A exportação deste tipo de pavimento, olhado como uma forma de arte, poderá vir a simplificar-se em breve graças ao projeto CALX, que vai comercializar placas prontas de calçada portuguesa, levando, sem obstáculos, a tradição além-fronteiras.
Embora seja muito apreciada no estrangeiro, a calçada portuguesa pode tornar-se uma opção difícil devido às peculiaridades da sua aplicação, que exigem as mãos muito qualificadas dos mestres calceteiros. Porém, a exportação deste tipo de pavimento, olhado como uma forma de arte, poderá vir a simplificar-se em breve graças ao projeto CALX, que vai comercializar placas prontas de calçada portuguesa, levando, sem obstáculos, a tradição além-fronteiras.
por Catarina Ferreira
Foi durante uma das suas viagens aos Estados Unidos, há cerca de seis anos, que José Eduardo Alves, de 55 anos, dono de uma empresa exportadora de cerâmica utilitária, se deparou com a dificuldade de um cliente em aplicar calçada portuguesa na sua residência em Newark.
“A partir do confronto com estas dificuldades surgiu a ideia de criar uma solução mais célere e menos dispendiosa para aplicar calçada portuguesa no estrangeiro”, recorda Nídia Alves, filha de José Eduardo e finalista do Mestrado Integrado em Arquitetura da Universidade de Évora, que trabalha em conjunto com o pai neste conceito, em entrevista ao Boas Notícias.
Apesar de a ideia já ter seis anos, só em 2012 a CALX – palavra latina que em português significa calcário, a matéria-prima utilizada para a calçada portuguesa – nasceu oficialmente, com a participação na 4ª edição do Prémio Nacional Indústrias Criativas, contando com uma equipa de profissionais de áreas diversas, desde a arquitetura à gestão, passando pela engenharia, “mas também com pessoas com o 'know-how' da área da calçada portuguesa e da indústria exportadora”.
O projeto, cujos primeiros protótipos tinham sido realizados logo de início mas que, à data, não conseguiu parcerias, sobressaiu, então, entre as 430 candidaturas ao concurso, chegando aos 10 finalistas. Atualmente, a equipa da CALX, que engloba, além de José Eduardo e Nídia, outros três elementos, está a afinar os últimos os pormenores necessários antes da comercialização.
“Estamos a finalizar, nomeadamente, questões relacionadas com a otimização do processo produtivo e a realização de testes físico-mecânicos, de forma a obter uma ficha técnica do produto”, explica Nídia, acrescentando que, “nessa altura, o produto estará pronto para o mercado”, algo que, esperam os mentores, deverá ser possível “ainda no primeiro trimestre deste ano”.
Uma alternativa mais fácil e económica
Mas, afinal, quais são as vantagens de utilizar placas de calçada portuguesa em vez de aplicar a calçada convencional? Segundo Nídia, são diversas. Desde logo, “como são placas 'standard' prontas a aplicar, permitem suprimir a deslocação de matéria-prima, mão-de-obra especializada, nomeadamente calceteiros, e também de máquinas e utensílios para o local da obra”, esclarece.
Além da facilidade de aplicação, o processo é também bastante rápido “e o facto de se alcançar uma espessura reduzida relativamente à calçada tradicional, permite tornar o produto mais económico, mais leve e mais fácil de ser transportado”, adianta a jovem de 26 anos ao Boas Notícias.
Outro dos benefícios da alternativa é, precisamente, o custo: o preço de um metro quadrado de placa será, em média, 30 euros, “um preço reduzido quando comparado com a calçada tradicional portuguesa polida, utilizada normalmente em espaços interiores, que ronda os 50 euros”.
Com o projeto, os mentores da CALX ambicionam também ajudar a dinamizar esta indústria. Com efeito, as placas “vão ser integralmente produzidas numa unidade fabril no concelho de Porto de Mós, num raio de proximidade de cerca de 10 quilómetros da matéria-prima, calceteiros, serviços de corte e acabamento”, entre outros.
O objetivo, salienta Nídia, “é contribuir para a revitalização deste sector e para o desenvolvimento sustentável do concelho” pertencente ao distrito de Leiria e que tem, atualmente, cerca de 6.000 habitantes.
Produzir em Portugal para depois exportar
Cientes de que o mercado nacional do sector da construção civil “e, consequentemente, a calçada portuguesa, atravessam um período de crise”, os responsáveis da CALX anteveem a nível interno, “algum movimento em obras de reabilitação urbana, espaços comerciais e espaços habitacionais”.
É no mercado externo que reside, porém, a maior potencialidade das placas de calçada portuguesa, cuja produção vai lançar sempre o olhar à exportação. “O mercado externo é um mercado em expansão na área da construção, em particular nos países emergentes, nos países de língua oficial portuguesa, nos mercados nórdicos, entre outros, pelo que é mais apetecível”, justifica Nídia.
O processo produtivo da CALX foi já submetido a um pedido de patente/modelo de utilidade e, neste momento, o projeto é finalista do concurso “Arrisca-C”, tendo sido também selecionado pelos concursos BES Realize o Seu Sonho e InovPortugal.
Ao longo deste ano, a meta passará por continuar a angariar dinheiro para financiar a produção destas placas. “Vamos continuar a concorrer a concursos de planos de negócios de forma a tentar conseguir alcançar premios financeiros e outros que nos permitam concretizar o projeto”, conclui a jovem.