[Por Madalena Lobo, Psicóloga Clínica]
Por isso, qualquer psicoterapeuta experiente sabe que aquilo que lhe compete é provocar movimento, seja qual for o processo pelo qual opte, a abordagem teórica que subscreva e as características do cliente específico ou a sua configuração sintomatológica. Movimento! Sem ele não há mudança…
No entanto, saio do consultório e defronto-me com uma dose tão massiva de negativismo que se transforma num apelo à letargia e inação, ainda que bem-intencionadamente vestida da famigerada responsabilidade de informação, mas ainda assim, e sempre por vias indirectas, a constituir-se sinal de que mais vale nada fazermos, além de nos angustiarmos com o mau que temos e o pior que teremos.
Diz-nos o bom-senso que, se não gostamos do “sítio” onde estamos, o melhor é mudar. Pode ficar pior? Claro. Mas, por outro lado, temos 100% de certeza de não gostarmos do “sítio” onde estamos, certo? E também podemos melhorar. Por isso, melhor faremos se nos movimentarmos em direção a algo de diferente. E como comunidade? O mesmo, parece-me.
Se me deixo bombardear com os elevados decibéis do negativismo polarizado que nos envolve a todos, estou certa de que a mensagem subliminar de “Não há nada que eu possa fazer” se irá entranhando, tolhendo-me os movimentos, deixando-me no mesmo sítio.
Estacionamento de longa duração. Somemo-nos a todos e temos um largo conjunto de pessoas que deixa de acreditar que é possível inovar, reconstruir, apostar na diferença, abandonar velhas fórmulas de sucesso que entretanto passaram de validade, encontrar pequenas frestas por onde consigamos escapar para um sítio com mais luz.
Movimento. Mudança. Adaptação.
Estamos todos a precisar de ser acometidos por bicho-carpinteiro: uma irrequietude que nos obrigue a um movimento incessante de tentativas (quaisquer), de nos mexermos (não interessa como), sem medo de falhar (porque o fracasso colectivo já o conhecemos), na direção da mudança (uma qualquer). Despirmo-nos de tudo o que julgávamos ser certo e seguro, arredar o medo e a angústia para o lado, não nos vá tolher o passo, inovar no olhar com que encaramos os desafios e confiar que chegaremos a um lado que poderemos apelidar de sucesso.
Por uns minutos que seja, pense no que poderá fazer de diferente em relação àquilo que habitualmente faz – não importa que seja apenas uma ação modesta, sem honras de primeira página! O que importa mesmo é experimentar novos moldes que o possam impulsionar – quem sabe? – num sentido que lhe resulte melhor do que a realidade com que lida diariamente. Se não resultar, não faz mal; aprendeu uma forma que não funciona, o que o deixa mais perto de encontrar uma outra que funcione.
Pratique o desapego, abrindo mão, sem nostalgia, de tudo o que já não lhe sirva como estratégia de vida, e de velhas rotinas que lhe assentem com o conforto de uma pantufa, mas que, também, lhe possam atrasam o passo, em vez de o motivarem a palmilhar caminhos desconhecidos, entusiasmantes, e pontuados por soluções que desconhecia.
Movimento. Mudança. Adaptação. Se não podemos mudar a vida à nossa volta, podemos, pelo menos, trocar-lhe as voltas e, com isso, reconquistar alguma da qualidade de vida que parece andar tão arredia.
[Madalena Lobo é Diretora Geral da Oficina de Psicologia. Para saber mais sobre este projeto visite www.oficinadepsicologia.com ou http://www.facebook.com/oficinadepsicologia]