Assim, foram identificadas 4486 cervejarias artesanais na Europa e 4483 na América do Norte, sendo os EUA, o Reino Unido e a França os países com mais cervejarias artesanais do mundo. Itália, Rússia, Canadá, Suíça, Alemanha, Brasil e Japão completam a lista de dez nações com mais cervejarias.
Portugal ainda está longe dos lugares cimeiros desta lista, com 77 cervejarias identificadas. No entanto, são cada vez mais os apreciadores, consumidores e produtores de cervejas artesanais no nosso país. Apesar de ainda ser considerado produto de nicho, a verdade é que vão surgindo novos admiradores que procuram uma cerveja distinta, com aromas e sabores mais intensos do que as tradicionais cervejas industriais, de consumo massificado.
Sendo uma tendência assumida mundialmente, importa frisar o que diferencia um produtor artesanal de cerveja. De acordo com a Brewers Association (dos EUA), uma cerveja artesanal tem de ser produzida por pequenos produtores (com um fabrico anual de seis milhões de litros de cerveja, ou menos); tem de ser independente dos grandes grupos cervejeiros e utilizar métodos mais tradicionais (o uso de maltes nobres, como a cevada, trigo e centeio, em vez de milho ou arroz) e processos mais inovadores.
Em 2014, seguindo est
es parâmetros, Bruno Carrilho e Nuno Melo decidem trocar os seus fatos e gravatas por um projeto de cerveja artesanal. Após um ano de recrutamento global, durante o qual realizaram “várias entrevistas por Skype em horários exóticos, ficam entusiasmados com o Nick [Rosich]”. A dupla revela ainda que “o viking parte com -20º de Pittsburgh e aterra em Lisboa com +15ºc. O choque térmico confunde-o mas convence-o”.
Formada a equipa com o Master Brewing do Siebel Institute (Chicago), e atual Head Brewer na Pennsylvania Brewery, nasce a Musa Cerveja Independente. Se neste momento está a pensar “está-me mesmo a apetecer beber uma cerveja”, então a Musa é para si porque é feita por pessoas que pensam “está-me mesmo a apetecer fazer uma cerveja”.
Além da sua independência, a Musa também pretende promover a democratização da cerveja artesanal, estando mais perto de todas as pessoas. É por isso que, no espaço onde lançaram as três primeiras cervejas Musa em março, na zona de Marvila, vão ter a sua fábrica (para o final do ano) com área de produção, venda e tap room, dando oportunidade para os clientes experimentarem os vários tipos de cerveja que, até à data, tiverem produzido. O local, escolhido a dedo pela sua ligação às indústrias criativas e independentes, também poderá acolher concertos de bandas fora da vertente mainstream. E a ligação à música não acontece por mero acaso – certamente que é uma das musas inspiradoras da Musa, ou não fossem os três nomes das primeiras cervejas da marca – Mick Lager, Red Zeppelin Ale e Born In The IPA – autênticas referências a ícones do rock: Mick Jager, Led Zeppelin, e Bruce Springsteen.
A primeira tem uma cor alaranjada, com notas de malte tostado, a segunda tem uma tonalidade mais avermelhada e deixa um sabor ligeiramente seco e amargo. A terceira cerveja é de sabor amargo, com notas complexas de citrinos (toranja), manga e melão.
A Passarola Brewing também segue princípios de irreverência, aliás, a Passarola não é mais uma cervejaria artesanal, mas sim um dirigível que, em 1709, Bartolomeu de Gusmão terá apresentado a D. João V.
O seu portefólio habitual de cervejas inclui uma IPA, ao estilo American Indian Pale Ale, usando quatro lúpulos (conservante natural responsável pelo amargo da cerveja) americanos diferentes; uma Double Oatmeal Stout, que tem o dobro de aroma, corpo e álcool de uma stout de aveia, e uma Amber Rye Ale – cerveja suave, de fácil consumo.
No entanto, a Passarola lança com regularidade outras cervejas sazonais ou em parceria com outras cervejeiras artesanais.
Recentemente lançaram em colaboração com a Oitava Colina uma American Strong Ale e meses antes tinham divulgado uma nova IPA – a Chindogu – e a gama Pique-nique, com três novas cervejas. Em novembro do ano passado a Blind Date IPA, em julho a Honey
I’m Home (em parceira com a cerveja Espanhola Yria) e em maio do mesmo ano a Alcateia (com a cervejeira Mean Sardine como forma de angariação de fundos para proteger o Lobo Ibérico).
Em janeiro deste ano a Passarola Brewing foi considerada pelos utilizadores do RateBeer a Best New Brewer In Portugal (Melhor Nova Cervejeira em Portugal).
Com um pouco mais de experiência, a cerveja Letra surgiu em 2013 como “a cerveja artesanal minhota”. Filipe Macieira e Francisco Pereira defendem que “quantas mais marcas houver, melhor a qualidade e maior o impacto que o cliente final tem sobre o setor das cervejas artesanais. Este setor está na fase de angariação de consumidores: 99% da população gosta de cerveja artesanal mas ainda não sabe, pois não teve oportunidade de a provar. Quantos mais produtores houver, maior a probabilidade do consumidor final provar localmente, e aí irá perceber a diferença e vai tornar-se cliente”.
Com um “abecedário” de cervejas de “A” a “F”, decidiram apostar num espaço próprio onde produzem as “letras” e onde as dão a provar aos clientes – a Letraria. Este brewpub foi desenhado para, de uma forma bastante interativa, explicar como se produz a cerveja artesanal Letra – com visitas à fábrica – e dá-la a conhecer em combinação com pratos e produtos locais. Além da Letraria, localizada em Vila Verde, o projeto Letra conta mais de 500 pontos de venda selecionados em todo o país.
Também a Super Bock convida os consumidores e os fãs da marca a serem “mestres cervejeiros por um dia” na sua Casa da Cerveja. Aqui é possível assistir ao processo de fabrico da cerveja, conhecer as matérias-primas que lhe dão origem, assim como as histórias, curiosidades e os momentos marcantes da cerveja Super Bock. Com visitas de 90 minutos, este espaço, dinâmico e interativo, afirma-se como um novo ponto de atração turística da cidade do Porto para os amantes de cerveja, seja ela artesanal ou mais industrial.
// www.superbockcasadacerveja.pt