Trata-se de uma taça de porcelana com imagens que constituem uma espécie de manual de práticas sexuais, à semelhança de outras obras da época na filosofia do Kamasutra. Os investigadores já contactaram especialistas de outros países e ainda não encontraram registo de peça semelhante. Só se encontram peças semelhantes dos finais do século XIX.
O investigador Mário Varela Gomes explica que aquela “é uma peça única no mundo”, porque da época são conhecidas porcelanas chinesas com motivos eróticos, mas sem sexo explícito.
“Esta peça ultrapassa tudo o que se conhece da época, já tem conteúdos pornográficos” explica à agência Lusa o investigador em Arqueologia da Universidade Nova de Lisboa.
Mário Varela Gomes – que conduziu a investigação em conjunto com Rosa Varela Gomes – avança uma explicação para esta descoberta nas ruínas de um convento em Lisboa: “Terá sido uma encomenda única feita por um nobre português abastado e o facto de se encontrar num convento, pode ter sido uma forma de manter a peça escondida, já que era muito perigoso, na época, com a inquisição, estar na posse de uma obra daquelas”.
Na época era comum encontrar-se peças baseadas na ideia do Kamasutra, ou nos livros das noivas, em que eram demonstradas posições para a prática do sexo, a diferença é que “nunca se encontrava sexo explícito”.
“O convento seria o melhor sítio para se esconder uma peça daquelas, que pode ter sido uma herança de família, alguém que trouxe da China secretamente”, explica o investigador.
Maior convento de Lisboa
Em que contexto aquela porcelana foi parar a uma vala de detritos não se sabe. Sabe-se que na sequência do terramoto de 1755 o convento ruiu parcialmente, entrando em declínio a partir daí. Ainda foram feitas reconstruções, no reinado de D. Maria I, até à extinção das Ordens Religiosas, em 1834.
Nas escavações feitas no antigo Convento de Santana, que era o maior convento de Lisboa e onde chegaram a viver cerca de 300 pessoas, em 1702, das quais 130 religiosas, foi encontrado um vastíssimo espólio que permite aos investigadores reconstituir aspetos relacionados com a vida e a morte naquela instituição.
As escavações arqueológicas tiveram início em 2002 e terminaram em 2010, no local onde estão a ser construídos equipamentos da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova, o mesmo espaço onde existia o edifício do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, ao Campo Santana.