Criar um coração vivo fora do corpo para o transplantar, depois, para um paciente, pode parecer impossível, mas está cada vez mais perto da realidade. Um grupo de cientistas espanhóis diz estar a uma curta distância de conseguir a proeza.
Criar um coração vivo fora do corpo para o transplantar, depois, para um paciente, pode parecer impossível, mas está cada vez mais perto da realidade. Um grupo de cientistas espanhóis diz estar a uma curta distância de conseguir a proeza e garante que corações (e partes deles) criados em laboratório poderão estar prontos a ser usados em doentes que precisem de um transplante “dentro de cerca de 10 anos”.
O trabalho – que, caso seja bem-sucedido, terá resultados históricos – está a ser desenvolvido por uma equipa do Hospital General Universitario Gregorio Marañón, na capital espanhola, Madrid, coordenada pelo cardiologista Francisco-Fernandéz Avilés.
De acordo com o Wall Street Journal, que avança a notícia, este especialista sempre se sentiu frustrado devido à dificuldade em tratar pacientes com doenças cardíacas avançadas, para os quais, muitas vezes, a única solução é um transplante de coração, uma dificuldade associada ao facto de haver poucos órgãos disponíveis.
Segundo Avilés, embora Espanha seja o país com maior taxa de doação de órgãos do mundo, apenas 10% dos pacientes que precisam de um coração o recebem a tempo, uma realidade que deu o mote para esta investigação.
Em 2010, a sua equipa conseguiu, pela primeira vez, criar, em laboratório, a “carcaça” de um coração a partir do órgão de um cadáver que foi mergulhado em químicos até que a sua estrutura celular original desaparecesse.
No entanto, tendo em conta da complexidade do coração, os cientistas tiveram, durante muito tempo, problemas em compreender como fazer novas células crescerem no local certo e na ordem certa, desempenhando as funções que lhes estavam destinadas – como o 'transporte' do sangue e a garantia dos batimentos cardíacos.
Corações 'artificiais': De ficção científica a ciência
Este obstáculo acabou por ser ultrapassado graças ao trabalho de uma investigadora norte-americana, Doris Taylor, que há cinco anos conseguiu criar um coração de rato em laboratório, recorrendo a um pacemaker para o fazer bater. “A atividade elétrica não emerge espontaneamente, pelo que também vamos usar um pacemaker”, revelou Avilés ao Wall Street Journal.
Em declarações ao jornal norte-americano, o cardiologista adiantou que a sua equipa espera ter, dentro de cinco ou seis anos, um coração criado em laboratório funcional e pronto para ser transplantado.
O especialista espanhol alertou, no entanto, que será ainda necessário superar, depois, várias barreiras de segurança antes de ser possível transplantar estes órgãos bioartificiais em pacientes, pelo que o cenário mais realista será, por agora, “a transplantação, dentro de 10 anos, de partes do coração”.
Até ao momento, Francisco-Fernandéz Avilés e os seus colegas desenvolveram já, em laboratório, válvulas cardíacas e 'adesivos' que poderão ser utilizados, no futuro, para reparar, por exemplo, tecidos danificados por enfartes.
Por enquanto, a equipa de Madrid está ainda a dar pequenos passos em direção ao seu grande objetivo, mas Doris Taylor, responsável pela criação do primeiro coração de rato funcional em laboratório, está otimista em relação ao futuro e ao trabalho dos colegas.
“Nós abrimos a porta e mostrámos que é possível. Já não é ficção científica. Está a tornar-se ciência”, assegurou a cientista da Universidade de Minnesota ao jornal norte-americano.