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Anabela Santos: Gestora Second Love Portugal e Brasil

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Nascido na Holanda, o Second Love está em Portugal há sete anos, mas também tem utilizadores em Espanha, Bélgica, Dinamarca, Brasil, Chile, Argentina, México e um site específico nos Estados Unidos para os hispânicos.

Seja um simples jogo de sedução, seja para efetivar uma relação extraconjugal, o Second Love tem cada vez mais adeptos no nosso país e a equipa da i9 magazine foi falar com a sua gestora em território nacional – Anabela Santos.

O que torna tão especial e diferente a plataforma Second Love de outras aplicações e sites de encontros online?

A nossa plataforma é direcionada para pessoas que estão num relacionamento ou casadas e que estão à procura de algo mais. Por outro lado, a forma séria como encaramos o negócio em si, por exemplo, quando as pessoas se inscrevem nós lemos os seus perfis e suspendemos quando achamos que não se identificam com as pessoas que queremos ter no site, portanto, tiramos as pessoas que não são credíveis para o site e acho que é toda a maneira como fazemos a gestão do mesmo. Ter cuidado com os textos, por exemplo, depende de país para país: em Portugal não deixamos que se escreva muito sobre a palavra “sexo” e alteramos os textos. É importante ter estes pequenos cuidados, é como plantar uma plantinha e ir regando, é assim que vamos fazendo a gestão do site.

O perfil de cada utilizador é muito filtrado e acompanhado?

Até onde podemos. Claro que temos acesso ao IP, etc…, mas quando se inscrevem, não temos aquele problema que houve com outros sites com pessoas da Nigéria, entre outros, porque bloqueamos logo. Temos uma série de filtros até chegar ao perfil, claro que depois nós não conseguimos ter 100% de fiabilidade e veracidade da pessoa porque não estamos a vê-lo, não estamos a pedir o Cartão de Cidadão, mas tomamos muitas precauções.

Qual o perfil ideal e mais habitual de um utilizador do Second Love?

São pessoas entre os 35 e 55 anos, maioritariamente homens. As mulheres são só 25% da nossa plataforma. Estes valores vão-se alterando um pouco ao longo dos anos.

Em abril fizemos sete anos (em Portugal) e neste momento temos 260 mil usuários ativos no Second Love. No início tivemos alguns problemas porque tínhamos muito poucas mulheres, agora já temos um número mais confortável, 25%, porque se considerarmos que só as pessoas que pagam assinatura conseguem enviar mensagens às mulheres, fica ela por ela.

A plataforma foi alvo de um estudo académico sobre sociosexualidade, isto é, a disposição pessoal para ter sexo casual sem ligação afetiva, liderado por David Rodrigues. O investigador do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa concluiu que os homens estão mais predispostos para tal do que as mulheres. No entanto, a infidelidade sexual pode ser um caso de compromisso ou falta dele, em que medida?

As conclusões foram exatamente essas – metade não sente a falta de compromisso e a outra tem a tal predisposição. Acho que isso acontece pela mistura dos dois fatores e também pela educação que temos na nossa sociedade.

Há um estudo do psiquiatra David Barash [The Mith of Monogamy – O Mito da Monogamia], no qual refere que o homem não é monogâmico. O homem tornou-se monogâmico por razões sociais, por causa da prole, dos herdeiros. O homem tem um instinto animal que tentamos refrear. O autor refere que o “amor é um sentimento fabricado”, mas ao mesmo tempo não se consegue explicar e por causa disso levou à normalização da sociedade e aos relacionamentos. Às pessoas, e tendencialmente os homens, é-lhes permitido ter casos, mas já é feio as mulheres terem casos. Ainda estamos numa sociedade muito machista, de acordo com os estudos. E tal continua porque fizemos há uns anos atrás sobre o que leva as mulheres a ir para o site e 80% delas dizia que queria atenção. Não vão para trair ninguém, vão para se sentirem desejadas porque o homem, depois de um dia de trabalho, chega a casa e esquece-se de dizer “que bonita estás”, “cortaste o cabelo”. Vivemos numa sociedade muito complicada, em que o tempo é escasso, mas as pessoas têm que ter qualidade de vida e atender a esses pormenores.

Mas a traição não é exclusivamente masculina. O que leva homens e mulheres a inscreverem-se neste site?

