O trabalho de um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) poderá abrir as portas a novas formas de diagnóstico e ao desenvolvimento de novas terapias de combate ao vírus Ébola que, no mais recente surto, ceifou 11 mil vidas.
O trabalho de um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) poderá abrir as portas a novas formas de diagnóstico e ao desenvolvimento de novas terapias de combate ao vírus Ébola que, no mais recente surto, ceifou 11 mil vidas.
Os especialistas em bioinformática e biologia computacional do Instituto de Engenharia Eletrónica e Informática (IEETA) e do Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática (DETI) conseguiram identificar as sequências de ADN específicas deste vírus, que permitem diferenciar as suas várias “espécies” e distinguir o surto que começou em África no início de 2014 de outros episódios da doença.
“Os nossos resultados podem ser utilizados no diagnóstico do vírus Ébola, uma vez que as sequências que identificámos permitem distinguir entre espécies e surtos do vírus”, explica, em comunicado enviado ao Boas Notícias, Raquel Silva, investigadora do IEETA e uma das autoras do estudo publicado, recentemente, na revista científica Bioinformatics.
Segundo a cientista, o trabalho “também pode ser aplicado no seu tratamento, já que [as sequências de ADN] estão localizadas em proteínas fundamentais para a replicação do vírus”, embora tenham de ser, previamente, “realizados estudos adicionais em laboratório para determinar a sua eficácia”.
A principal inovação do trabalho da UA prende-se com o método utilizado para comparar o genoma do vírus contra uma sequência de referência, neste caso, o seu hospedeiro, sem recorrer ao alinhamento das sequências.
A investigação foi desenvolvida com recurso à construção de novos métodos computacionais que permitiram descrever um genoma usando informação de outro genoma. Para isso, os cientistas portugueses não usaram amostras do vírus Ébola, mas sim as suas sequências de ADN, que estão disponíveis em bases de dados públicas, nomeadamente no National Center for Biotechnology Information.
Na sua maioria, “estes genomas correspondem ao vírus do Ébola do surto iniciado em 2014 na África Ocidental [Guiné, Libéria e Serra Leoa], mas também foram incluídas sequências provenientes de surtos anteriores e das várias espécies do Ébola”, conta Raquel Silva.
(Ainda) um longo caminho até à vacina
“Ao identificar regiões do ADN viral que não estão presentes no genoma humano, estas sequências têm potencial para serem usadas tanto no diagnóstico, como no desenvolvimento de novas terapêuticas”, esclarece Raquel Silva.
De acordo com a investigadora, “a sua especificidade para o vírus é maior, o que é uma vantagem, por exemplo, na identificação do vírus em amostras de origem humana ou no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e seguros”.
O vírus do Ébola, para o qual não há cura ou tratamento definitivos, continua a ser um mistério para os cientistas, razão pela qual a identificação de novos alvos terapêuticos “é relevante”, destaca a equipa envolvida no estudo, da qual também fazem parte os investigadores Diogo Pratas, Luísa Castro, Armando Pinho e Paulo Ferreira.
O surto recente, com mais de 27.000 casos e mais de 11.000 mortes a lamentar, foi, lembra Raquel Silva, “uma chamada de atenção para a necessidade de aumentar a investigação nesta área, e permitiu realizar ensaios clínicos no terreno com novos fármacos, que não se mostraram eficazes?.
Há, por isso, “um longo caminho entre uma descoberta científica e a sua transformação num serviço ou produto, como por exemplo, uma vacina”, finaliza a especialista.
Clique AQUI para aceder ao estudo e AQUI para conhecer o 'software' desenvolvido pela Universidade de Aveiro para o estudo deste vírus (em inglês).