Um grupo de investigadores brasileiros está a estudar, em laboratório, plantas transgénicas capazes de resistir a longos períodos de seca. O objetivo é encontrar uma resposta para as crescentes preocupações motivadas pelas alterações climáticas.
Um grupo de investigadores brasileiros está a estudar, em laboratório, plantas transgénicas capazes de resistir a longos períodos de seca. O objetivo é encontrar uma resposta para as crescentes preocupações motivadas pelas alterações climáticas.
Em declarações à Lusa, um dos investigadores, Eduardo Romano, explicou que o projeto começou a partir da pesquisa do genoma da planta do café. “Nesse estudo, que contou com mais de 100 investigadores, identificámos os 30 mil genes do café e, a partir daí, cada grupo passou a pesquisar uma caraterística específica”, contou, acrescentando que o seu grupo ficou incumbido de estudar os genes associados à resistência à seca.
Depois de identificado o gene responsável, os cientistas isolaram-no e testaram-no numa planta-modelo, a Arabidopsis thaliana, uma espécie idêntica à mostarda. “As plantas que receberam o gene sobreviveram 40 dias sem água, enquanto as que não o receberam morreram após 15 dias sem água”, revelou o investigador, integrado na equipa científica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola (Embrapa), que está a desenvolver o projeto.
Uma vez que os resultados obtidos nas primeiras experiências foram animadores, a equipa vai agora testar a descoberta em cinco culturas comerciais, entre as quais as dos principais produtos de exportação brasileira: cana-de-açúcar, soja, arroz, trigo e algodão.
Plantas não deverão causar alergias
Segundo Eduardo Romano, o gene especial já foi administrado a exemplares dessas cinco espécies, que estão atualmente a ser observadas em laboratório. Após o nascimento das primeiras plantas transgénicas, as sementes serão novamente testadas em laboratório para, posteriormente, a partir de uma seleção das melhores amostras, se dar início aos testes no terreno.
“Acreditamos que num ano e meio já teremos os resultados da experiência em todas as culturas”, avança o investigador, que desvendou que, a par dos estudos de viabilidade do gene da resistência à seca, a equipa está igualmente a realizar testes toxicológicos para garantir que os produtos resultantes das culturas transgénicas serão seguros para consumo.
Eduardo Romano garantiu que já foi possível comprovar que as variedades geneticamente modificadas em estudo não serão propensas a causar alergias. “Ao longo do desenvolvimento do produto vamos fazendo vários testes. Por exemplo, já vimos que essa proteína não é propensa a causar alergia”, afirmou, esclarecendo que a conclusão foi retirada por meio de comparação com um banco de dados da Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO).
Atualmente a seca é um dos maiores problemas da agricultura em todo o mundo tendo levado até, há pouco tempo, a que a FAO dirigisse aos EUA um pedido oficial no sentido de abandonar temporariamente a sua produção de biocombustível a partir do milho, cujas culturas estão muito ameaçadas.