Os homens basicamente querem sexo. As mulheres, em última analise também procuram o sexo, mas é mais o sentirem-se desejadas, fazerem aquele “flirt”, sentirem aquela “borboleta no estômago”. É um tema muito complicado e controverso para analisarmos. No site somos extremamente abertos, ou seja, cada um é livre de fazer o que quiser. O que é ser-se feliz? O que está certo e o que está errado? Quem somos nós para o estarmos a dizer?

 Numa outra pesquisa, da Universidade de Chapman, nos Estados Unidos, David Frederick inquiriu mais de 64 mil americanos em idade adulta e confirmou que os homens heterossexuais ficam mais perturbados que as mulheres heterossexuais no caso de infidelidade sexual. Com inquéritos semelhantes aos utilizadores do Second Love, verificaram que esta realidade não acontecia apenas em solo americano. O que se passa em Portugal?

Essa realidade também é portuguesa. Lá está a questão da parte do machismo em que tudo é permitido para eles mas para as mulheres não. E quando são postos com a realidade efetiva, porque isto existe, se existe nos homens, existe nas mulheres, eles não reagem da melhor forma. Acham que é de todo impossível e que a pessoa do lado de lá é sempre um anjo, as outras é que são mal formadas.

 Quais as cidades portuguesas com mais utilizadores registados?

Lisboa, Porto, Setúbal e Aveiro, mas a grande maioria é da região de Lisboa.

O que diria a alguém que acusasse o Second Love pelo fim de um casamento ou de uma relação estável?

Acho que isso não existe. A pessoa quando vai para o Second Love é porque não está verdadeiramente num compromisso portanto, acho que devia analisar melhor a interação entre os dois antes. É muito fácil: as pessoas tendem sempre a culpabilizar alguém, ou o governo ou o tempo, e esquecem-se que isto vem de nós e o relacionamento é difícil. A pessoa tem que construir o relacionamento, e depois há pessoas que dentro do relacionamento não são monogâmicas, acreditam num relacionamento aberto e fazem a gestão disso. Têm que dizer à pessoa para repensar a sua vida.

Estamos a aproximar-nos da época do verão… A procura pelo site e por novas interações aumenta neste período?

Aumenta. Temos picos a seguir à passagem de ano, ao Dia dos Namorados e no verão. No verão temos sempre muitas inscrições. Acho que é altura em que as pessoas vão de férias e ficam mais propensas e têm mais tempo para estar com outras pessoas.

Segundo Noel Biderman, criador do site Ashley Madison, “a internet é o lugar mais seguro do mundo para trair”. Concorda com esta afirmação?

Para ele não foi [referindo-se ao escândalo que afetou mundialmente o site de relações extraconjugais, Ashley Madison, durante o qual um grupo hacker publicou dados bancários e endereços de e-mail de cerca de 40 milhões de clientes da plataforma].

Mas concordo, se a pessoa tiver cuidado concordo. Por exemplo, antigamente as pessoas conheciam-se através de amigos, em discotecas, restaurantes, em festas. Hoje em dia, com esta vida super ocupada, com as crianças, etc… não temos como conhecer outras pessoas sem ser aquelas pessoas do círculo de amigos e a internet pôs à nossa disposição o mundo, podemos conhecer pessoas de todo o mundo. Aliás, há uma brincadeira que costumo dizer: antigamente quando íamos de férias tirávamos fotografias e depois fazíamos um jantar temático para mostrar as fotografias. Hoje em dia as pessoas já estão na praia, nas férias, e já estão a postar no Facebook fotografias, portanto isto evoluiu de tal maneira que a internet é a nossa vida. Já não conseguimos fazer nada sem internet, estamos sempre conectados. Agora as pessoas têm que ver se é seguro tomar determinadas precauções, tal como criar um e-mail especifico só para estes sites, não dar o seu e-mail pessoal, não fornecer os seus dados.

Vejo muito, principalmente lá fora, não tanto em Portugal, que na primeira mensagem de abordagem dão logo os contactos pessoais. Isso não me parece bem de todo e aconselhamos a não fazerem isso. Primeiro, têm que tentar conhecer, um pouco que seja. Ver o Português, se a pessoa der muitos erros dá para ver que vai ao Google Translator… Há uma série de passos que é preciso para termos segurança e depois aquelas pessoas que são mentirosas compulsivas e convém estar ali a testar essa pessoa, ver se diz sempre o mesmo discurso para despistar a possibilidade de virmos a ser magoados no nosso idílio romântico.

