Se já em 2014 a Global Harvest Initiative (entidade privada focada no crescimento da produtividade em toda a cadeia de valor agrícola para satisfazer de forma sustentável a procura mundial) indicava que até 2050 o mundo podia não ser capaz de se alimentar caso não aumentasse a produção alimentar, no final do ano passado a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) vem alertar para a mesma situação.
No relatório “Estado da alimentação e agricultura” (The State of Food and Agriculture), a FAO alerta para o facto de o planeta enfrentar um duplo desafio, sem precedentes: a necessidade de erradicar a fome e a pobreza e a estabilização global do clima antes que seja tarde demais.
Para cumprir os objetivos da Agenda 2030 sobre Desenvolvimento Sustentável e do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, a comunidade internacional tem que levar a cabo uma transformação profunda dos sistemas de produção alimentar e agrícola em todo o mundo.
As mudanças terão que ser feitas de uma forma que não prejudique a capacidade dos setores agrícolas – culturas, pecuária, pesca e silvicultura – para atender à demanda global de alimentos que, em 2050, deverá aumentar em pelo menos 60%.
Com esta perspetiva, a consultora mundial de pesquisas de mercado – Mintel – lança anualmente as suas Tendências Globais de Alimentos e Bebidas. Para 2017, a entidade destacou seis previsões que se baseiam na procura atual dos consumidores por alimentos e bebidas mais saudáveis, convenientes e fiáveis.
O rápido ritmo de mudança, a imprevisibilidade dos eventos atuais tem levado os consumidores a procurarem alimentos que reconhecem e que lhe dão um sentimento de segurança. Por isso, a aposta em alimentos tradicionais e de fabrico artesanal, com algumas atualizações de formulações, sabores e formatos antigos, são uma aposta neste setor
Outra tendência prende-se com a preferência por recursos naturais, simples e flexíveis. As pessoas querem ter estilos de vida mais, optando por frutas, vegetais, grãos e os fabricantes têm reforçado cada vez mais os seus produtos com sabores e fortificações de origem vegetal. Daqui que a quota de alimentação vegetariana e vegan tenha aumentado exponencialmente.
Quase 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos produzidos para consumo humano são desperdiçados. Governos, grandes retalhistas e os próprios consumidores estão cada vez mais conscientes que é necessário eliminar o desperdício alimentar. Em França, a cadeia Intermarché foi uma das primeiras a sensibilizar a população sobre este problema. Para tal criou vários anúncios sobre frutas e legumes deformados, tal como “uma cenoura feia dá uma bela sopa”.
O facto de o tempo se ter tornado um recurso tão precioso no quotidiano das pessoas, levou a que as refeições fáceis de preparar ou prontas a consumir sejam tão procuradas como as reivindicações nutricionais.
Paralelamente, a noite é aproveitada como uma nova ocasião para a criação de alimentos e bebidas funcionais. Os consumidores procuram produtos que lhes proporcionem conforto ou relaxamento – e os fabricantes lançam assim ‘comidas noturnas’ que ajudam as pessoas a acalmarem-se antes da hora de dormir.
Com última tendência, a Mintel destaca que os alimentos e bebidas saudáveis já não são um luxo. Apesar de ainda não serem amplamente consumidos, em parte devido ao seu custo (mais elevado), a verdade é que as pessoas procuram mais itens saudáveis, incluindo os naturais, orgânicos ou livres de certos ingredientes. Contudo, os produtores têm que apresentar soluções mais acessíveis para todos os que querem melhorar a sua dieta e estilos de vida.
