Cultura

Casa da Achada: a cultura é para todos

Projeção de filmes, conferências sobre arte e literatura, feiras, oficinais, sessões de poesia, discussão e leitura de livros e um coro com cerca de 60 elementos. Estas são apenas algumas das iniciativas que, em pouco mais de um ano, a Casa da Ach

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Projeção de filmes, conferências sobre arte e literatura, feiras, oficinais, sessões de poesia, discussão e leitura de livros e um coro com cerca de 60 elementos. Estas são apenas algumas das iniciativas que, em pouco mais de um ano, a Casa da Achada concretizou. Sem esquecer, claro, a catalogação do espólio completo do escritor, poeta e pintor Mário Dionísio.

Há um sítio, em Lisboa, onde a cultura não é um negócio mas sim um bem que se deve partilhar com todos. Desde que abriu as portas, em setembro de 2009, no coração da Mouraria, a Casa da Achada mantém uma atividade cultural intensa e regular. Seria exaustivo enumerar todas as atividades mas podemos, pelo menos, destacar algumas delas.

Em 16 meses, foram projetados cerca de 50 filmes organizados por ciclos temáticos, houve sessões de poesia (que alguns dirão não ser poesia por partirem de poemas de Mário Dionísio para outras artes como a música ou a pintura), conferências sobre arte e literatura, discussão de livros, dezenas de oficinas para miúdos e graúdos, exposições.

Foram também editados quatro livros [dois com textos de Mário Dionísio, um sobre a sua pintura e outro com uma abordagem mais biográfica], pintou-se um mural com mais de 5 metros a partir de uma maquete de Mário Dionísio – mural este que teve de ser deitado abaixo pela autarquia mas que voltou a ser pintado [ver vídeo abaixo], por iniciativa da Junta de Freguesia, no Largo dos Trigueiro – e nasceu ainda um coro que conta já cerca de 60 elementos.

Apesar da curta existência da associação, muita gente já passou por esta casa para assistir, participar ou colaborar. Muitas destas iniciativas contaram com a participação de nomes mais ou menos conhecidos da cultura portuguesa como Mário Machado, Jorge Silva Melo, Teresa Ricou, Jacinto Lucas Pires, entre outros.

A exposição “50 anos de Pintura e Desenho” – com obras da autoria de Mário Dionísio e outras que lhe foram oferecidas por artistas como Júlio Pomar ou Vieira da Silva – foi vista por cerca de 700 visitantes. As sessões de cinema também foram concorridas. Filmes como Citizen Kane (Orson Welles) ou Aniki Bobo (Manoel de oliveira) receberam mais de 70 espectadores.


Além da dinamização cultural, nestes meses concluiu-se também aquele que será talvez o mais importante projeto da Achada: a catalogação completa do espólio de Mário Dionísio e da sua mulher Maria Letícia Clemente da Silva.

São mais de 6000 livros e cerca de 300 títulos de publicações periódicas, disponíveis para consulta. E também textos e desenhos e pinturas originais de Mário Dionísio e de outros autores, correspondência, fotografias. Graças ao trabalho de catalogação, coordenado pela bibliotecária Natércia Coimbra, já possível consultar os títulos disponíveis através da Internet. Os documentos estão agora a ser digitalizados para depois serem colocados online.

“Lutar contra o despedício”

Criada por um grupo de 58 sócios-fundadores, amigos de Mário Dionísio e outras pessoas próximas do seu trabalho, a associação da Achada – Centro Mário Dionísio foi fundada em finais de 2008, ainda sem uma sede própria, tendo como objetivo primordial “a partilha e a ´democratizacao` da literatura e da arte”, explica ao Boas Notícias Eduarda Dionísio, a filha do escritor.

“Mário Dionísio tinha muitos livros, escritos por ele e por outros, muitos quadros, pintados por ele e por outros. Eu, como herdeira, achei que era um desperdício não tornar essas coisas acessíveis a outras pessoas”, explica Eduarda. Foi por isso que propôs a um grupo de amigos a criação desta associação. “A ideia é fazer uma espécie de luta contra o desperdício”, acrescenta.

E como “dinheiro” não costuma ser sinónimo de partilha, todas as iniciativas e serviços da Casa da Achada são gratuitos. “Esse é um ponto de honra. Claro que há pessoas que poderiam pagar, mas por exemplo as crianças aqui do bairro se tivessem de pagar não vinham… Era difícil dizer ´aquele tem dinheiro paga, aquele não tem não paga`, por isso nós tentamos arranjar dinheiro suficiente para que a casa possa existir de forma gratuita para toda a gente”.

Além de albergar o espólio de Mário Dionísio e da sua mulher, a antiga oficina metalúrgica de cerca de 300m2 onde está instalada a Casa da Achada tem ainda uma biblioteca pública com cerca de 4000 livros dedicados aos mais variados temas, da literatura a ciência. Por enquanto os livros terão de ser consultados no local mas, em breve, a catalogação desta biblioteca estará concluída e será possível fazer requisições.

A Casa está também aberta a iniciativas vindas do exterior, de outras associações e instituições. É o caso do ISCTE, que ali está a organizar colóquios sobre a “Construção Informal nas Cidades”, ou da associação de jovens artistas Chili com Carne que organizou no jardim da Achada uma feira de edições independentes. “Aceitamos colaborações informais com algumas associações, desde que tenham uma relação, direta ou indireta, com o espírito da Achada e de Mário Dionísio”, explica Eduarda Dionísio.

Esta casa existe “até amanhã”

À falta de maiores subsídios – além de uma modesta ajuda da Câmara de Lisboa e do Ministério da Cultura e de alguns subsídios pontuais da Gulbenkian – a Casa da Achada aposta na venda de livros, organiza feiras e leilões de arte e conta com o apoio dos sócios fundadores. Criou também a figura dos “Amigos da Achada” que, em troca de uma pequena quota mensal de dois euros, recebem um cartão que dá descontos em alguns locais culturais de Lisboa, como nas iniciativas da EGEAC, no museu Vieira da Silva, no Teatro da Trindade.

São, no entanto, fundos precários para quem tem tantas ideias e materiais entre mãos. “Por enquanto temos conseguido [concretizar as iniciativas] mas costumo dizer que esta casa existe até amanhã, ou seja, vai existir enquanto houver dinheiro”, confessa Eduarda Dionísio.

Em 2011, a Casa vai manter a maior parte das atividades regulares, como os ciclos de cinema e os ensaios do coro. Está também prevista a inauguração de uma exposição biobliográfica de Mário Dionisio. Mas outras iniciativas irão, com certeza surgir, porque este é um local de encontro e partilha, uma espécie de prolongamento daquilo que seria o espírito intelectual de Mário Dionísio.

P.M.



Morada:
Rua da Achada, nºs 11 r/c e 11B, em Lisboa, na Mouraria

Links:
Casa da Achada – Centro Mário Dionísio: http://www.centromariodionisio.org/
Catálogo do Espólio: http://www.centromariodionisio.org/espolio.php

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