i9magazine

Reindustrialização e política industrial

Versão para impressão

O Ocidente começa de novo a pensar na indústria pois há uma ligação entre produção industrial, desenvolvimento tecnológico, inovação e emprego qualificado.

Esse movimento começou nos EUA favorecido pela revolução energética americana do “shale gas”, que trouxe preços do gás natural e da energia eléctrica muito competitivos.

Infelizmente, a reindustrialização enfrenta grandes dificuldades na Europa e em Portugal, onde a política energética é apenas um subproduto da política ambiental irrealista e destruidora de empregos. A Europa e o Japão são os blocos económicos com preços de energia mais elevados.

Se no passado a Europa foi sujeita a uma deslocalização industrial para os países emergentes, pelo preço do factor trabalho, hoje sofre essa ameaça para os EUA, mas pelos preços da energia. Esta ameaça estende-se também à deslocalização para outros países não sujeitos às rigorosas regras da UE.

É preciso perceber que a desindustrialização europeia é uma causa determinante da sua anemia de crescimento económico. O problema europeu não é apenas o problema das dívidas soberanas dos países periféricos.

Sem indústria (e sem serviços ligados ao setor industrial), a economia perde a sua capacidade de inovação e não consegue criar empregos qualificados nem superar os choques, quaisquer que eles sejam.

O conceito de reindustrialização  desenvolveu-se  nos últimos anos nos Estados Unidos, onde depois de um processo de desindustrialização de cerca de trinta anos, se concebeu a ideia de um retorno à indústria, mas a uma indústria de novo tipo. De uma forma simplificada trata-se de uma indústria que utiliza ao máximo as tecnologias da informação, comunicação e localização (TICLs) mais avançadas e a robótica para desenhar, projetar e produzir produtos a partir da recolha das necessidades e dos gostos dos clientes, produtos em certos casos produzidos em pequenas quantidades, ou até individualmente, para serem entregues aos clientes diretamente, depois de uma encomenda personalizada e sem custos de armazenamento.
Este conceito baseia-se no facto de hoje, utilizando os sistemas digitais integrados de desenho, projeto, prototipagem, fabrico de componentes, montagens e embalagens, os produtos poderem ser planeados e executadas com um mínimo de intervenção humana. O que permite oferecer no mercado, sem aumento de custo, uma vasta gama de produtos perfeitamente adaptados a cada cliente individual.

Alguns chamam a este modelo a Indústria 4.0 ou a 4ª Revolução Industrial.

Os setores da indústria chamados tradicionais são tão passíveis de modernização tecnológica como os outros considerados mais avançados. A indústria de confecção, os setores do calçado, cerâmica, vidro, mobiliário, metalomecânica, ou quaisquer outros, são bons exemplos.

Neste contexto, o conceito de reindustrialização em Portugal não se pode confundir com a retorno à indústria do passado mas sim associada ao conceito da Nova Fábrica do Futuro baseada numa política industrial centrada em indústrias a operar em mercados internacionais abertos e concorrenciais, com empresas e instituições de I&DT de topo a nível mundial que operem num quadro de previsibilidade legislativa.

Neste contexto é importante referir o conceito da Nova Fábrica do Futuro e de empresas gazela:
– Empresas de produtos manufacturados e de serviços destinadas a criar soluções com alto valor acrescentado baseadas em:

  • Forte competências em inovação e design;
  • Forte incorporação das TICLs
  • Orientação para o cliente e para o marketing, com forte potencial de crescimento;
  • Uso de tecnologias energéticas e de materiais eficientes;
  • Capital humano criativo e qualificado, com o consequente reforço do capital social.

Em Portugal, a agricultura e a indústria representavam em meados dos anos 90 quase 30% do PIB. Hoje representam apenas 16%! Neste contexto, é imperativa uma nova Política Industrial centrada na competitividade das empresas e que desse modo possa assegurar um crescimento sustentado das exportações.

Reindustrializar não significa, pois, voltar a modelos do passado assentes na mão de obra barata mas sim aderir ao modelo da economia do conhecimento, injetando conhecimento e engenheiros nas empresas em articulação com as Universidades, os Politécnicos e o Sistema da Ciência e Tecnologia. Reindustrialização, nos nossos dias, não é apenas a manufactura mas sim a produção de todos os bens e serviços transacionáveis que conseguirmos não só exportar mas também é conseguir reduzir em mercado aberto e concorrencial as importações através da produção nacional. Reindustrialização significará pois a ênfase na realocação dos recursos para a produção de bens e serviços transacionáveis nos setores primário, secundário e de serviços com muito maior valor acrescentado nacional, integrando as tecnologias horizontais facilitadoras da competitividade (KET – “key enabling techonolgies”), avançando para clusters mais desenvolvidos e promovendo a inovação radical e incremental dos nossos produtos e processos produtivos.

CLUSTERS AND KET’S

  • A nível europeu, os clusters, definidos como concentrações de empresas e instituições interdependentes num determinado setor, assumem-se como atores fundamentais nos processos de inovação e de desenvolvimento económico.
  • Reconhecendo o valor das políticas de clusterização e, mais recentemente, a importância da interclusterização, a estratégia da Europa para os clusters (European Cluster Strategy 2014-2020) procura a  excelência na gestão de clusters, encorajando a obtenção de selos de qualidade: Bronze, Silver e Gold Labels.

