O médico britânico Sam Parnia, diretor do departamento de Reanimação do Hospital da Universidade Stony Brook (Nova Iorque, Eua), garante que é possível reanimar pacientes mesmo que o seu coração tenha deixado de bater há cinco horas.
No departamento que dirige, a taxa de reanimação de pacientes em paragem cardíaca é de 33 por cento, ao passo que na maior parte dos hospitais norte-americanos a média de sobrevivência é de apenas 16 por cento.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o especialista lamentou que os hospitais ainda não apliquem as técnicas que defende e que garantem uma melhor taxa de sobrevivência.
Em declarações à BBC, o médico explica que a sua técnica assenta na aplicação mais prolongada e eficiente de técnicas de reanimação cardiopulmonar e oxigenação do sangue às quais acrescenta uma terapia de arrefecimento do corpo.
Arrefecimento do corpo previne lesões cerebrais
Segundo o médico, que editou recentemente o livro “Erasing Death” (Apagando a Morte, em português), o cérebro humano não morre assim que deixa de receber oxigénio, o que acontece é que entra num estado de hibernação para impedir a sua degradação.
Para ajudar o cérebro nesta ação protetiva, o médico sugere uma técnica que arrefece o corpo abaixo dos 32 graus Celcius, causando um fenómeno de hipotermia “que atrasa a deterioração do cérebro ” e que pode garantir recuperações impressionantes.
Até agora, os médicos acreditavam que uma pessoa que estivesse em paragem cardíaca mais do que 20 minutos, ficaria com lesões cerebrais irreparáveis, pelo que as reanimações costumam ser suspensas após este período de tempo. Mas de acordo com Sam Parnia, estes danos podem ser evitados.
O médico defende que a reanimação cardiopulmonar deve ser prolongada o máximo de tempo e deve ser aliada ao recurso a máquinas de oxigenação por membrana extra-corporal (ECMO, na sigla em inglês) que reforçam o oxigénio do sangue, em conjunto com a hipotermia provocada, para proteger o cérebro de lesões.
Mulher japonesa recuperou depois de três horas 'morta'
No seu livro, Sam Parnia refere dezenas de casos de pessoas que “ressuscitaram” várias horas depois de serem dadas como “clinicamente mortas”. Um dos exemplos citados é o de uma menina japonesa que esteve mais de três horas sem vida e que, após seis horas de técnicas de reanimação, despertou alcançando uma recuperação total.
Um outro caso recente reforça as teorias de Parnia. Em Março de 2012, o futebolista da equipa britânica Bolton Fabrice Muamba sofreu uma paragem cardíaca de 78 minutos, tendo recuperado completamente.
As experiências de “quase-morte” relatadas por pacientes um pouco por todo o mundo provam, acredita Sam Parnia, que a atividade cerebral continua após a morte clínica. O médico está agora a liderar uma investigação internacional, financiada por instituições britânicas, para perceber melhor o significado desta fase de atividade cerebral.
Notícia sugerida por Carla Neves