Dois linces ibéricos foram, esta terça-feira, libertados na Natureza em Mértola, momento que assinalou o início da reintrodução da espécie em Portugal com vista à reversão da situação de risco de extinção em que se encontram os felinos.
Dois linces ibéricos foram, esta terça-feira, libertados na Natureza em Mértola, momento que assinalou o início da reintrodução da espécie em Portugal com vista à reversão da situação de extinção em que se encontram os felinos. Nos próximos meses, oito outros linces deverão ser entregues ao seu 'habitat'.
O casal de linces – Katmandu, macho espanhol, e Jacarandá, fêmea portuguesa e nascida no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico em Silves – vai, agora, passar a viver num cercado inserido numa propriedade próxima da localidade de Romeiras e terá um “período de aclimatação” acompanhado por técnicos.
A libertação dos animais ficou marcada pela colocação, na Estrada Nacional 267, que liga Mértola a Almodôvar, no distrito de Beja, de um sinal de trânsito que alerta para a possível presença de linces e que contou com a presença do ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, e do secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, Miguel de Castro Neto.
Jorge Moreira da Silva mostrou-se “sensibilizado e emocionado” com o introdução dos felinos ao seu 'habitat' e disse acreditar que a situação de extinção da espécie em Portugal pode ser invertida, aproveitando para agradecer a todas as instituições que participaram no projeto.
O governante assegurou, ainda, estar “otimista” quanto à sustentabilidade da reintrodução do lince-ibérico em Portugal, que pode ser dificultada pela baixa população de coelho-bravo, o principal alimento destes animais que levou à extinção da espécie em território nacional na década de 1990.
Também Miguel Castro Neto, que revelou que “nos próximos meses” irão ser reintroduzidos “mais oito linces”, considerou que esta libertação foi um “momento histórico”, já que correspondeu à devolução à Natureza de um animal que se extinguiu no país, “sinal de que as políticas de conservação da Natureza e biodiversidade em Portugal têm feito um caminho positivo e motivo de orgulho para todos”.
Evolução da situação vai ser monitorizada cuidadosamente
“Ao colocar estes animais em liberdade, conhecemos o que tem sido a realidade espanhola, onde o principal risco tem sido a mortalidade provocada por atropelamentos nas vias rodoviárias. Nesse sentido, desenvolvemos os esforços necessários para prevenir e gerir esse principal risco”, disse à Lusa o secretário de Estado.
Miguel de Castro Neto acrescentou que “foram identificados os pontos mais sensíveis” e com «maior probabilidade de haver atropelamentos» e foram colocados oito sinais “para que a população seja sensibilizada” e possa “reduzir a velocidade” onde possam existir linces no concelho de Mértola, em pleno Parque Natural do vale do Guadiana.
Para assegurar que a reintrodução da espécie é bem-sucedida, foi estabelecida “uma metodologia e um senso quinzenal da população de coelho nos territórios de libertação de lince” e, de acordo com o secretário de Estado, dados recolhidos pelos técnicos comprovam que, neste momento, “existe uma população que até ultrapassa o mínimo considerado necessário para se poder reintroduzir o lince”.
Além disso, está também a ser feito um “trabalho de monitorização contínuo» e foi lançado “um projeto de investigação especificamente direcionado à doença hemorrágica viral dos coelhos” para se perceber “o que se passa agora com a população” e haver «um conhecimento mais aprofundado da doença”, com vista a evitar que “no futuro possam acontecer surtos como aconteceram no passado”.
Reintrodução do lince “é um processo e não um fim”
Em comunicado, a Liga Portuguesa para a Proteção da Natureza (LPN), uma das entidades que apoiou a libertação, afirmou que “o processo de reintrodução é um importante marco nos esforços de conservação do lince-ibérico, sendo o seu sucesso um significativo contributo para reverter a sua situação no nosso país”.
A LPN destacou, porém, que “a reintrodução é um processo e não um fim, longo e com muitos desafios”, comportando “riscos que têm de ser adequada e atempadamente geridos, devendo, por isso, ser acauteladas todas as potenciais ameaças à sobrevivência dos animais libertados e devidamente envolvidas todas as partes interessadas, nomeadamente as comunidades rurais”.