Uma investigação portuguesa levada a cabo por um grupo de cientistas do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) do Porto esteve em destaque no maior congresso de hematologia do mundo. O estudo incide numa doença genética – a hemocromatose – e os seus autores foram escolhidos para moderar uma sessão sobre o metabolismo do ferro.
A hemocromatose é uma das doenças genéticas mais comuns e silenciosas e tem origem numa sobrecarga de ferro no organismo. Esta doença não tem, à partida, qualquer sintoma, mas pode tornar-se um grave problema de saúde com o avanço da idade.
Uma mutação no organismo pode provocar a absorção de ferro em maior quantidade do que a necessária e o corpo não tem a capacidade de expelir o excesso, acumulando-se nos órgãos – primeiro no fígado (dando origem a uma cirrose), depois no pâncreas (provocando diabetes).
Nascido em 1985, este grupo de especialistas portugueses do IBMC do Porto conseguiu que o seu trabalho fosse reconhecido a nível internacional ao longo dos anos, tendo hoje algumas das investigações em hematologia mais conceituadas do mundo, apesar do seu desconhecimento para muitos.
A convite da Sociedade Americana de Hematologia, Graça Porto, coordenadora do grupo de investigação básica e clínica em biologia do ferro do IBMC, deslocou-se com a sua equipa aos EUA, para participar no maior encontro anual na área das doenças do sangue.
Nova terapia
Juntamente com o colega Johns Hopkins, a investigadora moderou uma sessão sobre metabolismo do ferro, num congresso que contou com mais de 20 mil participantes.
Por enquanto, a única forma de controlar esta doença é através de sangrias (flebotomias) que obrigam a medula óssea a produzir sangue novo sem o excesso de ferro.
O grupo português, em colaboração com colegas alemães, apresentou um estudo onde detecta em ratinhos alvos terapêuticos que poderão controlar as formas mais graves de hemocromatose e, um dia, poderão substituir a necessidade de flebotomias.
Segundo os estudos, até 30 mil portugueses podem estar em risco de ter a doença, apesar de, até hoje, só terem passado 200 pela única consulta em hemocromatose do país no Hospital de Sto António, no Porto.