Os portugueses continuam a precisar de 2,19 planetas para manter o seu atual estilo de vida, segundos os dados publicados na edição deste ano do Relatório Planeta Vivo (RPV). Os dados apresentados neste relatório referem-se ao ano de 2014, altura em que a Pegada Ecológica* dos portugueses diminuiu, uma possível consequência da crise económica que atingiu Portugal nestes anos.
A Pegada Ecológica per capita de Portugal posiciona o país no 66º lugar a nível mundial, subindo 7 posições face a 2016 e demonstrando o impacto que a crise teve no consumo dos portugueses. Paralelamente, o relatório demonstra que a Pegada Ecológica dos portugueses foi sempre muito elevada comparativamente com a Biocapacidade** do país, que se tem mantido mais ou menos constante desde 1961. O carbono, que representa 57% da Pegada Ecológica dos portugueses, e que em 2004 correspondia a 63% do valor total, foi a componente que mais decresceu. A isto está naturalmente associado o consumo, mas também a alteração das fontes de produção de energia nacional, fruto da aposta nas energias renováveis.
Ângela Morgado, Diretora Executiva da Associação Natureza Portugal, que trabalha em associação com a WWF, explicou que “a ligeira descida da pegada ecológica dos portugueses foi reflexo da crise económica, que criou uma oportunidade para os portugueses terem comportamentos mais amigos do ambiente. Agora é necessário continuar com um estilo de vida que tem menor impacto no Planeta fora de situações de crise. Os portugueses têm de ter um estilo de vida mais sustentável sob pena de se verem afetados não por uma crise económica, mas por uma crise ecológica sem precedentes que põe em risco a sua vida, a dos seus filhos e netos. Está na altura de mudar. Já não podemos adiar.”
Vinte anos após o relatório principal ter sido publicado pela primeira vez, a edição de 2018 continua a usar os indicadores Índice do Planeta Vivo (IPL), fornecido pela Zoological Society of London (ZSL), os Índice de Habitats da Espécie (IHE), o Índice da Lista Vermelha da IUCN (RLI) e Índice de Intensidade da Biodiversidade (BII), bem como Fronteiras Planetárias e a Pegada Ecológica (calculada pela Global Footprint Network). O relatório mostra um quadro perturbador: a atividade humana está a empurrar os ecossistemas que sustentam a vida na Terra a um limite.
“O relatório está a mostrar-nos a dura realidade, que as nossas florestas, oceanos e rios estão em risco. Isto é um indicador do tremendo impacto e pressão que estamos a exercer sobre o planeta, minando o tecido vivo que nos sustenta a todos: natureza e biodiversidade”, disse Marco Lambertini, Diretor General da WWF Internacional.
O IPL, que acompanha as tendências da abundância global de vida selvagem, indica que as populações globais de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram em média 60% entre 1970 e 2014. As principais ameaças às espécies estão diretamente ligadas às atividades humanas, incluindo perda e degradação de habitats e sobre exploração da vida selvagem.
“Dos rios e florestas, a zonas costeiras e montanhas, o Relatório mostra que a vida selvagem diminuiu drasticamente desde 1970. As estatísticas são assustadoras, pois dependemos da natureza para nos alimentarmos, vestirmos e subsistirmos. Precisamos de criar um novo caminho que nos permita coexistir de forma sustentável com a natureza da qual dependemos. Vamos precisar da ação de todos”, reiterou Ângela Morgado.
Pressão da humanidade está a minar a capacidade da natureza de apoiar a vida humana
Ao destacar a extensão do impacto da atividade humana na natureza, o Relatório Planeta Vivo 2018 apresenta ainda a importância e valor da natureza para a saúde e o bem-estar das pessoas, sociedades e economias. Globalmente, a natureza fornece serviços no valor de 125 triliões de dólares por ano, além de ajudar a garantir o fornecimento de ar fresco, água potável, alimentos, energia, medicamentos e outros produtos e materiais.
O relatório analisa especificamente a importância dos polinizadores, que são responsáveis por 235 a 577 mil milhões de dólares em produção agrícola por ano, e como um clima em mudança, práticas agrícolas intensivas, espécies invasoras e doenças emergentes têm impactado a sua abundância, diversidade e saúde.
“A natureza tem sustentado e alimentado silenciosamente as nossas sociedades e economias há séculos, e continua a fazê-lo hoje. Em troca, o mundo continuou a considerar a natureza e os seus serviços como algo natural, deixando de agir contra a perda acelerada da natureza. É hora de percebermos que um futuro saudável e sustentável para todos só é possível num planeta onde a natureza prospera e florestas, oceanos e rios estão cheios de biodiversidade e vida”, acrescentou Lambertini. “Precisamos repensar com urgência como usamos e valorizamos a natureza – culturalmente, economicamente e nas nossas agendas políticas. Precisamos pensar na natureza como bela e inspiradora, mas também como indispensável. Nós – e o planeta – precisamos de um novo acordo global agora”.
O Relatório Planeta Vivo 2018 destaca a oportunidade que a comunidade global tem de proteger e restaurar a natureza até 2020, um ano crítico em que os líderes devem rever o progresso alcançado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, no Acordo de Paris e na Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB).
A WWF está a apelar às pessoas, empresas e governos para mobilizar e entregar um acordo abrangente para a natureza e as pessoas sob a CDB, que galvaniza ações públicas e privadas para proteger e restaurar a biodiversidade e a natureza global e reverter a curva das tendências devastadoras destacadas no Relatório Planeta Vivo.
O Relatório Planeta Vivo 2018 é a décima segunda edição da principal publicação bienal da WWF. O relatório inclui as descobertas mais recentes medidas pelo Índice do Planeta Vivo que acompanham 16.704 populações de 4.005 espécies de vertebrados, de 1970 a 2014.