Contudo, talvez sejamos poucos a saber o que há de comum entre todos estes exemplos! Na verdade, em algum momento, entre a sua criação ou desenvolvimento, cada uma destas empresas cruzou-se (e ainda se cruza) na Startup Lisboa.
Trata-se de uma associação privada, sem fins lucrativos, estabelecida em 2011. A Câmara Municipal de Lisboa procurou responder ao apelo dos munícipes que votaram neste ideia no âmbito do Orçamento Participativo, e criou uma parceria com o Montepio e o IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação.
Após a reabilitação de um edifício na Rua da Prata, em plena baixa pombalina, a Startup Lisboa começou a operar em fevereiro de 2012. Três anos depois, no verão de 2015, inaugurou um segundo edifício, na mesma rua. A necessidade de ampliação das suas instalações atesta o poder e sucesso que a Startup Lisboa tem tido ao longo dos seus quatros anos de existência. Um dinamismo que, ao apoiar o desenvolvimento de start-ups incubadas nos seus espaços, passa não só pela cedência de áreas de trabalho a preços reduzidos, mas também pela importante rede de mentores que se concentram no local. Pelas parcerias que facilita entre investidores de capitais de risco, empreendedores e business angels, bem como pelas várias iniciativas que promove. Falamos de sessões de networking e mentoring, workshops, comunicação e partilha de conhecimento entre todos os que por aqui passam e/ou já passaram!
Miguel Fontes, Diretor da Startup Lisboa, faz um balanço muito positivo do trabalho que tem sido feito pela organização que “hoje é unanimemente reconhecida como uma referência no ecossistema empreendedor em Portugal. De tal maneira que, recentemente, o Primeiro-ministro disse que queria que a dinâmica que a Startup Lisboa foi capaz de gerar na cidade de Lisboa fosse, de alguma forma, inspiradora e replicada um pouco por todo o país”.
O responsável reconhece que esta vontade de colocar a capital portuguesa (e Portugal) nos radares internacionais, atraindo cada vez mais start-ups de todo o mundo, resulta de duas condições. Em primeiro, Lisboa (e o país) possui “recursos humanos altamente qualificados, de áreas mais ligadas à tecnologia e que as start-ups mais necessitam – engenheiros, programadores – mas também da gestão, do marketing, marketing digital, design de produto. Depois, Lisboa tem uma proposta de valor muito interessante. Oferece excelentes condições para quem queira viver cá. É uma cidade cosmopolita, com boa oferta cultural, bem estruturada e que beneficia de uma posição soalheira no sul da Europa onde é muito agradável viver e tudo isto com valores muito mais apetecíveis do que aqueles que encontramos noutras geografias, como outras capitais europeias”. Em segundo, “há um esforço que, não só a Startup Lisboa, mas também outras entidades, têm feito para dar a conhecer, nos mais diferentes fóruns internacionais, todas as oportunidade que temos para trazer gente de fora para saber o que está a acontecer em Portugal. Por outro lado, há algumas start-ups que atingiram níveis de sucesso e reconhecimento que geram curiosidade, tornando-se nos melhores embaixadores deste ecossistema”.
No entanto, “não é apenas o facto de Lisboa ser tão especial que torna a Startup Lisboa tão diferenciadora. Isso seria retirar o mérito do trabalho que aqui foi feito e que continua a ser feito de forma cada vez mais aprofundada e que implica a dinamização de uma comunidade empreendedora. Todo o nosso trabalho quotidiano também concorre para isso”, acrescentou Miguel Fontes.
Além dos espaços de incubação, abertos à candidatura de qualquer interessado, a Startup Lisboa também possui a sua “CASA”. Também situada na baixa da cidade, possui todas as comodidades de uma casa – 14 quartos equipados, cozinha e casa de banho – onde os empreendedores que acabam de chegar à cidade podem ficar hospedados durante três meses.
Recentemente, esta entidade abriu um novo espaço na área pública do Aeroporto de Lisboa – o Airport Business Center (ABC) by Startup Lisboa. Aqui há lounges, auditórios, salas de reuniões e de conferências com capacidade para receber diversos tipos de eventos, como conferências, briefings, cocktails, apresentações, showrooms, lançamentos de produtos, reuniões, workshops a ações de formação.
