Os pequenos ramos que resultam do desbaste dos sobreiros, normalmente considerados desperdício, podem vir a ter uma utilidade "nobre", tendo potencial para serem transformados em peças de pavimento, concluiu uma investigadora lusa.
Os pequenos ramos que resultam do desbaste dos sobreiros, normalmente considerados desperdício, podem vir a ter uma utilidade “nobre”, tendo potencial para serem transformados em peças de pavimento. A possibilidade está a ser estudada pela cientista portuguesa Sofia Knapic.
A investigadora do Instituto Superior de Agronomia (ISA) desenvolveu um estudo com o objetivo de valorizar o desperdício dos sobreiros, usando-se a madeira retirada nas operações de desbaste. Em vez de ser queimado como é habitual, este material poderia ser aproveitado para fazer os chamados “tacos” para o soalho.
Em entrevista à Lusa, Sofia Kapnic afirmou que o propósito é diversificar a exploração dos sobreiros “sem entrar em competição com a cortiça”, já que não se irá aproveitar a “boa madeira”, mas sim “retirar todos os ramos e material de podas e desbastes” obtidos em consequência das operações de limpeza necessárias na manutenção destas árvores.
Para chegar a esta conclusão, a portuguesa e a sua equipa estudou as propriedades físicas da madeira, como a densidade, a resistência ao desgaste ou os comportamentos de variações dimensionais, um trabalho desenvolvido em colaboração com o Laboratorio de Engenharia Civil.
Depois, em parceria com um instituto finlandês, os investigadores tentaram compreender que tipo de peças podiam retirar-se do seu reaproveitamento, uma vez que os ramos têm pequenas dimensões.
Equipa já desenvolveu protótipos em laboratório
“As peças para pavimento, apesar de pequenas, são muito resistentes e podem ser adequadas a superfícies comerciais, com muito uso”, desvendou a Sofia Knapic, que apresentou o seu trabalho durante um congresso mundial de produtos florestais realizado no Estoril.
Além disso, adiantou a investigadora, o desperdício pode ser usado para a produção de biomassa porque se trata de “madeira densa e homogénea e tem boas taxas de crescimento anuais”, tendo ainda um papel relevante no armazenamento de dióxido de carbono.
Para já a solução ainda não está a ser comercializada, mas de acordo com a portuguesa a equipa já passou da investigação à prática com a aplicação de alguns projetos, nomeadamente o desenvolvimento de peças de protótipos laboratoriais em colaboração com a indústria de serração e de mobiliário, além de soalho, também para revestimento com folha, usado em mesas de escritório.
De acordo com a cientista, o último Inventário Florestal Nacional deu conta de que Portugal tem 716 mil hectares de sobreiros. Com base neste número foram obtidas estimativas que apontam para uma disponibilidade de madeira a sair em desbastes que vai aumentando no tempo e que, em 2059, chegará aos 140 mil metros cúbicos anuais.