“O nosso planeta gira em torno do Sol. Sabes disso não sabes?”, replica David, seu irmão mais velho, enquanto faz girar com a mão um pequeno globo terrestre em cima da mesa. “Sim, dá uma volta completa ao Sol durante um ano”, responde Joana. “Um ano terrestre” corrige o irmão, olhos presos no globo a girar. “Mais ou menos 365 dias e 6 horas. E cada dia é o tempo que a Terra demora a dar uma volta em torno de si mesma, do seu eixo”.
“O eixo é a linha que passa pelo pólo Norte e polo Sul?”, pergunta Joana aproximando o seu olhar ao globo que David segura entre as mãos.
“Podemos considerar que sim. Mas é melhor dizer que é uma linha imaginária, perpendicular ao plano do equador do planeta, que une cada um dos pólos geográficos e que passa pelo centro da Terra”.
“E sabes que mais?”, prossegue David, “como podes ver, neste globo terrestre aqui à nossa frente, o eixo da Terra está inclinado em relação ao plano descrito pela orbita em redor do Sol. Ou seja, há um ângulo de 23,45° entre o plano equatorial e o plano orbital. É a obliquidade do nosso planeta!”
A curiosidade de Joana desperta cada vez mais: “Giramos inclinados ao redor do Sol?”. “Sim”, confirma David, “e é por isso que a incidência dos raios solares sobre um dado ponto na superfície da Terra, que não no equador, é diferente ao longo do ano! Aliás, quanto maior for a distância em relação ao equador, maior será a inclinação com que os raios do sol incidem sobre a superfície e maior as diferenças no aquecimento ao longo do ano.”
“É essa uma razão para a existência de estações diferentes?”. “Sim, e as estações serão tanto mais diferentes entre si quanto mais longe do equador estivermos.” Explica David. “E, quanto maior for a inclinação do eixo maior a diferença nas estações ao longo do ano”.
“O quê? A inclinação da Terra pode variar?” admira-se a irmã, inclinando-se de surpresa. “Sim. Há evidências geológicas e climatéricas que indicam que esta inclinação terá variado ao longo da vida do planeta Terra”. Diz David oscilando o eixo do globo que tem nas mãos. “Aliás, há quem diga que o eixo da Terra terá variado um pouco aquando do grande terramoto no Japão.” Joana colocou o dedo indicador no globo sobre o Japão e David simulou o desvio na inclinação.
“Sabes que mais, Joana, todos os planetas que possuem obliquidade possuem estações climáticas ao longo da sua translação em redor da sua estrela. No nosso caso o Sol.” “Há primavera em Marte?”, explode o espanto no rosto de Joana.
“Sim. A obliquidade marciana é de 25,2°.” Informa David, ao consultar uma tabela. “Mas como a sua orbita elíptica em torno do Sol é mais excêntrica do que a da Terra, os invernos no hemisfério sul marciano são mais longos e frios do que os terrestres, enquanto que os do hemisfério norte são mais curtos e mais quentes. Aliás, as primaveras marcianas no hemisfério norte duram cerca de 194 dias e são 51 dias mais longas do que os Outonos.”
“194 dias de primavera marciana?” pergunta Joana desconfiada.
“Sim, Joana. Lembra-te que o ano marciano é o dobro do terrestre. Marte está mais longe do Sol. E é também por isso que, mesmo no verão, as temperaturas são negativas. Na primavera marciana não nascem flores, mas sublimam-se calotes de dióxido de carbono glaciar nos pólos. É um espectáculo de sublimação carbónica!”, acrescenta David.
Joana tira o globo terrestre das mãos do David e exclama, olhando-o entre as suas mãos primaveris: “Que lindo é o nosso planeta azul!”