por Patrícia Maia
Todos os anos “via as romãs de uma romãzeira, perto de casa, apodrecerem no chão”. Foi assim que a ideia de apanhar a “fruta abandonada” começou a germinar na cabeça de Adriana Freire, mentora da Cozinha Popular da Mouraria, que rapidamente juntou uma equipa interessada em contrariar este desperdício.
“A maior parte da fruta (das ruas e dos quintais de Lisboa) estraga-se porque as pessoas não têm tempo para as colher ou não têm capacidade física, às vezes apanham as que estão mais à mão mas não apanham as que dos ramos mais acima”, explica, ao Boas Notícias, Adriana Freire.
A primeira colheita aconteceu no final de Janeiro. A equipa do Muita Fruta apanhou cerca de 100 quilos de laranjas na zona da Mouraria. Além de distribuída entre os voluntários, parte da fruta foi cozinhada durante o evento “Marmelada Comunitária” e transformada em compotas.
Foi uma primeira experiência deste projeto (lançado pela Associação Cozinha Popular em parceria com o Colégio Food, Farming and Forestry (F3) da Universidade de Lisboa e a associação Locals Approach) que acaba de receber apoio financeiro do programa Bip/Zip.
Nas primeiras semanas foram identificadas cerca de 20 árvores, o que “já dá muita fruta”. Mas Adriana Freire acredita que a equipa não vai ter mãos a medir uma vez que, só na zona histórica, onde o Muita Fruta vai atuar numa primeira fase, “há centenas de árvores nos quintais, nas encostas e nas ruas”.
Plataforma digital para mapear as árvores
A ideia é fazer o mapeamento destas árvores através de um site e de uma aplicação móvel que já estão a ser desenvolvidos. “Queremos que as pessoas possam usar o telemóvel para tirar fotografias às árvores e colocá-las online”, explica Adriana.
Quem tiver árvores de fruta no seu quintal, pode chamar a equipa Muita Fruta para fazer a apanha, sendo que parte da colheita reverte para o projeto. Essa fruta será depois distribuída por famílias carenciadas, que ainda vão ser sinalizadas, e transformada em produtos gastronómicos.
Aliás, uma das prioridades é “garantir a sustentabilidade do projeto e criar emprego, desenvolvendo a marca para comercializar os produtos criados com a fruta”, conta Adriana Freire, sublinhando a importância do Cooking Lab, do F3, que “vai testar várias receitas com a fruta apanhada”.
Os workshops são mais uma das vertentes do Muita Fruta que pretende ensinar as pessoas a tratarem das suas árvores, ensinando técnicas de poda, de fertilização e de combate a pragas, entre outras.
O sonho, diz Adriana, é “transformar Lisboa num grande pomar”. Por isso, e embora numa primeira fase o Muita Fruta esteja concentrado na Mouraria e bairros adjacentes, a ideia é ampliar o projeto a toda a cidade, e também incentivar a plantação de mais árvores de fruto.
Presidente da República vai apanhar Muita Fruta
Este inovador projeto de combate ao desperdício alimentar já chamou a atenção do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa que, na próxima quarta-feira, se vai juntar à equipa de voluntários para apanhar fruta ali na zona da Mouraria.
Quem quiser saber mais sobre o Muita Fruta, pode visitar o jardim da Cerca da Graça, nos dias 11 e 12 deste mês, entre as 12h e as 17h. A equipa Muita Fruta vai integrar o programa do evento “Enamorados por Lisboa” convidando os participantes a colocarem frases de amor nas árvores daquele jardim. As frases vão depois ser partilhadas no Facebook e quem tiver mais “likes” ganha compotas Muita Fruta.
Outras novidades, como uma mega-salada de fruta comunitária, estão já programadas. Mas Adriana sabe que muitas outras ideias vão florescer já que este é um “projeto e pêras”, brinca a responsável, deixando o apelo, a quem quiser, para que se junte à equipa de voluntários que vai salvar do lixo a fruta de Lisboa.