49 por cento dos portugueses não denuncia más condutas éticas no trabalho. Esta é apenas uma das conclusões do estudo sobre ética no trabalho, realizado peloInstitute of Business Ethics (IBE) e que, em Portugal, conta com a colaboração da Católica Porto Business School. O inquérito – o único na Europa que fornece dados reais sobre a visão que os colaboradores têm sobre esta matéria – revela que o facto de não acreditarem que seriam tomadas medidas para alterar a situação, que os abusos não são um assunto diretamente da sua responsabilidade ou que a denúncia poderia comprometer o seu trabalho são apontados como os motivos que os levam a não ter uma voz ativa contra esta realidade.
Os resultados revelam, ainda, que dos 35 por cento dos colaboradores nacionais que tem conhecimento deste tipo de conduta, 52 por cento identifica tratamento inapropriado, 38 por cento comportamentos abusivos e 28 por cento refere o registo incorreto de número de horas trabalhadas. O estudo demonstra, igualmente, que, em Portugal, 22 por cento dos colaboradores admite ter desrespeitado os padrões éticos devido à pressão do tempo (36%), à escassez de recursos (29%) e, também, para cumprir ordens superiores (26%).
Trabalhadores do Reino Unido são os mais propensos a reportar abusos
Partindo para a análise a nível europeu, os resultados revelam que 16 por cento dos trabalhadores já se sentiu, de alguma forma, pressionado a ignorar os padrões éticos da organização – número que tem aumentado em todos os países que disponibilizam dados sobre este tópico. A análise mostra que 30 por cento dos colaboradores teve, durante o ano de 2017, conhecimento de algum tipo de má conduta, sendo, neste ponto, o tratamento inadequado o mais mencionado (por 46%). Os colaboradores europeus estão, contudo, agora, mais propensos a denunciar este tipo de conduta (54% daqueles que estavam cientes desta conduta denunciaram o abuso, uma melhoria em relação a 2015).
Os trabalhadores do Reino Unido figuram como os mais propensos a reportar esta situação (67%), enquanto os portugueses surgem como os menos disponíveis para o fazer (51%). Os dados referem, contudo, que, para os gestores, as pequenas falhas éticas têm tendência para, com o tempo, se tornarem mais toleráveis, sendo que 30 por cento refere mesmo que, numa organização moderna, estas questões são inevitáveis. Para Philippa Foster Back, diretora do Institute of Business Ethics, “os colaboradores seguem os líderes e, como tal, estes têm um papel fundamental na definição da cultura ética de uma organização”. Para a responsável, “as organizações precisam preparar e apoiar os gestores na tomada de decisões éticas, especialmente porque a pressão sobre os colaboradores é cada vez maior no panorama atual.”
O estudo revela a importância e o impacto que programas de ética corporativa assumem, destacando, por exemplo, que os colaboradores que identificam um “ambiente ético” tendem a ter uma opinião mais favorável sobre a organização e uma visão mais positiva do comportamento da chefia. Estão, também, menos expostos a más condutas no local de trabalho e mais dispostos a denunciá-las.
O relatório – apresentado pela primeira vez em 2005 – questiona os colaboradores sobre a forma como respondem aos dilemas éticos que surgem no quotidiano laboral, analisando a forma como têm conhecimentos de más práticas, se as reportam e, ainda, e caso não o façam, o que os impede de o fazer. O estudo foi realizado peloInstitute of Business Ethics a 6.119 colaboradores, de oito países europeus – Portugal, Espanha, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Suíça e Reino Unido –, entre 5 e 25 de fevereiro de 2018. A Católica Porto Business School é o parceiro nacional do IBE para apoiar este estudo.
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