Uma infância rodeada de livros e brinquedos educativos favorece a formação da estrutura do cérebro, revela um estudo norte-americano que se prolongou por quase 20 anos.
Além de promover uma maior autonomia intelectual, uma infância rodeada de livros e brinquedos educativos favorece a formação da estrutura do cérebro, revela um estudo norte-americano que se prolongou por quase 20 anos e cujos resultados foram divulgados na reunião anual da Sociedade para a Neurociência dos EUA.A investigação liderada pela neurocientista Martha Farah, da Universidade da Pensilvânia, aponta para um “período sensível”, no início da vida, durante o qual o desenvolvimento do cérebro é fortemente influenciado por fatores ambientais. De acordo com este estudo, quanto maior for a estimulação mental das crianças até aos 4 anos, mais desenvolvidas serão as partes do cérebro que lidam com linguagem e ações cognitivas durante a sua adolescência.
Através de estudos com gémeos idênticos e não idênticos, a ciência já tinha provado que os genes desempenham um papel importante no desenvolvimento do córtex cerebral, a estrutura fina que suporta funções mentais superiores. Mas pouco se sabia sobre a forma como as experiências iniciais de vida influenciam o desenvolvimento do córtex.
Para investigar, a equipa da Universidade da Pensilvânia recrutou 64 meninos e meninas de estratos sociais mais baixos e acompanharam as crianças desde o nascimento até ao final da adolescência. Os investigadores visitaram, em sua casa, as crianças quando tinham 4 anos idade e, depois, aos 8 anos para avaliar o ambiente, registando dados como o número de livros e brinquedos educativos presentes em casa e o nível de apoio que recebiam dos pais.
Mais de 10 anos depois da segunda visita à casa dos participantes, que entretanto se tornaram adolescentes, os investigadores realizaram ressonâncias magnéticas para obter imagens detalhadas dos seus cérebros. Os resultados indicam que o nível de estimulação mental que uma criança recebe em casa com a idade de 4 anos determina a espessura de duas regiões do cérebro na adolescência tardia, sendo que uma maior estimulação torna o córtex mais fino.
A pesquisa mostrou que o ambiente de casa aos oito anos tem um menor impacto sobre o desenvolvimento dessas regiões cerebrais, enquanto outros fatores – como a inteligência da mãe e a qualidade da educação – não resultou em qualquer alteração morfológica do cérebro.
À medida que o cérebro se desenvolve produz mais sinapses, ou conexões neuronais, que são necessárias. As ligações cerebrais que não são precisas são depois eliminadas num processo conhecido como “poda sináptica” (synaptic pruning, em inglês) que é altamente dependente da experiência pessoal.
Os resultados sugerem que a estimulação mental no início da vida aumenta o grau em que ocorre a poda sináptica no lobo temporal lateral. A poda reduz o volume de tecido do córtex tornando-o mais fino mas promovendo, também, um processamento da informação mais eficiente.
“Como em todos os estudos observacionais, não podemos realmente falar sobre a causalidade, mas parece provável que a estimulação cognitiva experimentada no início da vida levaram a alterações na espessura cortical”, disse a investigadora citada pelo jornal online ScienceNow.
Martha Farah acrescenta, no entanto, que a pesquisa ainda está em fase inicial e que mais trabalho é necessário para obter uma melhor compreensão de como exatamente a vida inicial e as experiências têm impacto na função cerebral.
Estudos anteriores já tinham provado que as experiências adversas, como a negligência infantil, abusos e pobreza podem impedir o crescimento do cérebro. a nova investigação confirma que a infância é um período de “extrema vulnerabilidade e que os pais podem ajudar as crianças a desenvolver suas habilidades cognitivas, proporcionando um ambiente estimulante. [Notícia sugerida por Liliana Silva]