Uma dupla de cientistas canadianas encontrou plantas vivas com entre 400 a 600 anos em "perfeito estado de conservação" depois de um glaciar ter recuado no Arquipélago Ártico Canadiano e conseguiu "ressuscitar" quatro espécies em laboratório.
Uma dupla de cientistas canadianas encontrou plantas vivas com entre 400 a 600 anos em “perfeito estado de conservação” depois de um glaciar ter recuado no Arquipélago Ártico Canadiano. A equipa conseguiu ainda “ressuscitar” quatro espécies destas plantas da Pequena Idade do Gelo em laboratório através de culturas feitas com recurso ao material biológico original.
Catherine La Farge, investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Alberta, no Canadá, e a sua aluna Krista Williams, conseguiram assim provar que, ao contrário do que se pensou até aqui, as plantas que reaparecem depois de os glaceares derreterem não estão mortas – estão apenas adormecidas.
Os cientistas têm acreditado, ao longo de muito tempo, que todo o crescimento de vegetação em redor das margens dos antigos glaciares resulta de uma rápida “colonização” de novas plantas no local, mas o trabalho de La Farge e Williams, para publicação na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, vem negar esta teoria.
Espécies centenárias cresceram em laboratório
De acordo com um comunicado divulgado pela Universidade de Alberta, as investigadoras recorreram à datação de carbono para confirmar a idade das plantas briófitas (espécimes primitivos sem flores, como o musgo) encontradas, descobrindo que estas teriam ficado “soterradas” pelo glaciar Teadrop no período entre 1550 e 1850.
O que mais surpreendeu a equipa foi o facto de, além de se encontrarem intactas e em perfeitas condições, estas plantas terem apresentado sinais de estarem a voltar a crescer depois de o glaciar ter recuado, desenvolvendo novos caules ou pequenos ramos na sequência do degelo.
Catherine La Farge constatou que as plantas que ficaram a descoberto depois do recuo dos glaciares não estavam mortas, apenas adormecidas, e estas começaram progressivamente a revelar novos sinais de crescimento
“Sabemos que as briófitas conseguem permanecer adormecidas durante muitos anos – por exemplo, no deserto – e depois ser 'reativadas', mas ninguém esperava que rejuvenescessem após passarem cerca de 400 anos sob um glaciar”, afirma La Farge.
Considerando estas potencialidades, a equipa de La Farge selecionou 24 amostras de plantas subglaciais para criar culturas em laboratório. Destas, sete amostras permitiram produzir 11 culturas que permitiram regenerar, com sucesso, quatro espécies de plantas centenárias a partir do material original.
Células das plantas conseguem “reprogramar-se”
“Qualquer célula das plantas briófitas consegue 'reprogramar-se' e dar início ao desenvolvimento de uma planta inteiramente nova. É quase o equivalente ao que acontece com as células estaminais, mas em sistemas vegetais”, ilustra a investigadora, que acrescenta que estas plantas, “simples e eficientes” e que existem “há mais de 400 milhões de anos”, desenvolveram uma biologia única que lhes dá uma “resiliência ótima”.
De acordo com a especialista, esta descoberta e o sucesso das culturas em laboratório ajudam a demonstrar o papel fundamental que as briófitas desempenham em ambiente polar e as suas implicações em todas as regiões do planeta que se encontram cobertas de gelo.
“As plantas briófitas conseguem prosperar onde as outras não podem fazê-lo, pelo que desempenham uma função vital no estabelecimento, colonização e manutenção dos ecossistemas polares”, salienta La Farge.
“Este achado enfatiza a importância de efetuar investigações que nos ajudem a compreender o mundo natural, em especial se considerarmos que ainda sabemos muito pouco sobre este tipo de ecossistemas”, conclui.