“Algumas proteínas que se acumulam nos neurónios têm uma pequena 'cauda' feita de várias ubiquitinas atreladas. Neste trabalho descobrimos que a acumulação destas proteínas contribui para a comunicação neuronal porque as 'caudas' de ubiquitinas funcionam como um íman, que atraem e organizam corretamente os recursos dessa comunicação”, explica em comunicado Maria Joana, autora principal deste estudo.
Os resultados vêm, portanto, contrariar a ideia geral de que o papel regulador da ubiquitina é exclusivamente destrutivo. Ou seja: as conclusões sugerem que a proteína, importante na neutralização de proteínas danificadas ou com erros, também contribui para a formação de novas sinapses (processos essenciais para a comunicação neuronal).
“Decidimos arriscar uma abordagem pouco convencional e investigar o processo pelo qual a maquinaria de destruição das células contribui para o desenvolvimento do sistema nervoso. Surpreendentemente, à luz do conhecimento atual, observámos um aumento extraordinário do número de sinapses nos neurónios de ratos in vitro, em contexto de experimentação laboratorial”, acrescenta Ramiro Almeida, líder do grupo do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC.
Durante quatro anos a equipa investigou os mecanismos de formação das sinapses, fenómeno responsável pela passagem de informação ao sistema nervoso. A nova descoberta poderá auxiliar a comunidade científica a encontrar novas abordagens para os casos de autismo, esquizofrenia, atrofia muscular espinhal e, principalmente, para a síndrome de Angelman, um distúrbio neurológico que causa atraso no desenvolvimento intelectual.
As conclusões foram publicadas na revista científica Journal of Cell Biology. O estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pela União Europeia, através das bolsas Marie Sklodowska-Curie.