i9magazine

O capital humano nacional

Versão para impressão

Isabel Freire de Andrade defende a necessidade de “facilitar e incentivar o acesso às tecnologias nas PME, já que as PME são o principal tecido empresarial. Passa também por se incentivar mais o ensino das novas tecnologias nas escolas desde cedo, para que a recetividade e proatividade em relação a estas aumente. Finalmente, passa muito por incentivar as raparigas a gostarem de tecnologia, pois a participação das mulheres na tecnologia, quer na escola, quer no mercado de trabalho, é muitíssimo baixa”. Analisando esta situação a fundo, a responsável indica que atualmente, nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), “embora as mulheres preencham mais de 60% dos postos relacionados com tecnologias de informação e comunicação, apenas 10 a 20% são programadoras de computadores, engenheiras, analistas de sistemas ou designers”. Este intervalo “entre homens e mulheres no campo tecnológico está relacionado com as perceções dos papéis de género que encorajam as mulheres a seguir disciplinas “mais leves”. É necessário uma mudança nas atitudes que pode começar por divulgar mais os casos de sucesso de mulheres na área tecnológica e a educação desde o pré-escolar consciencializar as crianças e os jovens para que esta questão tem só a ver com os papéis sociais e que não há profissões de homens ou de mulheres”.

Luís Sítima também acredita ser fundamental “colocar o tema “digital” na agenda, dando-lhe a respetiva importância. Por outras palavras, se é importante – e não temos qualquer dúvida que o é – há que investir tempo e recursos no assunto. O segundo fator é apostar na educação digital. Finalmente, há que fazer benchmak. Perceber as melhores práticas dos países e das empresas mais digitais e simplesmente importá-las”.

Vanda Brito sublinha que “Portugal já tem boas infraestruturas digitais, mas é necessário a sua otimização a nível de utilização e para isso o capital humano terá que melhorar as suas competências digitais. É neste ponto que as empresas assumem um papel extremamente relevante. O mundo dos recursos humanos não é uma exceção, estando de uma forma muito rápida não só a adaptar-se ao mundo digital, como a tirar o melhor partido do que esta inovadora realidade tecnológica permite – acesso e divulgação rápida de informação, para as organizações e para o capital humano. Quem não perceber a importância do digital no negócio da gestão de recursos humanos, provavelmente não terá negócio no futuro”.

No âmbito das skills, Isabel Freire de Andrade sublinha que as soft skills são as mais valorizadas pelas empresas porque “são as skills que não podem ser substituídas por máquinas”. Accountability (responsabilização), trabalho em equipa, empatia, orientação para os resultados, autoconfiança e influência são as que a CEO da Bright Concept mais destaca, assim como a liderança inspiradora, liderança coaching e iniciativa nos líderes. Luís Sítima reconhece a importância da criatividade, vontade e capacidade de apreender, iniciativa, emoção, determinação, impacto e influência, orientação para resultados e capacidade de execução, associadas à ética e integridade. O professor sublinha ainda que “a inovação depende da diversidade de competências, skills, backgrounds, origens e culturas das pessoas. Se juntarmos pessoas diferentes, teremos por isso maior probabilidade de gerar soluções não convencionais. Leia-se inovar. Por isso, mais importante do que um set of skills único, os líderes valorizam e vão valorizar cada vez mais misturar perfis diferenciados”.

A Diretora de RH da Kelly Services refere que “da mesma maneira que uma empresa tem que ser flexível e ágil, o potencial colaborar também tem que ser portador destas características. Hoje em dia, uma organização tem que ser capaz de olhar para além do diploma que o candidato traz consigo. É o chamado “more than college”, ou seja, é o conjunto de competências técnicas e humanas que fazem um bom profissional”. Aponta igualmente o pensamento crítico, a habilidade e capacidade para trabalhar em equipa, a capacidade para resolver problemas e encontrar soluções, as competências comunicacionais, a iniciativa e a ética laboral como um “conjunto de características que um bom profissional deve ter e que um bom líder deve ser capaz de identificar e reter”.

