por Patrícia Maia
Abrir as páginas do novo livro de Manuela Gonzaga, “Imperatriz Isabel de Portugal” editado pela Bertrand, é fazer uma viagem no tempo e aterrar em pleno século XVI, nos meandros das cortes de Portugal e de Aragão e Castela. Mas encontrar o caminho até Isabel foi um trabalho laborioso que se prolongou durante mais de quatro anos de investigação e recolhas. “Nesta altura as mulheres não tinham cronistas próprios, como os reis, pelo que tive de 'recortar' a imagem de Isabel dos relatos que os cronistas fizeram dos 'seus' homens, como o pai, o marido ou o irmão “, explica Manuela Gonzaga ao Boas Notícias.
A infância e a juventude de Isabel de Portugal, filha de uma mãe austera mas extremosa, D. Maria de Aragão e Castela, e do “afortunado” rei D. Manuel I, que liderou a expansão do império português, terá sido mimada e faustuosa. Elefantes, macacos, um rinoceronte e outros animais exóticos. Músicos, bailarinos e espetáculos de teatro onde os talentos de Gil Vicente floresceram. Era assim a 'corte das maravilhas' em que cresceu a infanta, na Lisboa que “era a cidade onde toda a Europa tinha os olhos postos” com as suas naus que chegavam dos destinos mais longínquos, conta a autora na primeira parte do livro.
Amor em tempos de guerra
E foi esta noiva – belíssima e prendada, a falar fluentemente castelhano graças à influência de sua mãe e beneficiada de um dote astronómico – que, em 1526, numa viagem de dois meses, atravessou Portugal com um luxuoso séquito para consumar, em Sevilha, um casamento com enormes vantagens económicas e estratégicas e que culminou na coroação do seu primogénito Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal) cujo trono viria a unificar a Península Ibérica durante 60 anos. No total, os imperadores tiveram cinco filhos, três varões e duas meninas.
Na Hispânia, Isabel seria a “mui querida e mui amada mulher” de Carlos V, com quem viveu uma longa lua de mel que se prolongou até à sua morte. Mas também passou duros desafios. Manuela Gonzaga salienta que “esta é uma história de amor em tempos de guerra”. “Isabel enfrenta as longas ausências do marido, intrigas de uma corte que não aceita a sua portugalidade e onde há uma crise financeira crónica já que todo o dinheiro vai para a guerra”, acrescenta.
Como imperatriz, Isabel assumiu a regência durante os longos períodos (às vezes anos) em que o marido partia para a guerra. A portuguesa assume este papel “com a dignidade suprema de rainha num equilíbrio frágil entre razão e a emoção”.”Exemplo disso é o episódio do seu primeiro parto onde se conta que tapou a cara com um pano para que não se vissem os seus esgares de dor e recusou gritar declarando a famosa frase 'morrerei mas não gritarei' num esforço para preservar a sua imagem de domínio”, conta a escritora.
Uma memória ensombrada
Manuela deixou-se seduzir por esta personalidade histórica quando leu uma biografia de D. Carlos V da autoria do recém falecido historiador espanhol Manuel Fernández Álvares. “Já conhecia o famoso retrato em que Ticiano imortalizou Isabel (reproduzido na capa do livro) mas ao ler este livro percebi a importância que esta rainha tinha tido ao lado de D. Carlos V e fiquei intrigada com o desconhecimento do público – e o meu próprio desconhecimento – sobre sua vida”, explica
Sobre esta espécie de esquecimento de uma figura fundamental da história ibérica e europeia do século XVI, Manuela avança algumas hipóteses, já sugeridas por outros historiadores como o próprio Fernández Álvares.”O pai, o marido e o filho foram tão conhecidos e ela morreu tão jovem que isso ensombrou a sua memória”, defende.
Biografia histórica que se lê como um romance
Manuela Gonzaga já tem outras obras biográficas publicadas – como “Doida Não e Não!” (2009), sobre a filha e herdeira do fundador do Diário de Notícias que esteve presa num manicómio por um “crime de amor” – mas também é autora da coleção juvenil “O mundo de André”. A escritora admite que escrever neste registo biográfico é “muito intenso e exigente”. Esta obra, “Imperatriz Isabel de Portugal”, inclui cerca de 50 páginas com referências aos documentos, estudos e livros que a historiadora consultou.
“Naturalmente sou mais livre a escrever ficção, sobretudo foi um grande desafio encontrar uma linguagem para contar esta biografia como se fosse um romance e fico orgulhosíssima quando me dizem 'adorei o seu romance', porque na realidade trata-se de uma biografia histórica, o que é bem diferente”, conclui
A verdade é que ao ler este livro não sentimos “o peso” da pesquisa que o sustenta. Como num romance podemos mesmo, ao longo da aventura da formosa rainha, visualizar os detalhes de cada episódio ou cena como se se tratasse de um filme que, ao contrário dos 'block buster' de Hollywood, tem um final trágico, com a precoce morte de Isabel, aos 36 anos, após um parto em que deu à luz um nado morto.
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