pensar na forma como funciona um colete à prova de balas, poderá entender melhor a aplicação deste estudo. Ou seja, este tipo de fluidos, quando submetidos a um impacto suficientemente forte, aumenta a sua viscosidade de forma abrupta, tornando-se quase em sólido.
A inovação descoberta por esta equipa de investigação reside na possibilidade de incorporar os STFs em materiais de célula fechada, como é o caso da cortiça. E tal pode ser feito gravando a laser um circuito de microcanais numa lâmina de aglomerado de cortiça. Esta tecnologia laser é semelhante à usada para gravar logótipos nas rolhas de cortiça.
O objetivo maior do CorkSTFfluidics é a obtenção de compósitos que podem absorver a energia pretendida para cada tipo de impacto, mas também materiais que, em cada ponto da sua superfície, absorvam exatamente a energia pretendida.
Com um pedido provisório de patente em setembro de 2014, logo foi transformado num pedido de patente internacional, o projeto foi selecionada no ano passado pelo gabinete de Inovação da Universidade do Porto (UPIN) para participar no Business Ignition Programme (BIP). Acompanhados por Pedro Pardinhas, os investigadores têm analisado as potencialidades da tecnologia e seguindo os passos para arrancarem com um projeto empreendedor capaz de colocar no mercado novas soluções aplicadas à proteção do corpo de grupos específicos (atletas, grávidas, idosos, obesos e doentes crónicos).
Apesar de ainda estar em fase de desenvolvimento, a tecnologia CorkSTFfluidics já teve a sua prova de conceito e validação laboratorial. Poderá assim, num futuro próximo, ser aplicada em produtos diferenciados, preferencialmente usados junto ao corpo, como capacetes, calçado e outros equipamentos de proteção individual e conforto anatómico, que necessitem ou exijam a proteção contra impactos e/ou vibrações.
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