Foi para tentar facilitar a vida das crianças com limitações motoras que a designer de moda portuguesa Ângela Pires desenvolveu o conceito sensorialFIT.
Tarefas como vestir ou despir a roupa diariamente podem parecer simples e rotineiras para muitos de nós, mas tornam-se verdadeiras batalhas para as pessoas com necessidades especiais e, em particular, para as crianças com limitações motoras. Foi para tentar ajudar a melhorar a sua qualidade de vida que a designer de moda portuguesa Ângela Pires desenvolveu o conceito sensorialFIT, que assenta em peças de roupa confortáveis e fáceis de vestir para promover a autonomia e bem-estar infantis.
por Catarina Ferreira
A ideia surgiu em 2008 no âmbito da tese de mestrado em Design de Moda desta portuguesa de 27 anos, natural da Covilhã mas residente em Vila do Conde, que queria criar uma marca de vestuário que “pudesse de alguma forma contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas”. “Lembrei-me das crianças com necessidades especiais, que têm mais dificuldades em atos como vestir e despir, e fiz um estudo sobre este tema”, conta Ângela em entrevista ao Boas Notícias.
Depois de contactos com “inúmeros terapeutas, com pais e com as próprias crianças para perceber melhor as principais dificuldades relacionadas com o vestuário” e também “os tipos de terapias utilizadas para aumentar o desenvolvimento destas crianças”, o conceito sensorialFIT começou, finalmente, a tomar forma.
Atualmente, Ângela está a desenvolver uma coleção que, nesta fase inicial, é apenas de partes de cima – t-shirts, camisolas, casacos, entre outras peças. “Ainda estão a ser feitos os primeiros protótipos que, por integrarem vários elementos inovadores, terão que ser testados para validar a sua eficácia. Só depois poderão ser produzidas as primeiras peças em maior quantidade”, esclarece a designer de moda.
Duas linhas de roupa e acessórios interativos
Segundo a sua criadora, o vestuário sensorialFIT vai dividir-se em duas linhas. Uma delas, a Linha “Soft”, será pensada “especialmente para crianças com hipersensibilidade” e terá “preocupações com a utilização de materiais mais suaves e com fibras naturais, a eliminação ao máximo de costuras, a substituição das etiquetas convencionais em tecido por etiquetas estampadas e a escolha de cores mais neutras e suaves”.
Já a Linha “Texture”, desvenda Ângela ao Boas Notícias, vai caraterizar-se por “um uso mais intensivo das cores, da diversidade de texturas, de padrões, estampados e bordados”. Apesar das respetivas diferenças, ambas as linhas têm uma preocupação eminentemente funcional e vão englobar peças confecionadas, na sua maioria, em malha, “porque são mais confortáveis”.
Além disso, a marca portuguesa vai ainda disponibilizar uma série de acessórios interativos para facilitar o dia-a-dia das crianças com deficiências motoras, acessórios esses que têm “um caráter modular”, o que significa que “podem ser adquiridos separadamente e integrados em qualquer peça de roupa através de um sistema de encaixe comum”.
Com a ajuda destes acessórios, a designer de moda portuguesa pretende incentivar a estimulação sensorial – através, por exemplo, de cores, texturas ou aromas – mas também o desenvolvimento cognitivo, por via de jogos que promovem a interação com outras crianças, e ainda a motricidade fina, para a qual contribuirão acessórios relacionados com o vestuário (botões, molas ou fechos) “para trabalhar os movimentos mais minuciosos e precisos onde muitas crianças sentem grandes dificuldades”.
“Ao serem mais confortáveis e fáceis de vestir e despir, estas peças tornam-se muito mais práticas do que as convencionais”, salienta Ângela. O propósito é, portanto, “que muitas crianças passem a conseguir vestir-se sozinhas ou, nos casos em que não conseguem chegar a esse nível de autonomia, que a tarefa fique facilitada para os cuidadores”.
“Por outro lado, estes acessórios interativos que não existem no vestuário convencional vão possibilitar uma intervenção mais prolongada, que trará também benefícios do ponto de vista terapêutico”, antevê a jovem empreendedora.
Projeto tem recebido críticas positivas e já ganha prémios
Para já, os preços das peças ainda não estão definidos “porque dependem de diversos elementos”, mas Ângela garante que “a intenção é que sejam produtos acessíveis ao maior número possível de crianças”. E, visto que a sensorialFIT tem um “conceito modular”, cada pessoa poderá “ir adquirindo gradualmente novos produtos, que podem ser utilizados em conjunto com os outros”.
Embora ainda não tenha chegado ao mercado, o conceito está a despertar muita satisfação e interesse, em particular nos pais e terapeutas. “Tenho recebido muitas mensagens de pessoas que tomaram conhecimento do projeto e que demonstram que o conceito faz sentido e é necessário”, confessa a mentora, que recentemente venceu, com este trabalho, o prémio SIM da Samsung, no valor de 25 mil euros.
Graças ao seu trabalho no conceito sensorialFIT, Ângela foi também selecionada como finalista do programa de empreendedorismo TecEmpreende, promovido pela Anje e pelo InescPorto, entidades que, segundo garante, lhe têm dado um apoio “imenso no desenvolvimento do plano de negócio e na estratégia de implementação do projeto”.
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