Há uma nova raça de cavalos em Portugal. O Pónei da Terceira acaba de ser reconhecido como raça autóctone, após 14 anos de recuperação de um cavalo que esteve em vias de extinção. O mérito é de uma equipa da Universidade dos Açores liderada por Artur
As dimensões enquadram-se na classificação dos póneis já que medem cerca de 1m30 de altura e de comprimento. No entanto, o que torna esta raça especial é que o Pónei da Terceira “tem características morfológicas semelhantes às de um cavalo”, conta ao Boas Notícias o bio tecnólogo Artur Machado (na foto ao lado), do Centro de Biotecnologia dos Açores, que impulsionou o registo da nova raça.
Foi graças às suas memórias de infância que Artur Machado decidiu investigar a origem desta nova raça portuguesa. “O meu tio-avô oferecia sempre um ‘Cavalinho da Terceira’, como se dizia na altura, a todas as crianças da família. Eu também tive direito ao meu. Era uma égua que batizámos de ‘Espanhola’. Foi com ela que aprendi a fazer equitação…”, recorda Artur Machado.
Espécie esteve ameaçada com apenas 100 exemplares
Depois de ter vivido algum tempo fora do arquipélago, o investigador regressou aos Açores e decidiu, há cerca de 14 anos, ir à procura destes cavalos que marcaram a sua infância: “Tive dificuldade em encontrar exemplares e percebi que estavam ameaçados”.
Segundo um levantamento feito por Artur Machado, nessa altura existiam apenas cerca de 100 ‘Cavalinhos da Terceira’. Agora, graças ao esforço da equipa do Centro de Biotecnologia dos Açores, já existem perto de 200.
Quando percebeu a raridade deste tipo de cavalo, o Artur Machado decidiu avançar com a investigação que acaba de confirmar a existência de uma nova espécie de cavalo em Portugal. Durante estes últimos 14 anos, o investigador estudou a população através dos dados biométricos das medidas morfológicas e da caracterização molecular da raça através da leitura do ADN.
A informação foi depois comparada com outras 60 raças e a equipa de investigação verificou que “esta era uma população que se diferencia das outras”. Os resultados desta longa investigação foram, agora, validados pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGV).
Ou seja, Portugal tem oficialmente uma quarta raça de cavalos – para além das raças lusitano, garrano e sorraia. A recém-criada Associação de Criadores e Amigos do Pónei da Terceira está responsável por “fazer a gestão do livro genológico do pónei”.
Antepassado do Pónei da Terceira tem 600 anos
Artur Machado explica que o pónei – que pertence ao grupo dos cavalos peninsulares – terá chegado ao arquipélago na altura dos Descobrimentos, há cerca de 600 anos, e surgiu graças a um longo processo de seleção: “Na altura, as pessoas escolhiam cavalos mais pequenos para transportar nos barcos”. Aliás, acrescenta o investigador, “os primos mais próximos do pónei da Terceira encontram-se na América do Sul, justamente por causa do mesmo fenómeno que ocorreu durante a colonização”.
O investigador afirma que o cavalo terá existido noutras ilhas açorianas, como em São Miguel, mas acabou por se afirmar na Terceira onde as distâncias eram mais pequenas pelo que o pónei cumpria, eficazmente, duas funções: auxiliar a nível agrícola e transportar cargas e pessoas.
Artur Machado conclui salientando que, neste momento, a prioridade é tornar este animal sustentável, para que a raça não volte a ficar ameaçada. “Este cavalo é excelente para todo o tipo de desporto equestre, da atrelagem às provas de obstáculos, e queremos apostar nisso para promover a sua criação”, remata o investigador.
Artigo sugerido por Maria Manuela Mendes