Em entrevista ao Boas Notícias, Ana Margarida Esteves, socióloga e uma das envolvidas no projeto, explica que, “pouco depois da manifestação do 12 de Março”, os promotores do movimento “tiveram a ideia de criar um coletivo” para trabalhar no sentido de “uma sociedade mais democrática, igualitária, justa e fraterna”.
Por detrás desta Escola de Cidadania estão também outras pessoas “na sua maioria ligadas a organizações não-governamentais e outras iniciativas de participação cívica, assim como às artes e à cultura”, que têm “objetivos semelhantes” e que se foram “conhecendo no seguimento das mobilizações que levaram à manifestação” e assim se juntaram.
A ideia não é inteiramente nova se lançarmos um olhar sobre o panorama internacional. No Brasil há já escolas de ativismo como o Ibase, fundado pelo sociólogo Herbert de Sousa, e o PACS – Políticas Alternativas para o Cone Sul, criado pelo economista Marcos de Almeida, ambas exemplos de uma luta contra a ditadura e a favor da democratização do país.
Também nos Estados Unidos foi fundada, na década de 1930, no Tennessee, uma organização deste género: o Highlander Center, que contribuiu de forma decisiva para a emergência do Movimento dos Direitos Civis e onde Rosa Parks – que se celebrizou pelo combate à segregação racial nos transportes públicos americanos – foi treinada em técnicas de resistência pacífica.
Porém, em Portugal, não há qualquer entidade do género e, por esse motivo, a vontade de criá-la já acompanhava Ana Margarida há vários anos. “Há mais de uma década que eu tinha o sonho de fazer nascer no nosso país um centro de aprendizagem e apoio aos movimentos sociais”.
Conceito deverá ser alargado ao resto do país
De acordo com a socióloga, que se encontra atualmente a trabalhar numa universidade norte-americana como docente e investigadora na área do desenvolvimento socioeconómico, da democratização e da promoção da cidadania, este será “um centro de pesquisa participativa feito à medida da realidade portuguesa e das necessidades dos nossos compatriotas”.
Mas, afinal, que trabalho vai desenvolver a Escola de Cidadania? Segundo Ana Margarida, a academia contará com um laboratório de ideias e estratégias sobre alternativas de desenvolvimento, participação cidadã e intervenção cultural “que servirá não só para estruturar e animar os outros núcleos do projeto, mas também para criar conhecimento que será disponibilizado à sociedade civil”.
A escola vai disponibilizar workshops e outras iniciativas subordinadas a vários temas, “como a Constituição da República Portuguesa ou as relações entre a política e os media”, e, embora o programa curricular, bem como o formato e a duração dos cursos, estejam ainda a ser estruturados, bem como o formato e a duração dos cursos, a maioria das formações deverão ser gratuitas.
“Esperamos criar iniciativas para um leque o mais alargado possível de idades e perfis socioeconómicos”, antevê Ana Margarida, acrescentando que os organizadores desejam também “que, a maioria dos cursos, senão a totalidade, workshops e outras sessões” seja de frequência livre para todos. “Tudo vai depender dos financiamentos que conseguirmos captar”, confessa.
A procura de financiamentos é um processo que, de acordo com o que desvendou a socióloga ao Boas Notícias, já está a decorrer “em Portugal e no estrangeiro”. Quanto aos professores, “o mais provável é que haja formadores pagos e outros voluntários, consoante o projeto”.
Apesar de ainda haver vários pormenores por definir, a socióloga mostra-se confiante em relação ao nascimento desta “Academia Cidadã” e garante que, de futuro, a ideia deverá ser “com toda a certeza” alargada a todo o país.