por Patrícia Maia
André tinha 11 anos quando a família soube que tinha leucemia. “Foi marcante”, recorda Fernando Pinho. A família de André seguiu os 'trâmites' habituais, procurando um dador de medula óssea através de todos os meios. Apesar de não terem encontrado um dador compatível, André sobreviveu, tem hoje 21 anos e é finalista de um curso superior.
Mas mesmo assim, a vida de Fernando Pinho, produtor de teatro, mudou para sempre. “O meu irmão faz parte dos 80% de crianças que sobrevivem a esta doença em países desenvolvidos. Em países em desenvolvimento, apenas 5% de crianças sobrevivem: morre uma criança com cancro a cada 4 minutos. Não podia ficar indiferente”, conta o mentor do The Amélia Project ao Boas Notícias.
Decidido a mudar esta realidade, Fernando Pinho começou, em 2013, a desenhar o Amélia Project, batizado com o nome da sua filha. Através de uma campanha de 'crowdfunding' angariou quase 15 mil euros.
Mas a campanha mais mediática terá sido o momento em que Fernando Pinho decidiu avançar com um desafio: iria passar 60 dias em 60 aeroportos diferentes chamando assim a atenção para a sua causa.
A iniciativa, que serviu também para apresentar o projeto ao público, teve de ser cancelada a meio por motivos de saúde já que Fernando Pinho começava a acusar sintomas de cansaço extremo, mas deu ao Amélia Project o impulso necessário. Nesses 30 dias “recebemos mais de 230 donativos”, salienta.
15 mil euros através de 'crowdfunding'
Pouco depois, avançou a campanha de 'crowdfunding' na Indiegogo onde o Amélia Project angariou quase 15 mil euros.
Neste momento, o sonho de Fernando Pinho já é uma realidade. O Amélia Project conta com a colaboração de quatro voluntários e parcerias com empresas de aviação civil e outras ONGs, incluindo médicos, enfermeiros, pilotos comerciais, engenheiros aeronáuticos, advogados especialistas em direitos humanos, entre outros.
Fernando Pinho com a mulher e a filha Amélia
O Amélia Project estabeleceu ainda uma parceria com a empresa Pilatus que disponibiliza um avião para as missões. Fernando Pinho vai avançar com a primeira missão ainda este ano “transportando médicos para a Birmânia, onde apenas 5% das crianças com cancro sobrevivem, para ajudarem nos tratamentos e na formação a médicos locais”. “Este programa, em parceria com outras organizações, poderá beneficiar 1600 crianças durante o próximo ano”, afirma.
Mas o The Amélia Project atua também na Europa, onde há “famílias a atravessar períodos difíceis devido a doença ou questões financeiras”. “Ao oferecer transporte aéreo gratuito, muitas vezes para visitar família a viver em outros países, estamos a ajudar estas famílias a criarem memórias importantes, independentemente do que o futuro lhes traga”. Este ano, em função dos recursos financeiros, o Amélia Project vai apoiar, neste sentido, pelo menos duas famílias portuguesas.
Concerto solidário reverte para o Amélia Project
O objetivo de Fernando Pinho é tornar o Amélia Project independente de donativos, através da prestação de serviços que serão disponibilizados ao público em geral.
Mas por enquanto toda a ajuda é bem-vinda e, já no dia 26 deste mês, os lisboetas podem ajudar contribuindo com 13.85 euros para assistir ao concerto solidário da cantora lírica Sofia Escobar (jurada do Got Talent Portugal) e de Nuno Feist no Teatro da Trindade.
“Foi um gesto espontâneo destes dois artistas que decidiram oferecer 100% da receita para o transporte de médicos do Amélia Project”, sublinha Fernando Pinho, agradecido.