Anunciado publicamente há pouco tempo, a Câmara Municipal de Lisboa pretende criar na zona do Beato, nas antigas instalações da Manutenção Militar, um grande hub empreendedor e criativo na cidade. Apesar de não ter sido lançado pela Startup Lisboa, a incubadora foi convidada a dinamizar este polo que, de acordo com Miguel Fontes, “será um projeto do empreendedorismo de Lisboa e do país, onde terão lugar todos os players que já têm projetos e também aqueles que têm vontade de se juntar, nomeadamente, em dinâmicas internacionais para ver crescer e fortalecer e dar robustez a este ecossistema”.
As start-ups incubadas na Startup Lisboa operam, maioritariamente, em três áreas prioritárias: tecnologia, comércio e turismo. A última, como atividade económica relevante para a cidade e para o país, destaca-se em vários projetos.
Depois de uma incursão pela Startup Sintra e Startup Braga, a homeit encontra-se incubada virtualmente na Startup Lisboa desde junho. “Não estamos lá a trabalhar, mas podemos utilizar as instalações para reuniões com clientes e investidores. E podemos utilizar todos os recursos deles. A única diferença é que o nosso local de trabalho não é lá”. A homeit propõe solucionar a inexistência de um smart lock que facilite o check-in num hostel e/ou casa a qualquer hora, abrindo, não só a porta do prédio, como a do apartamento. André Roque, um dos cofundadores, investigou o mercado e não encontrando esse equipamento, decidiu avançar com o seu desenvolvimento e criação.
André explica melhor o seu funcionamento: “o kit homeit box abre todas as portas, independentemente da fechadura. A grande inovação é o facto de um turista poder aceder a qualquer casa da rede homeit com o seu próprio código único sem fricção e de uma forma bastante livre e segura. É possível abrir portas através de app, sms ou teclado”.
Para além do sistema de controlo de acessos, a homeit também engloba uma rede de casas em que cada proprietário ou gestor poderá pedir serviços para a casa ou encomendas de uma forma rápida, cómoda e segura.
A executar o projeto piloto em Portugal, com cerca de 20 a 30 instalações por mês, André admite que em 2017 possam avançar para Espanha e França.
A pensar também no alojamento local, a Doinn começou o seu período de incubação na Startup Lisboa no verão de 2014. Contudo, a ideia remonta a 2013, ano em que os fundadores – Nuno e Noelia – decidiram viajar com os seus filhos e optaram por espaços de alojamento local. Da experiência, Nuno constatou que “não é correto pensar que os hóspedes de alojamento local gastam menos nas suas férias ou são menos exigentes que os hóspedes de um hotel. Poupam o ano todo para gastar nestes dias e gostam de viver em apartamentos limpinhos, com boa apresentação e com uma pessoa a recebê-los cordialmente, tal como nos habituaram os hotéis”. Começaram assim a desenvolver uma plataforma simples que funcionava como um market place de serviços para alojamento local. Candidataram-se com o projeto Doinn ao Lisbon Challenge, reconhecido como o quarto melhor acelerador na Europa. Uma “experiência ótima para estabelecer contactos, validar o modelo do negócio e beneficiar de inúmeras mentorias com grandes especialistas do mundo do empreendedorismo” diz Noelia Novella, CEO da Doinn.
O site, no qual podem ser adquiridos e marcados serviços de limpeza, lavandaria, check-in, check-out e transfers, foi lançado em 2015, ano em que a start-up foi reconhecida como uma das dez empresas do setor do turismo a não perder de vista.
Lisboa, Cascais, Sintra e Porto já dispõem dos serviços Doinn. Paris é a cidade que se segue, sendo que até ao final do ano pretendem chegar a Espanha e à Holanda.
Apesar de ter sido fundada com recurso a capitais próprios, a Doinn recebeu em maio investimento da Portugal Ventures. Noelia afirmou estarem “muito entusiasmados com a confiança que a Portugal Ventures depositou no projeto, contribuindo dessa forma para o desenvolvimento do turismo. Somos a primeira empresa do setor de alojamento local a receber um investimento da Portugal Ventures e para nós é um motivo de grande orgulho”.
Com o natural crescimento do negócio, a empresa tem-se deparado com barreiras em termos legislativos, uma vez que o enquadramento legal do alojamento local e dos serviços de housekeeping varia muito de um país para outro e, muitas das vezes, de uma cidade para outra. No entanto, as contrariedades não fazem parar a Doinn que, no primeiro semestre de 2016, registou um crescimento variável entre os 29% e os 260% por mês.
