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APOPO: Ratos-heróis que salvam vidas

Ratos e ratazanas são, provavelmente, os roedores mais odiados do mundo. No entanto, desde 2004, estes animais têm sido verdadeiros heróis no combate às minas terrestres. Só em Moçambique, os ratos da organização APOPO já ajudaram a destruir mais de
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Ratos e ratazanas são, provavelmente, os roedores mais odiados do mundo. No entanto, desde 2004, estes animais têm sido verdadeiros heróis no combate às minas terrestres. Só em Moçambique, os ratos da organização APOPO já ajudaram a destruir mais de 1.800 minas tendo devolvido 440 hectares de terra à população.

Todos os dias, cerca de 45 pessoas morrem ou ficam feridas por pisarem minas. Em África, onde há 21 países africanos identificados com minas, estas armas escondidas matam, ferem ou provocam deficiência em mais de 12.000 pessoas por ano. O objetivo da organização não-governamental (ONG) APOPO é mudar esta realidade, utilizando ratos para identificar minas, salvando vidas e devolvendo as terras às populações.

Tudo começou com um sonho do engenheiro belga Bart Weetjens, que sempre se interessou por roedores. Depois de, em jovem, ter tido como animais de estimação inúmeras espécies de ratos, entre eles os amistosos hamsters, Bart descobriu, anos mais tarde, através de um artigo numa revista de ciência, que estes animais são muito eficientes a farejar explosivos.

“Comecei a pensar em ajudar estes países [com minas] criando um método mais eficaz e mais barato e percebi que, com os ratos, conseguia fazer o mesmo trabalho de forma mais económica do que com os cães – tanto em termos de treino como de alimentação – e mais rápida do que os peritos humanos”, explica o fundador da APOPO ao Boas Notícias. Bart desenvolveu então uma técnica de treino que compensa os ratos com alimentos, como bananas, por cada mina encontrada.

O método provou ser altamente eficaz. Enquanto um humano especializado, recorrendo a detetores de metais, demora um dia para analisar apenas 50m2 de terreno minado, os HeroRats, como foram batizados, demoram apenas meia hora para analisar 100m2. E desenganem-se aqueles que pensam que os animais correm risco de vida: estes ratos pesam no máximo 2.8 quilos, o que lhes permite passar sobre os engenhos sem os ativar.

Com o apoio financeiro do governo belga, Bart Weetjens iniciou, em 1998, uma investigação para dar início a uma luta sem tréguas contra uma das mais pesadas heranças do pós-guerra. Assim nasceu a APOPO que, só em Moçambique, já libertou 4.4 milhões de metros quadrados para a população.

Ratos-gigantes-africanos são os mais “profissionais”

Depois de vários testes, Bart acabou por escolher um tipo específico de ratos para a tarefa de desminagem: o rato-gigante-africano, que chega a medir 90 cm da cauda ao focinho. “Este roedor apresenta várias vantagens porque é endémico da África subsariana, é resistente a várias doenças e tem uma esperança de vida bastante longa o que dá um bom retorno em termos de investimento”.

Bart sublinha ainda que a ideia generalizada de que os ratos são “maus”, “perigosos” e “sujos” é errada. “Na realidade os ratos são animais muito sociáveis e limpos e são muito sensíveis ao cheiro o que os torna altamente eficazes neste trabalho”, explica.

Depois de vários anos a treinar e a criar esta espécie de ratos, a APOPO começou os primeiros testes no terreno, movendo a sua sede para a Tanzânia. O reconhecimento internacional surgiu no ano 2004 com a certificação da International Mine Action Standards e da Geneva International Centre for Humanitarian Demining. A primeira missão oficial arrancou, no mesmo ano, na província de Gaza, Moçambique. 

Com esta missão, a APOPO transformou centenas de hectares em solo seguro devolvendo esse terreno à população que ali encontra acesso a água, pode fazer agricultura e criação de gado. “Graças ao trabalho da APOPO e de outras organizações empenhadas na desminagem, Moçambique irá alcançar o ambicionado estatuto de país livre de minas em 2014”, salienta Bart.

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HeroRats identificam tuberculose

Mais recentemente, a APOPO tem estado a desenvolver outras competências nestes animais, como a capacidade de identificar a bactéria da tuberculose. Em cerca de dez minutos, um HeroRat consegue avaliar cerca de 40 amostras pelo faro, o equivalente a dois dias de trabalho de laboratório de um especialista.

O conceito é simples: os ratos cheiram uma série de orifícios com amostras de muco humano e identificam as amostras que contêm a bactéria da tuberculose escavando o orifício. “Para obter resultados mais fiáveis utilizamos dois, três ou até quatro ratos”, explica Bart. As amostras identificadas são, depois, confirmadas através de microscopias e de outros testes mais rigorosos como a Polimerase Chain Reaction (PCR).

“Este trabalho e importantíssimo porque o diagnóstico desta doença continua muito difícil e todos os anos morrem milhares de pessoas que poderiam ter sido salvas, se tivessem sido diagnosticadas e tratadas a tempo”, salienta Bart.

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Próximo desafio: Angola

Tanto na área das minas como na identificação da tuberculose, o sucesso e o crescimento da organização tem sido exponencial. Neste momento, a APOPO emprega mais de 200 profissionais nos países onde opera – 125 dos quais em Moçambique – e tem 300 ratos em diversos estágios de formação: criação, treino e trabalho no terreno.

Além de Moçambique, a organização trabalha também, desde 2011, na Tailândia onde já identificou e destruiu mais de 1.800 minas. A próxima etapa é Angola “onde há muitos quilómetros de terreno com minas”. “Vai ser um grande desafio”, admite Bart.

Em território angolano, onde já começou a trabalhar em parceria com a organização Norwegian People’s Aid, a APOPO pretende implementar uma megaoperação. Enquanto em Moçambique foram aplicados, no terreno, cerca de 50 ratos, em Angola a equipa de HeroRats poderá ser ampliada para mais de 80 roedores. 

Mas o desafio não fica por aqui. A APOPO tem ainda muito trabalho pela frente, sobretudo tendo em conta que, de acordo com a organização International Campaign to Ban Landmines, existem cerca de 55 milhões de minas e outros armamentos enterrados no solo de mais de 84 países. Além disso, todos os anos são enterradas cerca de 40.000 novas minas em zonas de conflito.

Embora conte com apoios governamentais e de outras entidades como as Nações Unidas, a APOPO precisa de ajuda para crescer. Mesmo à distância, qualquer pessoa pode contribuir adotando um HeroRat. No site da organização poderá ver as fotos e os perfis dos ratos que estão disponíveis para adoção e – por apenas 5 euros por mês ou 60 euros por ano – dar assim um contributo para ajudar os HeroRats a salvar (ainda mais) vidas.

Clique AQUI para visitar o site da APOPO e AQUI para adotar um HeroRat.

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