Que tipo de procedimentos/mecanismos possuem para assegurar a privacidade dos dados dos utilizadores, respeitando as novas regras europeias da proteção de dados pessoais na internet (que têm de ser implementadas sem exceção a partir de maio do ano que vem)?

Temos um grande cuidado com esse tema. Temos servidores em diversas partes do mundo e uma equipa que se dedica 24h a essa parte. Muito poucas pessoas têm acesso aos dados, posso dizer que em Portugal, apenas eu tenho acesso a todos os dados. Mas não facultamos, não vendemos, não cedemos os dados, nada. Não fazemos negócio com isso, o nosso core business é ganhar dinheiro com a assinatura dos homens, não é vender os dados pessoais deles. Isto é extremamente importante porque hoje vemos que muitas empresas vendem tudo, se calhar estamos a perder um bocado um negócio, mas o mais importante para nós é ganhar menos, mas de forma segura. E com isto temos sete anos, nunca tivemos qualquer problema ao contrário de outros sites, nomeadamente esse que referiu. Não temos operadoras, a Ashley tem, faz parte dos termos e condições. Temos pessoas que de livre e espontânea vontade decidiram inscreverem-se no site e isso é ouro, os nossos clientes são o nosso tesouro, portanto temos que preservá-lo.

Assim como outras plataformas, sendo um serviço pago, podemos dizer que a tecnologia veio destruir o amor e transformou-o num negócio altamente rentável?

Sempre foi tudo de negócio. Geralmente não entro nesse campo porque é tudo negócio. As pessoas precisam de sobreviver e há negócios de tudo. A tecnologia veio ajudar as pessoas a conhecerem-se tanto e tão pouco ao mesmo tempo porque há pessoas que depois não aproveitam esta oportunidade de ter uma “range” [variedade] tão grande de pessoas interessantes para serem conhecidas.

Já tiveram histórias de utilizadores que encontraram (de novo) o amor noutras relações que não as que tinham inicialmente, ou mesmo de utilizadores que não estão previamente comprometidos?

Não temos como saber isso porque não lemos as conversas que os utilizadores têm entre eles, não temos ideia. Em casos muito raros dizem-nos depois terem conhecido alguém. Geralmente dizem: conheci alguém, aproveitei, muito obrigada. Agora casos de ficarem juntos é uma coisa raríssima. Penso que aconteceu uma vez no Brasil porque recebemos um e-mail sobre isso, mas é uma coisa muito rara. As pessoas quando vão para o Second Love não querem deixar o seu casamento, por isso é que vão para o Second Love. É muito difícil encontrarem alguém, exceto se existem algumas pessoas divorciadas e solteiras que, por uma série de motivos da vida delas, vão para o site porque não se querem envolver emocionalmente com ninguém e procuram exatamente pessoas comprometidas.

Como gestora do Second Love Portugal e Brasil, há diferenças muito significativas entre países?

Existem muitas. No Brasil, sendo um país enorme, temos 560 mil usuários, cerca de 35% mulheres e o restante homens. Eles e elas são muito mais abertos, é um povo mais aberto, embora também se torne interessante ver que depois, no dia-a-dia, não são tão liberais como aparentam ser no site. Portanto o Brasil é um país cheio de dicotomias. Vivi lá oito anos e conheço bem a realidade. As pessoas quando estão atrás do computador mudam e escrevem coisas e pensamentos que possivelmente cara a cara não diriam. Mas sim, são muito mais abertos que nós.

O que será necessário fazer em Portugal para termos então uma maior abertura?

Tem que ver com a cultura e a socialização. Pessoalmente, quando lançámos o Second Love em Portugal fiquei surpresa com os resultados, não imaginámos que ia ser um sucesso e estamos aqui após sete anos. Portugal é um país muito católico é muito conservador, mas noto que, ao fim destes anos, estamos muito mais abertos, felizmente!

Temos menos preconceitos, estamos mais abertos e isso é extremamente importante para tudo na vida, para não julgarmos a pessoa que está ao nosso lado porque não sabemos as motivações das pessoas.

Breves perguntas de resposta rápida:

Inovar é…

Imaginar.

Virtudes de um gestor de recursos humanos

Não fazer pré-julgamentos, não ser preconceituoso.

Lema de vida

Viver o hoje, ser feliz e deixar levar.

App favorita

A minha faixa etária está muito viciada no Facebook, mas a minha aplicação favorita é o Second Love, além desta uso muito o Skype para trabalhar.

Hobbies

Neste momento o hobby é cuidar dos filhos.

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