Em resposta a estas tendências e às necessidades suscitadas pela FAO, a Hampton Creek começou a desenvolver ingredientes à base de plantas, homólogos aos ovos. Esta empresa de tecnologia de alimentos tem a missão de criar comida deliciosa, acessível, mais saudável e sustentável para todos, em todos os lugares do mundo. A equipa de I&D explora o reino das plantas e os seus chefs internos, vencedores de Estrelas Michelin, combinam essas descobertas com os seus conhecimentos culinários para criar produtos deliciosos, acessíveis e amplamente disponíveis. A Just Mayo (maionese) é o produto mais conhecido e, desde que foi lançada, as suas vendas têm crescido dois dígitos anualmente. Mas há outros temperos, molhos e bolachas e o mais recente, o Just Scramble – um panado para sanduíches – vai ser lançado em escolas, cafetarias corporativas e instituições de saúde no final deste ano, início de 2018.
Numa perspetiva mais ecológica, uma micro cervejaria situada em Copenhaga, Dinamarca, criou uma nova técnica que transforma urina humana em cerveja. Sim, leu bem! “Pisner” é o nome da nova cerveja, mas fique calmo porque a urina é apenas usada para fertilizar a cevada usada na fabricação da cerveja. O próprio Conselho de Agricultura e Alimentação da Dinamarca lançou, pela primeira vez, a ideia como forma de incentivar um modelo de negócios mais sustentável para as cervejarias – o “beercycling”.
Henrik Vanf, chefe executivo da Nørrebro Bryghus, restaurante e cervejaria onde a “Pisner” é produzida e comercializada, sempre criou cervejas orgânicas e recicladas. Para esta nova “gama” de produto, a cervejaria recolheu em 2015, durante o Festival de Música Roskilde 50 mil litros de urina, o que dá produzir cerca de 60 mil garrafas de “Pisner”.
De Nova Iorque, a Eat Cultured (que acaba de relançar a sua marca, anteriormente conhecida como Afineur) lançou em 2015, no Kickstarter, o “Cultured Coffee”. A empresa, pioneira no uso de biotecnologia para fermentações naturais controladas, produz este café que é mais fácil de diferir, menos ácido, menos amargo e com um teor de cafeína menor que o café artesanal tradicional. Os grãos são colhidos de forma ética junto de um fornecedor local, sendo depois fermentados e tostados. Apesar de o produto estar apenas disponível nos Estados Unidos, a equipa tem interesse em estabelecer contactos com distribuidores e importadores para trazer os “grãos de café fermentados” para o mercado português.
Orgânicas; sustentáveis; ricas em fibras, minerais e vitaminas e com poucas calorias e hidratos de carbono, as algas marinhas também são um superalimento que Willem Sodderland descobriu numa viagem a Ibiza, confundindo-as com massa.
Decidiu assim que o resto do mundo experimentasse e criou a Seamore que, neste momento, produz “I Sea Pasta” (a “himanthalia elongata”, conhecida como “esparguete do mar” é 100% selvagem, apanhada à mão em Connemara, na Irlanda), e “I Sea Bacon” (o “bacon do mar”, alga marinha 100% selvagem que se transforma em bacon (verde) quando frito).
Entre produtos vegan e orgânicos, outros ecológicos e sustentáveis, que procuram acima de tudo serem saudáveis para o consumidor, há inúmeras combinações de gostos e sabores possíveis.
Estima-se que 20% de uma experiência de degustação vem do gosto, enquanto 80% provem do cheiro ou aroma. Deste modo, com base no princípio de que os alimentos combinam bem um com o outro quando compartilham o mesmo aroma-chave e que o aroma dos alimentos é tão importante como o gosto, a Foodpairing® criou um método único que ajuda a identificar
Que alimentos combinam melhor com outros.
Usando técnicas avançadas, como cromatografia gasosa, cromatografia líquida de alta eficiência e outros kits laboratoriais, a Foodpairing ajuda chefs, bartenders, mestres pasteleiros e chocolateiros, criadores de produtos e outros criativos culinários a desenvolver novas receitas.
Entre correspondências aromáticas excelentes, boas ou simples, ao usar a ferramenta Foodpairing® poderão surgir combinações alimentares improváveis, mas possíveis e muito saborosas!
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