por Gisela Gomes
Quando chegou a Portugal, Mizette trabalhou, em Lisboa, como diretora de agências de modelos e esteve ligada à publicidade e à produção audiovisual durante mais de 10 anos.
Mizette Nielsen chegou a Monsaraz em 1976, depois do 25 de abril. A publicidade “já não estava a dar” e a holandesa sentiu a necessidade de sair da capital, explica ao Boas Notícias.
Na altura, já fazia parte da primeira cooperativa têxtil de mulheres através da qual investigou a área de Monsaraz e a fábrica que viria a adquirir, descobrindo que os antigos donos tinham quase que abandonado o espaço.
Mizette tornou-se assim proprietária da última fábrica na Península Ibérica que ainda usa designs dos tempos dos mouros, um facto reconhecido recentemente pelo governo da Turquia.
Por outro lado, apostou nestas técnicas porque considera que “não se podia perder todo este conhecimento”, salienta Mizette num sotaque que mistura sons alentejanos com pronúncia holandesa.
Dar a volta por cima
Logo nos primeiros anos, a equipa mudou de espaço e levou os teares para antigo lagar de azeite da fábrica, capaz de dar teto a cerca de 50 trabalhadores. Nessa altura, cerca de “90% da produção era exportada” para o estrangeiro.
Nos anos 80, quando Portugal entrou na União Europeia, a fábrica ressentiu-se. Com a globalização emergente chegam os tecidos mais baratos do oriente e perdeu-se o interesse nas produções locais com bases tradicionais.
As mantas deram lugar a tapetes, a revestimentos de sofás e almofadas, a tudo o que for possível criar com mãos humanas. A fábrica já produziu, até, forros para o interior de botas, tendo também muitas encomendas para decoração de hotéis.
Entretanto o trabalho de Mizette continua a espalhar-se pelo mundo, sobretudo “de boca em boca”. A maior parte dos clientes são “arquitetos e hotéis que pedem trabalhos únicos e exclusivos".
Há vários clientes portugueses, como a Herdade do Esporão ou a Casa Mãe Lagos, mas muitas encomendas vêm do estrangeiro, de países como a Bélgica, França, Espanha, Colombia ou Suíça.
Dentro dos clientes mais habituais, Mizette tem quatro nos EUA e um no Japão: Kenzo Takada, designer de produtos de luxo na área da roupa, cosmética e objetos para a casa.
Quanto ao futuro, não há limites no horizonte. Mizette garante que a fábrica está com “mil projetos” em mãos pelo que a tradição teceleira de Reguengos de Monsaraz vai continuar a deixar a sua marca dentro e fora do país.