Captura de ecrã 2016-03-7, às 11.35.34

  • A designação “Key Enabling Tecnologies (KETs)” compreende um conjunto de 6 tecnologias estratégicas com um impacto potencial significativo nos processos de inovação: microeletrónica e nanoeletrónica, nanotecnologia, fotónica, materiais avançados, biotecnologia industrial e tecnologias de fabrico avançadas.
  • Para o período 2014-2020 a UE assumiu como objetivo o desenvolvimento de tecnologias facilitadoras, intensivas em conhecimento e  capital e aplicáveis em vários setores, que contribuam para a resolução dos desafios societais.

“Uma parte significativa dos bens e serviços que estarão disponíveis no mercado em 2020 são ainda desconhecidos, mas a principal força motriz por trás do seu desenvolvimento será a utilização de KETs.”

Comissão Europeia (2009), “Preparing for our future: Developing a common strategy for key enabling technologies in the EU”, COM(2009) 512 final

Precisamos então de políticas do lado da oferta (“supplyside”) e de uma política industrial que melhore o ambiente de negócios e que contribua para estruturar a economia dos setores, das atividades, das tecnologias e dos serviços que oferecem melhores perspectivas para o crescimento económico e para o nosso bem estar.

A nova política industrial visará não só colmatar as falhas de mercado mas também as chamadas falhas dos sistemas no que toca à inovação, mudança tecnológica e sistemas de financiamentos, antecipando/induzindo novos mercados com elevado potencial de crescimento,

A nova política industrial para Portugal não será a de selecionar vencedores mas uma política pública que corrige os efeitos adversos das falhas de mercado e das falhas do sistema, ajudando a criar um ambiente microeconómico favorável à reindustrialização e à competitividade das empresas.

O mercado e os poderes públicos devem ser vistos como complementares trabalhando em conjunto, desenhando um sistema económico no qual governo e mercados interagem construtivamente num quadro de estrita paridade de tratamento entre as entidades públicas e privadas.

Neste contexto, como instrumento desta nova política industrial tendente a implementar este conceito de reindustrialização no nosso país, a CIP – Confederação Empresarial de Portugal propõe um Novo Programa de Desenvolvimento da Indústria e dos Bens Transacionáveis – uma espécie de PEDIP para o século XXI – com um conjunto de medidas de curto, médio e longo prazo, usando as adequadas políticas públicas (designadamente no plano da clusterização, da Investigação, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, do Financiamento, da Fiscalidade, da Energia e em geral da redução dos custos de contexto) tendo como principal fonte de financiamento os Fundos Comunitários do Programa Portugal 2020 e ainda os Programas Europeus  Horizonte 2020, Cosme  e o Connecting AdobeStock_83493480Europe Facility (CEF).

Em síntese, chamamos a atenção do governo para o seguinte: precisamos de um verdadeiro “Compromisso Nacional para a Reindustrialização e Competitividade”, única forma de criar riqueza e empregos de qualidade, sustentáveis no tempo, que reforce e diversifique a nossa oferta de bens e serviços transacionáveis.

UM NOVO PROGRAMA DE APOIO À INDÚSTRIA E AOS BENS TRANSACIONÁVEIS

O crescimento da economia portuguesa só será possível através do investimento em unidades produtivas de bens transacionáveis, o que pressupõe o acompanhamento pelo nosso país, do processo europeu de reindustrialização – um novo paradigma de produção industrial com incorporação de serviços de valor acrescentado, inovação e tecnologia – vertical e horizontal (TICLs).

Este processo de reindustrialização, que será suportado financeiramente pelo Programa Portugal 2020, deve ter em consideração alguns aspectos conceptuais e operacionais, de modo a maximizar a sua eficiência no enquadramento europeu em que se irá integrar, nomeadamente:

  • É essencial identificar, apoiar e consolidar as Empresas-Âncora de cada cluster, tradicional ou tecnológico, onde se vão concentrar os processos de experimentação, protótipos e soluções disruptivas que possam vir a ser colocadas no mercado.

É possível alterar o paradigma de pobreza e subdesenvolvimento industrial e tecnológico do nosso país.

Mas exige ética, estudo, competência e persistência, ou seja, trabalho sério e árduo

É aqui que se jogam, pois, a competitividade externa,o crescimento e o emprego. É, então, essencial e impõe-se nesta legislatura um novo programa de apoio focado nos bens e serviços transacionáveis.

O conteúdo Reindustrialização e política industrial aparece primeiro em i9 magazine.

Comentários

comentários

PUB

Live Facebook

Correio do Leitor

Mais recentes

Passatempos

Subscreva a nossa Newsletter!

Receba notícias atualizadas no seu email!
* obrigatório

Pub

Este site utiliza cookies. Ao navegar no site estará a consentir a sua utilização. Saiba mais aqui.

The cookie settings on this website are set to "allow cookies" to give you the best browsing experience possible. If you continue to use this website without changing your cookie settings or you click "Accept" below then you are consenting to this.

Close