A Unidade Funcional de Implantes Cocleares do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) já colocou, com sucesso, implantes cocleares em 400 crianças surdas, dando-lhes acesso ao mundo do som.
A Unidade Funcional de Implantes Cocleares do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) já colocou, com sucesso, implantes cocleares em 400 crianças surdas, dando-lhes acesso ao mundo do som e possibilidade de desenvolver linguagem áudio-oral.
Em declarações à Lusa, Carlos Ribeiro, coordenador desta unidade do Serviço de Otorrinolaringologia instalada no chamado Hospital dos Covões, em Coimbra, salientou a excelência do trabalho desenvolvido naquela cidade portuguesa e o sucesso que a unidade tem conseguido internacionalmente e que vai permitir a organização, em 2017, no nosso país, do mais importante congresso deste setor da saúde.
O implante coclear tem dois componentes: um instalado no exterior, junto ao pavilhão auricular, e outro interno, mais complexo, que consiste num recetor-estimulador, por baixo da pele, que depois é ligado por uma série de microcabos colocados dentro da cóclea (o chamado “caracol”) no ouvido interno.
De acordo com o coordenador desta que é a terceira unidade a utilizar, na Europa, esta solução, a tecnologia não se compadece com implantes pontuais, já que o trabalho feito no pós-cirurgia é fundamental para o sucesso de toda a operação.
Após o ato cirúrgico, que começou a ser feito em Coimbra em adultos em 1985 e em crianças sete anos depois, existe um amplo processo levado a cabo por uma complexa equipa no sentido de estimular todas as competências nos mais novos, desde a aprendizagem dos sons ao desenvolvimento da linguagem.
Implantes devem ser feitos precocemente
Segundo Carlos Ribeiro, estes implantes devem ser feitos o mais precocemente possível, de preferência entre o primeiro e o segundo ano de vida da criança, de forma a que o tratamento tenha os resultados pretendidos.
“Todos nascemos programados biologicamente. O ideal é aprender a falar até aos dois anos. Entre os dois e três anos ainda é considerado um período aceitável, mas depois dos três anos a taxa de sucesso reduz-se bastante”, admitiu o clínico.
Carlos Ribeiro, que recordou que mais de 90% dos implantes deste tipo são feitos em Coimbra (as cirurgias pediátricas realizam-se no Hospital Pediátrico, mas todo o outro trabalho é efetuado nos Covões), esclareceu que, “quando uma criança nasce com uma surdez severa ou profunda, não tem capacidade para ouvir o suficiente para criar linguagem”.
“Quando o grau de surdez é muito elevado, as próteses auditivas não conseguem compensar os graus acentuados de surdez. Essas crianças estavam condenadas, por isso, a não formar capacidades áudio-orais. E isso é sempre limitativo para o desenvolvimento das crianças numa sociedade que vive da comunicação”, apontou.
No entanto, os estudos demonstram que as crianças implantadas demoram praticamente o mesmo tempo a descodificar os sons – transformando-os em linguagem áudio-oral – que as restantes crianças, apresentando um tempo de aprendizagem semelhante, mesmo que comecem a aprender mais tarde.
“Melhor pagamento são os sorrisos das crianças”
Aliás, o coordenador da unidade, que se congratulou com este “avanço tecnológico incrível” que dá às crianças “o acesso ao mundo dos sons e a saída do mundo do silêncio”, garantiu que, apesar das dificuldades em “ambientes sonoros adversos”, as crianças com implantes cocleares não sentem qualquer problema nos ambientes escolares e familiares, conseguindo uma “adaptação totalmente normal”.
Em jeito de conclusão, Carlos Ribeiro confessou que observar o desenvolvimento das crianças, a melhoria da sua realização pessoal, bem como a sua integração familiar e social são o “melhor salário possível”. “Tudo isto é muito gratificante. O melhor pagamento são os sorrisos das crianças e dos seus familiares”, finalizou.