Sobre liderança, Isabel Freire de Andrade reconhece que há uma maior consciencialização para melhorar esta vertente, embora continuemos a ver “chefias com o estilo de liderança diretivo, ou seja, do tipo “Faz como eu digo” e com muito feedback negativo”. Adianta que “isto acontece muito porque as chefias são promovidas geralmente pela sua competência técnica e não pelas suas competências de liderança”. Para o país ter mais (e melhores) gestores, salienta que estes “têm primeiro de perceber como são percecionados pelos seus colaboradores em termos de competências, estilos de liderança e o clima que estão a criar”, daí que ter “feedback genuíno” seja essencial. Em consonância com esta abordagem, para “fazer crescer” o seu negócio, os gestores devem estar focados em fazer crescer as pessoas, o que significa estar “motivado para fazer o estilo de liderança coaching. As melhores práticas nesta área são ter reuniões mensais com cada colaborador para que este pense no desenvolvimento das suas competências”. Além do sucesso do seu negócio, as empresas também reconhecem cada vez mais a necessidade de adotar ações de responsabilização. Esta “accountability” é muito valorizada, “principalmente pela nova geração de millennials e por isso tem crescido muito. Faz muito mais sentido as empresas terem um propósito maior de que fazerem só dinheiro. Há mesmo uma organização internacional que avalia e dá um selo às empresas que não ambicionam apenas ser as melhores do mundo, mas as melhores para o mundo, a B Corp”.

Luís Sítima assegura que “a liderança em Portugal não é nem melhor nem pior que a liderança noutros países”, no entanto, para que o nosso país tenha melhores líderes, o coordenador do Global Advanced Leadership Programme evidencia similarmente que a responsabilização, a formação diversificada e o reconhecimento são cruciais no seu desempenho. “Há que treinar as pessoas em comportamentos de liderança na prática. Como? Estimulando-as a saírem da sua zona de conforto e a viverem múltiplas experiências e realidades, com mobilidade geográfica e funcional, em diferentes áreas e projetos”. Acrescenta que “o líder do futuro será aquele que antecipa a mudança, inspira as pessoas e entrega resultados num determinado contexto. Como sempre foi!”.

Para “fazer crescer” os trabalhadores, Luís Sítima indica que os gestores devem, “em primeiro lugar vê-los como pessoas e não como “recursos humanos”. Em segundo lugar, conhecê-los nas suas individualidades e motivações. Se estas duas condições estiverem asseguradas, a terceira – gerir as motivações individuais – será muito mais fácil”. “Vários estudos demonstram que 50 a 70% da motivação de cada equipa depende da sua chefia direta. E porque o crescimento, a motivação e mesmo a inovação não são independentes – tipicamente pessoas que se sentem a crescer, estão mais motivadas e, se mais motivadas são mais criativas, logo mais crescem”.

Da Kelly Services, Vanda Brito assinala que, “de uma forma generalizada, (…) o mercado de trabalho em Portugal está cada vez mais dinâmico e com excelentes oportunidades”. Os cargos mais solicitados no nosso país são “as Tecnologias de Informação, Engenharias e perfis comerciais, perfis com alta especificidade técnica para fazer face aos desafios que se levantar às organizações atuais”. Responsável por vários processos de recrutamento, afirma que “a geração dos millennials, como parte ativa do mercado de trabalho, o crescimento da gig economy, o empreendedorismo, a diminuição dos níveis de desemprego, a procura pelo talento e a escassez de algumas competências” estão a “transformar globalmente a atração de novos talentos para as organizações” porque estes “procuram experiências, em detrimento das oportunidades mais tradicionais, e a experiência começa muito antes de estes se tornarem colaboradores”. Vanda esclarece que os “candidatos querem acreditar nas organizações e sentir-se valorizados e atraídos pelos futuros empregadores”. A globalização e digitalização implicam aceitar “novos comportamentos que se adaptem e cativem o estilo de vida “sempre ligado e partilhado” das novas gerações”, motivo pelo qual a constante conectividade obriga a que todos estejam na “linha da frente sob pena de sermos ultrapassados”.

Em termas legais, tanto Isabel Freire, como Vanda Brito defendem que o país tem e deve melhorar as suas estratégias e regras de contratação. A CEO da Bright Concept garante que “ainda temos uma rigidez muito grande nas contratações o que leva a uma estagnação e consequente desmotivação no mercado de trabalho”. Vanda Brito verifica que a “intervenção das entidades responsáveis deve ser mais consistente e alinhada com a realidade empresarial e com o mercado de trabalho” e refere que muitas vezes trabalham “com leis demasiado antigas e que não acompanham as reais necessidade dos trabalhadores e dos empregadores”.

