Uma equipa internacional de investigadores conseguiu fazer crescer pela primeira vez, em laboratório, tecidos funcionais de fígados humanos em ratinhos, o que abre a porta à criação de órgãos com células estaminais para transplante.
Uma equipa internacional de investigadores conseguiu fazer crescer pela primeira vez, em laboratório, tecidos funcionais de fígados humanos em ratinhos. Os “botões” de fígado implantados nos animais constituem o primeiro passo experimental no sentido de desenvolver, apenas com células estaminais, órgãos como fígados, pâncreas e rins para transplantes.
Os investigadores, liderados pelo japonês Takanori Takebe, da Universidade de Yokohama, no Japão, utilizaram um “cocktail” de células estaminais induzidas que levaram a tornar-se idênticas às células presentes nos “botões” do fígado – semelhantes aos “botões” das flores, isto é, representando uma fase muito inicial do crescimento do órgão.
“O 'botão' do fígado é formado num estágio precoce de desenvolvimento – nos humanos, normalmente após cinco ou seis semanas”, explica Takebe, em comunicado citado pela imprensa internacional. “O que fizemos foi imitar o processo de transição da formação do fígado nesta fase precoce”, acrescenta o investigador, cujo estudo foi publicado na revista científica Nature.
As células estaminais induzidas, descobertas em 2006, desenvolvem-se a partir de tecidos maduros, normalmente células da pele, voltando ao estágio inicial e “não especializado” que permite que sejam cultivadas e transformadas em vários tipos de células, desde células cerebrais a células sanguíneas.
No decurso desta experiência, os investigadores coordenados por Takebe “misturaram” um trio de células estaminais induzidas que incluíam células do fígado para ver que resultado se observaria. “Inesperadamente, elas começaram a organizar-se para formar um 'botão' de fígado tridimensional, ou seja, basicamente, um fígado rudimentar”, congratula-se Takebe.
Implantação em humanos poderá demorar uma década
Segundo o especialista, cada um destes 'botões' tinha menos de um centímetro de tamanho e era constituído por aproximadamente 180.000 células. Ao implantar estes “órgãos” incompletos nos ratinhos, a equipa constatou que os mesmos começaram a libertar enzimas humanas de forma eficaz e desenvolveram vasos sanguíneos, crescendo e tornando-se idênticos em aparência aos tecidos normais do fígado após dois dias.
Como teste final, Takebe e os colegas induziram quimicamente uma falência do fígado em 12 dos ratinhos estudados e constataram que os novos órgãos implantados os ajudaram a sobreviver ao problema.
Apesar de estes esforços terem sido bem-sucedidos, Takebe alerta que o implante deste tipo de células em humanos poderá demorar, pelo menos, uma década, já que tal procedimento exigirá minuciosos testes de segurança e que esta solução tem ainda de ser aprimorada (de forma, por exemplo, a poder filtrar toxinas como um fígado verdadeiro).
“O mais importante neste momento é descobrir como produzir uma quantidade elevada de 'botões' de fígado para transplante, porque sabemos que este é dos maiores órgãos do nosso corpo”, afirma. Segundo o japonês, uma “produção em massa” destes mini-fígados suficiente para a realização de uma primeira tentativa em humanos levará, no mínimo, cinco anos.
Clique AQUI para aceder ao resumo do estudo publicado na Nature (em inglês).
Notícia sugerida por Maria da Luz