por Patrícia Maia
Se pedirmos a uma pessoa com lesões na área do cérebro responsável pelas emoções para escolher um prato num restaurante, essa pessoa será incapaz de tomar uma decisão. Foi esta experiência que, nos anos 90, colocou a atenção internacional sobre o trabalho do neurocientista português António Damásio.
Também o italiano Gionvanni Frazzetto se inspirou, em parte, no trabalho de António Damásio para escrever este livro. “Qualquer pessoa que estude as emoções tem de conhecer o trabalho de Damásio. Até ele chegar, os investigadores não estavam interessados nas emoções, achavam que não eram assim tão importantes. Mas ele estabeleceu essa ligação incontornável entre a razão e a emoção”, conta o neurocientista, cofundador da European Neurocience & Society Network, ao Boas Notícias.
No livro que acaba de editar em Portugal, o autor demonstra, com base em exemplos da sua própria vida, que as “emoções são muito mais poderosas do que a nossa racionalidade”. “Acreditamos que tomamos decisão de acordo com o nosso lado racional mas, de facto, são as emoções que decidem por nós”, salienta.
O objetivo, diz Giovanni, é mostrar aos leitores “de que forma funciona o nosso cérebro em certas situações e incentivá-los a observarem as suas emoções porque isso ajuda a crescer e a mudar para melhor”.
Cultivar o prazer e a alegria
Em cada capítulo, o livro oferece dados científicos que são ilustrados com situações reais do dia-a-dia. Giovanni organizou a informação por secções dedicadas a várias emoções, desde a raiva ao amor. Todas elas fundamentais no nosso processo de aprendizagem: “Eu digo sempre que não há emoções boas nem emoções más, estes sentimentos, se estivermos atentos, servem para nos conduzir”.
Por outro lado, sublinha, não nos devemos subjugar a sentimentos como a ansiedade ou o medo: “É mais fácil dizer do que fazer mas é possível aprender a ultrapassar emoções que condicionam de forma negativa o nosso comportamento”.
“A experiência demonstra que se procurarmos de forma ativa fazermos coisas que nos dão prazer e alegria – seja ouvir música, passear ao pé do mar, fazer meditação ou estar com amigos – o nosso cérebro reage e as suas ligações tomam um caminho alternativo”, diz o autor, salvaguardando que, no caso de doenças psiquiátricas graves, o tratamento exige terapêuticas diferentes.
No livro, Giovanni dá o exemplo do seu amigo Robert, um banqueiro que trabalhava para um importante banco norte-americano. No dia 01 de Dezembro de 2008, quando as bolsas mundiais entraram em queda, Robert pediu ajuda a Giovanni – estava tão ansioso que não conseguia dormir. “Resolver a crise financeira? Mas tu é que és o banqueiro”, disse o neurocientista. “Não, ajudar-me a lidar com a ansiedade”, foi a resposta que ouviu.
Partilhar: receita contra o medo e ansiedade
Giovanni acabou por se encontrar nessa noite com Robert para tomarem um copo e partilharem as suas preocupações. “Foi o melhor que fizemos, falar e partilhar é um dos melhores remédios contra a ansiedade e o medo”, garante Giovanni.
Um dos capítulos do livro é dedicado à culpa, uma emoção que “todos sentimos por variadas razões, por coisas sérias ou coisas banais”. “Como todas as outras emoções, a culpa não é, necessariamente, um sentimento mau. Precisamos da culpa. Sem ela repetiríamos eternamente os mesmos erros. Por exemplo, no caso extremo dos psicopatas, a culpa não funciona como sistema de alerta”, explica, salientando, mais uma vez, a necessidade de observarmos as nossas emoções.
Para o autor, esta aprendizagem pode evitar que estas emoções negativas se agravem dando origem a estados depressivos: “Não devemos evitar os problemas mas sim crescer com eles para podermos ultrapassá-los. Ao evitar estamos a fugir da aprendizagem”.
É o caso de quem recorre ao álcool ou às drogas: “Algumas pessoas usam esses recursos para ‘fecharem os olhos’ anestesiando as emoções negativas mas não resolvem o problema. Com este comportamento não ‘apagam’ apenas essas emoções mas as outras também, além de perderem a vontade de partilhar e a coragem para enfrentarem os desafios”.
Observando as nossas emoções, o neurocientista defende, neste seu primeiro livro, que é possível alcançar um “equilíbrio holístico” entre o cérebro, o corpo e o comportamento. “E assim poderemos “compreendermo-nos melhor a nós próprios e aos outros”, conclui.