Uma equipa de investigadores tem vindo a estudar, com câmaras ocultas, a fauna na zona de exclusão de Chernobyl. Pensar naquela área como uma reserva natural pode causar estranheza, mas as mais de 155 mil imagens recolhidas pelas câmaras ao longo de 12 meses sugerem o contrário.
“Parece que quando os humanos são removidos de uma área – mesmo que contaminada com radiação – a Natureza tem a habilidade notável de reclamar esse espaço”, escrevem Mike Wood e Nick Beresford, responsáveis pelo projeto Tranfer Exposure Effects (TREE), no site The Biologist.
As imagens foram recolhidas por câmaras distribuídas aleatoriamente em três áreas com níveis de contaminação distintos: baixo, médio ou alto. Segundo os investigadores, em cada área de 80km² foram distribuídas 84 câmaras fotográficas.
Pode consultar aqui algumas das imagens recolhidas.
Os resultados foram surpreendentes
O objetivo era estudar animais, principalmente mamíferos de médio e grande porte. Mas a variedade encontrada superou, inclusive, as expetativas dos investigadores. Entre as espécies registadas incluem-se exemplares de:
– Texugo europeu
– Castor europeu
– Alces
– Lince eurasiático
– Lobo cinzento
– Cão-guaxinim
– Veados
– Raposa vermelha
– Corço
– Javali
Também foram fotografados, pela primeira vez na região, exemplares do urso castanho e do bisonte europeu, este último na parte ucraniana da área.
As imagens revelaram algo que alegrou a equipa da TREE: cavalos de Przewalski, alguns identificados desde os anos 90, quando foram libertados 30 exemplares na região.
“As nossas câmaras capturaram imagens dos cavalos de Przewalski (na foto acima) com uma marca que os identifica como sendo os exemplares que aí foram libertados originalmente”. Também foram fotografados cavalos juvenis e potros, o que sugere que a população está a ser bem-sucedida em procriar dentro da zona.
Foram igualmente observadas aves protegidas na área, incluindo exemplares da cegonha-negra, da águia dourada e da águia de cauda branca.
“A analise às imagens [ainda] está a prosseguir, mas já é claro que muitos animais são comuns a todas as áreas, independentemente dos níveis de radiação. Esta investigação é muito significativa porque está a fornecer dados robustos e verificados independentemente sobre os efeitos da radiação em populações selvagens”, escrevem os investigadores.
O estudo não oferece conclusões definitivas sobre as alterações das populações de grandes mamíferos nos anos que se seguiram ao acidente. Permite, no entanto, avaliar a distribuição das espécies e a densidade relativa das populações em áreas de contaminação diferentes. Sendo que, perante os registos das imagens, a resposta da natureza à contaminação é muito encorajadora.
O acidente em Chernobyl deu-se no dia 26 de Abril de 1986, causando mais de 30 mortes imediatas, sendo que milhares de pessoas sofreram de complicações mortais devido à radiação. O acidente obrigou à evacuação de mais de 116 mil pessoas.