Por motivos de espaço e localização, no início deste ano mudaram-se da Startup Lisboa para a Beta-i. Mas mantêm a ligação com a sua “primeira casa”, peça essencial no desenvolvimento do projeto Doinn e que lhes possibilitou vários workshops, mentorias, reuniões (como por exemplo a Google meet-up), bem como uma divulgação e esforço de comunicação constantes.
A operar no segmento náutico, Femke e Bo, duas irmãs holandesas, lançaram a SeaBookings. Um site que comercializa atividades ligadas ao mar, desde os desportos aquáticos como surf, mergulho, parasailing, pesca, stand-up paddle, aos passeios de barco como os de observação de golfinhos, visita a grutas e passeios de barco com churrasco.
Em Lagos, onde se fixaram aos dez e oito anos de idade com os pais, sempre procuraram trabalhar durante o verão. Nessa altura, vendiam bilhetes para a observação de golfinhos. Constataram que “o processo de compra deste tipo de atividades poderia ser otimizado, tanto da perspetiva do operador, como do turista, através da digitalização da venda. Assim, surgiu a ideia da criação da plataforma que permite descobrir, comparar e reservar as melhores atividades náuticas em Portugal”.
Desta forma, a SeaBookings dá aos pequenos operadores marítimo-turísticos visibilidade online e mais um canal de venda, como ajuda os turistas a gerirem, comprarem e marcarem as atividades que mais gostam de fazer.
A dupla começou por estar ligada de forma virtual à Startup Lisboa, e indica que o maior benefício desta relação é o networking e as parcerias existentes com os media, com outros projetos e investidores. Bo revelou que “a partir do momento em que tivermos uma equipa com mais elementos, teríamos todo o gosto em voltar à incubação na Startup Lisboa e na sua vertente física”.
Em fevereiro de 2014, data de lançamento do projeto, apenas contavam com cinco operadores na zona de Lagos, agora a SeaBookings já disponibiliza mais de 150 passeios de barco e desportos aquáticos ao longo da costa portuguesa e também em Cabo Verde, o primeiro passo para a expansão global pretendida.
A Climber Hotel é uma start-up nacional que desenvolveu uma solução inteligente de gestão de preços (Revenue Management) que ajuda hotéis independentes a maximizar a receita através de tarifas dinâmicas.
Incubada na Startup Lisboa desde agosto de 2015, Mário Mouraz concorda que os “contactos com mentores e investidores, acesso a workshops, benefícios e descontos em empresas parceiras, recomendações de candidatos, convites para eventos e acesso a uma network de fundadores da Startup Lisboa” são um valor importante para a Climber. Até ao momento, a empresa funciona apenas em Portugal, mas o mercado global foi pensado desde o início do projeto. A equipa sente que as burocracias administrativas, o recrutamento de profissionais das TI e o acesso a financiamento são grandes obstáculos que travam o crescimento da empresa, contudo, terminaram com sucesso uma campanha de financiamento através de equity crowdfunding na plataforma Seedrs.
A Storytrail também esteve na Startup Lisboa, mas após a obtenção de uma Menção Honrosa no Vodafone Big Smart Cities 2014, passou para o Vodafone Power Lab.
Como a primeira plataforma de city video guides gratuitos do mundo, combina vídeos com histórias curiosas sobre as cidades. Cada destino tem mais de cinco horas de produção audiovisual. Lançada a 7 de junho, Roma foi a primeira cidade a estar disponível na plataforma. Los Angeles sairá em Agosto e Nova Iorque em Setembro, seguindo-se depois Berlim, Boston, Chicago, Lisboa, Londres, Miami, Nova Orleães, Paris, Washington D.C. e São Francisco.
Tendo obtido financiamento da Portugal Ventures, a Storytrail espera chegar aos 50.0000 utilizadores até ao final do ano. Nuno Alves, CEO, afirma ser necessário “angariar usuários para, em breve, começarem a monetizar a página através de publicidade e conteúdo desenhado por nós para marcas que se pretendam associar e publicitar na nossa plataforma”.
Independentemente da forma e conteúdo que cada projeto incubado na Startup Lisboa tem, é unânime entre estas start-ups a operar no setor do turismo que o networking facilitado pela associação às suas “incubadas” é o um dos maiores ganhos que podem ter.
Início Atividade
2011
Localização
Rua da Prata, Lisboa
Infraestruturas
2 edifícios incubação
Casa Startup Lisboa
Airport Business Center
Nº empresas incubadas
44 comércio
22 turismo
68 tech
Website
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