FACA: Festival junta antropologia, cinema e arte

Vem aí uma festa que junta, pela primeira vez em Portugal, cinema, arte e antropologia. O evento decorre de 06 a 09 de Março e conta com várias sessões de cinema (sobretudo numa perspetiva etnográfica) e instalações sonoras.
 

A FACA – Festa de Antropologia Cinema e Arte vai decorrer em quatro espaços e está centrada em dois eixos: O FACA|Cinema traz uma selecção de filme produzidos até 2013 divide-se entre sessões na Cinemateca Portuguesa e dois espaços no Bairro Alto: a Galeria Zé dos Bois e o Arquivo 237.

 

As sessões de cinema arrancam esta quinta-feira na Galeria Zé Dos Bois, às 21h30, com duas obras que questionam a forma como a antropologia atua sobre as representações que produz sobre o “outro”. O documentário “Xupapoynãg” foi produzido por um professor e realizador indígena, do Brasil, que tem dedicado a sua vida a registar os diversos traços culturais do povo Maxakali.

A segunda obra, Western: Sahara, acompanha o processo de produção de um trailer para um filme western imaginário. Recorrendo a este género cinematográfico, um coletivo de realizadores saharaui reflecte sobre a sua cultura, história e luta contra a ocupação da sua terra por Marrocos.

Ainda na quinta-feira, depois dos filmes de abertura, a FACA prossegue com a presença do coletivo left Hand Rotation e segue-se uma festa ao som dos DJ Golpe de Estado no bar 49 (piso térreo da ZDB). 

Na Cinemateca, podemos destacar, entre muitos outros trabalhos, um retrato que a antropóloga Inês Mestre realizou sobre o centenário café bejense Luiz da Rocha. Seguindo os ritmos quotidianos deste estabelecimento, os gestos do trabalho e os hábitos dos clientes, o filme põe em evidência o trabalho manual especializado, a produção caseira e as relações de familiaridade desenvolvidas ao longo de anos.

Na mesma sessão, será exibido o filme “P’ra irem p’ró céu”, de Pedro Antunes, que documenta a prática ritualística da Encomendação das Almas no município de Proença-a-Nova, olhando a revitalização deste culto dos mortos e a produção de novos laços de sociabilidade na comunidade. Acompanham-se as mulheres-encomendadoras, em percurso sobre um chão-purgatório, de onde libertam, rezando, as almas das suas penas.

No espaço do Arquivo 237, destaque para a exibição, no sábado à tarde, de “Paisagem Carioca”, um documentário de António Pereira, que retrata a interação dos moradores das favelas pacificadas em áreas nobres da cidade com brasileiros e estrangeiros “do asfalto” que as adotaram como lar, local de trabalho ou de lazer. 

 

Ainda no 237, será exibida a obra “Alto do Minho” de Miguel Filgueiras, uma impressão que mostra as tradições e as gentes desta paisagem montanhosa onde o profano se confunde com a fé como o passado com a atualidade. Mais do que um filme, trata-se de um retrato que mexe.