Três biólogos portugueses, doutorados da Universidade de Cardiff (Reino Unido), foram convidados a publicar, na plataforma Nature Education Knowledge, uma recensão sobre a utilização de análises não invasivas de ADN aplicadas à conservação de primatas. Esta publicação insere-se num projeto da revista Nature que é uma das revistas mais prestigiadas do mundo na área da investigação da natureza.
Os três investigadores estiveram um ano na Guiné-Bissau onde estudaram e aplicaram com sucesso estas técnicas a populações selvagens de macacos colobus, babuínos e chimpanzés, através da análise não invasiva de ADN que consiste na examinação de fezes, urina, cabelos e outros vestígios orgânicos.
Os dados resultantes da análise destes resíduos pode ir muito além do que o público em geral pode pensar, permitindo aos investigadores perceber, entre outros dados importantes, até que ponto aquela população de primatas selvagens (indivíduos habitualmente difíceis de identificar e acompanhar de perto) está protegida ou ameaçada.
Uma das investigadoras, Tânia Minhós, explicou ao Boas Notícias que esta análise permite, por exemplo, “calcular os níveis de diversidade genética e o grau de consanguinidade” que revelam aos cientistas “quão ‘saudável’ é determinada população, uma vez que quanto menor a diversidade genética e maior a consanguinidade mais ameaçada está a população”.
A bióloga esclarece ainda que a partir do ADN se pode “perceber taxas de migração e deduzir o quanto a população está ou não isolada de outras, já que, se a taxa de migração for muito baixa significa que a população está a ficar isolada”.
Por fim, esta análise não invasiva permite “calcular o tamanho da população, no momento presente e no passado, e assim perceber se aquela comunidade está em decréscimo ou em expansão”.
A publicação deste trabalho na plataforma Nature Education Knowledge insere-se num projeto da revista Nature que visa a criação de um suporte de estudo online de livre acesso para estudantes universitários, abrangendo as mais diversas áreas de conhecimento.
O convite para escrever sobre o tema “A genética como ferramenta da conservação de primatas” foi dirigido, inicialmente, ao orientador de doutoramento dos três investigadores – o professor Mike Bruford, da Universidade de Cardiff – que imediatamente propôs à equipa de portugueses a colaboração na escrita do artigo.
Primatas selvagens da Guiné-Bissau seriamente ameaçados
Os dados dos estudos desta equipa indicam que as populações de chimpanzés, babuínos e colobus da Guiné-Bissau se “encontram seriamente ameaçadas pela destruição das florestas e pela caça ilegal”, contam os investigadores ao Boas Notícias.
Assim, a equipa identificou as áreas prioritárias em termos de conservação e forneceu pistas com diferentes soluções para cada espécie. Estes resultados vão, em breve, ser divulgados noutras revistas científicas.
As fontes de ADN não invasivo começaram a ser usadas em alternativa às fontes invasivas (como os tecidos ou o sangue de animais) desde que, nos anos 80, os cientistas descobriram que a raiz de um cabelo humano continha Informação genética suficiente para ser usada na reação de PCR (Polymerase Chain Reaction), que permite gerar milhões de cópias de ADN a partir de uma simples molécula.
A equipa de investigadores que redigiu o artigo, sob orientação de Mike Bruford, é composta pelos especialistas em genética da conservação Tânia Minhós, Rui Sá e Joana Silva (na foto acima). A investigação na Guiné Bissau contou ainda com a colaboração do Projecto Dári, liderado pelas investigadoras Cláudia Sousa, da Universidade Nova de Lisboa, e Catarina Casanova da Universidade Técnica de Lisboa.
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