Para concluir, o que é que torna Portugal num país atrativo e desafiante para trabalhar? Segundo Isabel Freire de Andrade, “os estrangeiros geralmente gostam muito de trabalhar em Portugal pela qualidade de vida que temos, nomeadamente em termos de clima, acesso fácil às praias, pouco trânsito, hospitalidade, segurança e gastronomia. O que o torna mais desafiante é atualmente ser um polo de empreendedorismo e de investimento em start-ups”. Luís Sítima garante que “depende muito dos desafios de crescimento que se colocam a diferentes setores, empresas e organizações. Há áreas ou empresas mais atrativas que outras, naturalmente. Mas isso acontece em qualquer país. Diria acima de tudo que Portugal é muito atrativo para se viver. Temos sol, mar, estabilidade e segurança, infraestruturas invejáveis, boas condições de saúde e educação e, acima de tudo, excelentes pessoas. Se é atrativo para viver, também o deve ser para trabalhar. Porque num mundo cada vez mais global e digital, o “local de trabalho” será cada vez mais irrelevante”. Vanda Brito considera que “a boa reputação de Portugal em inovação e qualidade da tecnologia transformou o nosso país numa opção de primeira linha para a instalação de centros de serviços em modelo nearshore que permitem criar postos de trabalho, atrair trabalhadores estrangeiros com múltiplas línguas e posicionar Portugal como referência neste setor”. À semelhança de Isabel Freire de Andrade, a responsável da Kelly Services acrescenta que o país também tem sido o “destino escolhido por muitos estrangeiros para a instalação de start-ups. Isto significa o crescimento de diversas oportunidades de trabalho para estrangeiros que cada vez mais apreciam desfrutar da qualidade de vida, do descanso e das maravilhosas praias que têm por perto”.

 

 

Isabel Freire de Andrade

É fundadora e CEO da Bright Concept, consultora de Recursos Humanos (RH). Com 27 anos de experiência, Isabel Freire de Andrade é especialista nas áreas de gestão de empresas, mentoring, liderança, coaching a colaboradores e executivos, pensamento estratégico, Inteligência emocional, trabalho de equipa, influência e negociação, relação com o cliente, falar em público e imagem e protocolo. Realiza ainda avaliações e diagnóstico de competências.

Inovar é…

Criar uma nova solução que satisfaça uma necessidade.

 

Luís Sítima

É Senior Partner da Korn Ferry e Diretor Executivo da Korn Ferry Hay Group em Portugal. Também leciona na Porto Business School, onde coordena o Global Advanced Leadership Programme, um programa desenvolvido em parceria com o International Institute for Management Development. Os participantes têm a possibilidade de desenvolver algumas das competências mais reconhecidas pelas grandes empresas mundiais, como pensamento estratégico, capacidade de execução e gestão e mobilização de pessoas..

Inovar é…

Pensar e fazer diferente, criando (e concretizando) algo único num determinado contexto.

 

Vanda Brito

Diretora de RH da Kelly Services, empresa líder em gestão de RH, é entusiasta do employer branding, do work-life balance e da inovação digital na área dos recursos humanos. Em Portugal, a empresa tem nove agências que desempenham serviços nas áreas de recrutamento, trabalho temporário, outsourcing e consultoria. No ano passado integrou a lista das 100 Melhores Empresas para Trabalhar da revista Exame e foi considerada um dos Melhores Fornecedores de Recursos Humanos 2017.

Inovar é…

Determinante para a longevidade, é criar soluções de valor acrescentado para todos os stakeholders.

// www.brightconcept.pt

// www.haygroup.com/pt

// www.kellyservices.pt

 

O conteúdo O capital humano nacional aparece primeiro em i9 magazine.

Comentários

comentários

PUB

Live Facebook

Correio do Leitor

Mais recentes

Passatempos

Subscreva a nossa Newsletter!

Receba notícias atualizadas no seu email!
* obrigatório

Pub

Este site utiliza cookies. Ao navegar no site estará a consentir a sua utilização. Saiba mais aqui.

The cookie settings on this website are set to "allow cookies" to give you the best browsing experience possible. If you continue to use this website without changing your cookie settings or you click "Accept" below then you are consenting to this.

Close