Aos 33 anos, dá aulas no conservatório de jazz latino de Nova Iorque, toca três vezes por semana em clubes de música da Big Apple, já gravou dois discos e vai a caminho do terceiro. A música de Catarina dos Santos é cozinhada com ingredientes lusos,
Aos 33 anos, dá aulas no conservatório de jazz latino de Nova Iorque, toca três vezes por semana em clubes de música da Big Apple, já gravou dois discos e vai a caminho do terceiro. A música de Catarina dos Santos é cozinhada com ingredientes lusos, africanos e brasileiros. E Nova Iorque não se cansa de a saborear.Foi na Faculdade de Belas Artes, em Lisboa, que Catarina começou a mergulhar no mundo da música. Com os amigos formou uma banda, os Adworld. Em pouco tempo, o mundos dos sons sobrepôs-se ao da pintura. “A minha cabeça começou a ficar dividida… a música estava sempre comigo e dei mim a desenhar notas musicais”, explica ao Boas Notícias.
Depois do curso de Pintura, ingressa no Hot Clube e no Conservatório onde teve aulas de técnica vocal com Cristina de Castro. Foi no Hot Clube que começou a pensar nos EUA. “Muitos dos meus professores estudaram na Berklee, em Bóston, e houve toda uma geração de músicos que foram para lá… Mas eu acabei por decidir ir para Nova Iorque por ser uma cidade multicultural, com músicas de todos os cantos do mundo.”
Em 2003, um admirável mundo novo desdobra-se perante Catarina. Ingressa na City College de Nova Iorque com uma bolsa. Estuda com grandes nomes do jazz como John Patitucci, Paquito de Rivera e o irreverente brasileiro Cyro Baptista. “Tem sido um crescimento muito grande como ser humano”, sublinha Catarina, ” a oferta a nível musical é muito diversificada, há inúmeros projetos que vão desde o jazz, à música de Cuba e Porto Rico e à música brasileira.”
“Uma consciência muito alargada de ser português”
Entre 2005 e 2008, Catarina integra o projeto Nation Beat que funde os ritmos do nordeste do Brasil, da zona de Pernambuco, com o som second line de Nova Orleães. Em 2006, a banda grava o álbum “Maracatuniversal” (2006) trabalhando diretamente com músicos do recife.
“Foi uma das experiência mais ricas da minha vida. Há ali uma força brutal, uma vontade das pessoas de fazer música, de fazer cultura. E isso acordou-me para a minha responsabilidade, como portuguesa com as misturas todas que tenho à minha volta, de construir a minha própria cultura”, explica.
Catarina cresceu no Barreiro onde viveu rodeada dos sons africanos. “Ouvia crioulo a toda a hora, na escola, no autocarro, com as minhas amigas.” Mais tarde, aproximou-se da música cabo-verdiana através das noites no espaço B.Leza, do músico Tito Paris. “Portugal sempre foi um lugar de cruzamento de pessoas mas foi a experiência em NY e no Brasil que me trouxe uma consciência mais alargada de ser português”, diz Catarina.
Assim começa a construir um som próprio que funde Portugal, África e Brasil. O abraço luso-afro-brasileiro, com que Agostinho da Silva sonhou, concretiza-se no primeiro álbum a solo de Catarina dos Santos: “Balanço do Mar” (Mar Creation, 2009).
O álbum [veja abaixo o vídeo do 2º tema “O Teu Jeito”], editado nos EUA e no Japão, contou com a participação de músicos de Lisboa, São Paulo, Angola e Cabo Verde e foi misturado no famoso estúdio nova-iorquino, o Legacy Studios. Catarina compõe, canta e escreve a maior parte das letras, das quais cinco são em crioulo. Mas ouve-se também o português do Brasil e o de Portugal.
Aulas, concertos e um novo disco
A vida em Nova Iorque é frenética. Já deu aulas no Bronks e neste momento leciona aulas de percussão, dança e canto no Low East Side a criança de risco. Também trabalha na Young Audiences, um projeto que convida músicos a visitar escolas difíceis no distrito de Nova Iorque.
É também professora no conservatório de jazz latino The Boys and Girls Harbour onde, este ano, foi convidada a fundar o conservatório de jazz. E também a podemos ouvir cantar, pelo menos três vezes por semana, em espaços famosos como o Village Undergound ou o Esperanto. São muitos projetos, sim, mas Catarina garante que “enquanto tiver garra e força” vai continuar a fazer tudo isso.
Quando visita Portugal, a vida de Catarina corre à mesma velocidade, entre concertos e encontros com outros músicos. O ano passado tocou no CCB, este ano esteve na Festa do Avante! e a semana passada no festival Musidanças do MusicBox. Mas o regresso definitivo a Portugal ainda não consta da atarefada agenda de Catarina. “Quero viajar mais para o Brasil para estudar novos sons e gravar um novo álbum”. Deste lado do atlântico, resta-nos estar atentos porque o “balanço” de Catarina ainda agora começou.
Visite o site da Amazon para encomendar, fazer o download ou ouvir excertos das músicas do álbum de estreia a solo de Catarina dos Santos, “Balanço do Mar”.
P.M.