Uma equipa de cientistas portugueses conseguiu dar mais um passo no combate à toxicidade da cisplatina, o fármaco utilizado nos tratamento do cancro.
Uma equipa de cientistas portugueses conseguiu dar mais um passo no combate à toxicidade da cisplatina, o fármaco utilizado nos tratamento do cancro. À frente de uma investigação internacional, os especialistas da Universidade de Coimbra obtiveram “resultados altamente promissores” no controlo dos efeitos consequentes da cisplatina nos pacientes.
O objetivo passa por ultrapassar a “elevada toxicidade” do fármaco, bem como a “resistência adquirida pelos pacientes” durante a quimioterapia. Como tal, têm vindo a ser feitas diferentes experiências, cujo balanço está a permitir uma melhor compreensão do modo de atuação da cisplatina no organismo.
Em comunicado enviado ao Boas Notícias, a Universidade de Coimbra explica que os ensaios estão a revelar “resultados altamente promissores”, representado um passo significativo de ultrapassar os dois grandes problemas deste fármaco.
Através das experiências levadas a cabo, foi já possível ter uma melhor percepção “do modo como a glutationa (antioxidante celular) contribui para a resistência adquirida para com a cisplatina, aplicada no tratamento de vários tipos de cancro (pulmão, testículo, ovário, bexiga, entre outros)”.
Além disso, a equipa de especialistas conseguiu “mascarar” o fármaco com “um veículo à base de ciclodextrina (polímero de açúcares), por forma a impedir o seu contacto com a glutationa, fazendo-o chegar eficazmente ao tumor, onde exercerá o seu efeito terapêutico”.
O feito foi, inclusive, noticiado e destacado na página oficial do Centro de Investigação ISIS, responsável pela produção do mais potente feixo de neutrões e muões do mundo, sedeado no Rutheford Appleton Laboratory do Science and Technology Facilities Council, perto de Oxford, no Reino Unido.
Maria Paula Marques e Luís Batista de Carvalho, líderes da investigação, sustentam que o facto de perceber como “a glutationa sequestra a cisplatina, impedindo-a de chegar ao alvo em doses apreciáveis – apenas uma pequena percentagem da dosagem administrada ao doente chega às células cancerígenas – e encontrar uma forma de ultrapassar este tipo de resistência, vai permitir desenvolver formulações farmacológicas mais eficazes e menos tóxicas para o doente”.
Os investigadores vão, agora, deslocar-se novamente ao ISIS, por forma a avançar com as experiências, “verificando se o fármaco encapsulado em ciclodextrinas não é afetado pela glutanina, evitando-se o seu consumo antes de este atingir o alvo terapêutico”. Caso os resultados sejam positiviao, será possível avançar com ensaios pré-clínicos e clínicos, testando a viabilidade da aplicação prática das novas formulações.
“Esperamos provar que a cápsula de ciclodextrinas protege eficientemente a cisplatina, sendo assim um bom transportador até ao alvo”, afirmam os especialistas, salientando que a confirmar-se “a eficácia desta estratégia, este veículo poderá também reduzir os efeitos secundários do fármaco, já que protege as células sãs dos seus efeitos nocivos”.
Além disso, a cápsula poderá igualmente permitir que “o tratamento até agora administrado exclusivamente por via intravenosa possa ser feito por via oral, aumentando significativamente o conforto e a qualidade de vida do doente”, destacam Maria Paula Marques e Luís Batista de Carvalho.
Para chegar a estes resultados, “as experiências realizadas no ISIS são determinantes” por fornecerem “uma visão única dos fármacos a nível molecular e possibilitando a obtenção de informação extremamente detalhada”, que não seria possível alcançar de outro modo.
A atribuição de tempo de experiência neste laboratório internacional, assim como o financiamento pela União Europeia, implica “um exigente processo de avaliação por peritos académicos mundiais”.