Embora ainda seja um protótipo, este veículo autónomo, desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, traz consigo a assistência à condução com a perceção automática de situações de risco.
Não é novo o interesse do Laboratório de Automação e Robótica (LAR) do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro (UA) pela condução autónoma e foi a paixão por esta área, que já vem da década de 90, que levou à criação do Atlascar, o carro sem condutor português.
por CATARINA FERREIRA
Embora ainda seja um protótipo, este veículo autónomo traz consigo a assistência à condução com a perceção automática de situações de risco, uma grande vantagem face aos carros convencionais.
A aposta dos investigadores da UA neste método inovador de condução de veículos consolidou-se em 2003, com o desenvolvimento do primeiro robô do projeto ATLAS. Apenas três anos depois, a equipa aveirense conquistou o título de Campeã Nacional na prova de Condução Autónoma, estatuto que manteve ininterruptamente até 2011.
Com o reconhecimento veio a necessidade de “procurar um estágio superior do desafio e assim surgiu a ideia do Atlascar, um veículo à escala real com capacidades de condução autónoma”, conta Vítor Santos, professor da UA e coordenador do projeto, em entrevista ao Boas Notícias.
De acordo com o responsável, este é um “veículo normal – até já um pouco antigo – que foi modificado de forma a permitir a sua condução por meio de computadores”. Graças a estas alterações, é possível que alguém o conduza remotamente, isto é, a partir do exterior, ou que um computador lhe dê ordens de condução e faça funcionar os pedais e o volante.
Além disso, outros indícios de que este não é um carro comum saltam à vista, nomeadamente a presença de um conjunto de sensores como câmaras, radares e laser que permitem aos computadores internos aperceber-se do meio ambiente, conhecendo a estrada e identificando a existência de peões e de outros carros ao seu redor.
É o facto de estar dotado com estes equipamentos que faz do Atlascar um veículo especial, colocando-o em vantagem face aos automóveis tradicionais. “Os carros convencionais, em especial os mais modernos, contam já com muitos tipos de ajuda, como o GPS, mas falta-lhes a verdadeira autonomia”, salienta Vítor Santos.
Tecnologia permite prever comportamento de peões e veículos
Esta autonomia relaciona-se, por exemplo, com a previsão “do comportamento de peões e outros veículos”, que os levem a agir “em conformidade” ou a capacidade “de procurar um lugar de estacionamento e estacionar de forma independente”, abandonando-o depois sem intervenção humana.
Embora possa parecer uma realidade distante – até porque o Atlascar deverá continuar a ser um protótipo durante muito tempo -, a verdade é que, se colocadas em prática, estas capacidades poderão ser muito úteis para facilitar a vida dos condutores.
Vítor Santos sublinha que, “antes de mais, o Atlascar é um laboratório móvel para recolha de dados de experiências de condução e navegação”. Porém, um sistema semelhante ofereceria a quem conduz “uma espécie de co-piloto que deteta os perigos atempadamente”.
“Um exemplo é o de prever o comportamento de peões que ainda não estão na estrada, ou na passadeira, mas que se dirigem para lá. Outro exemplo é o apoio da condução em situações atmosféricas muito exigentes para um ser humano”, enumera o investigador, acrescentando que um veículo desta natureza pode também “monitorizar a condução e, um dia, impedir até um condutor de continuar em caso de condução arriscada”.
O projeto Atlascar conta com recursos provenientes de diversas origens, desde fundos de receitas próprias a algum financiamento interno da Universidade, passando por aproveitamento de equipamentos e apoios de empresas externas.
Até agora, atendendo apenas a equipamentos e serviços associados – e excluindo a mão de obra – o custo do desenvolvimento deste veículo é de cerca de 50 mil euros. No entanto, explica Vítor Santos, “este valor é irrisório face ao que está envolvido e será muito difícil alguém conseguir o mesmo estágio de desenvolvimento sem pelo menos o dobro ou o triplo desta soma”.
Propósito final do projeto é reduzir acidentes rodoviários
Por enquanto, o Atlascar continuará a servir, sobretudo, para efetuar estudos e investigação nas áreas da segurança e da condução autónoma. Ainda assim, os desenvolvimentos continuam e Vítor Santos levanta a ponta do véu, admitindo que “alguns desafios estão planeados”.
“Entre o que queremos experimentar está a execução de um troço em autoestrada em completa autonomia e algumas manobras complexas em ambiente urbano”, revela.
As metas da equipa ATLAS a curto-prazo incluem também a participação numa competição internacional de condução a autónoma, a ELROB, que exigirá a angariação de “apoios e patrocínios” que estão a ser procurados.
Sem desviar o olhar destas ambições, Vítor Santos faz questão de frisar que o propósito final do projeto é, mais do que qualquer outra coisa, “reduzir os acidentes rodoviários e as suas nefastas consequências”, por meio do “desenvolvimento de sistemas que aumentem a segurança e o apoio à condução”, melhorando a comodidade dos condutores.
Clique AQUI para aceder ao site do projeto ATLAS.
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