Cultura

A história inacabada das ruínas portuguesas

À semelhança dos monumentos, também as ruínas podem contar a história de um país. Gastão de Brito e Silva, 'fotógrafo de intervenção', decidiu registar essas histórias através da sua lente como uma "chamada de atenção à perda de património".
Versão para impressão
À semelhança dos monumentos, também as ruínas podem contar a história de um país. Gastão de Brito e Silva, “fotógrafo de intervenção”, regista essas histórias através da sua lente como uma “chamada de atenção contra a perda de património”, revela ao Boas Notícias.

por Andreia Duarte
 
Apaixonado por história e arquitetura e fotógrafo de profissão, Gastão de Brito é o autor do blogue Ruin’arte, uma autêntica galeria digital onde expõe os seus trabalhos fotográficos, inspirados nos “descuros do património arquitetónico.”
 
Revelar a “história inacabada” de ruínas industriais, urbanas, clericais, palacianas, rurais, militares e outras , é o objetivo de Gastão de Brito e Silva que, através da fotografia, quer apelar a que se preserve “o melhor que temos” para que esta “geração não perca o que todas as outras legaram”.
 
Este projeto fotográfico, marcado por uma minuciosa exploração de cores e contrastes, nasceu de “uma inspiração algo longínqua no tempo,” quando Gastão voltava da tropa, numa viagem de comboio, e avistou uma ruína “deslocada da civilização”, que despertou a sua curiosidade.
 
Mais de 20 anos depois voltou ao local e descobriu que aquelas eram as ruínas do antigo convento de Cister, construído em 1175, no reinado de D. Afonso Henriques. Foi então que surgiu a sua paixão pelo património esquecido e percebeu que, “na sua generalidade, todas as ruínas podem ter interesse e serem integradas em qualquer ponto da história.”

Correr riscos em busca da fotografia perfeita 

Aos 46 anos de idade, e já com cinco anos de experiência nesta exploração das ruínas, Gastão de Brito confessa que tem de ultrapassar muitas barreiras para conseguir fazer este tipo de fotografias. Além das deslocações e do difícil acesso a algum tipo de informação histórica que se vai perdendo ao longo do tempo, muitas propriedades são vedadas e isoladas, “tornando o acesso apenas possível a um Rambo”.
 
Image and video hosting by TinyPic

A Companhia de Lanifícios da Chemina (Seixal) foi inaugurada em 1890 e trabalhou em pleno até 1977, empregando 160 funcionários 
 

Com quase mil ruínas fotografadas, Gastão afirma que, em todas elas, viveu aventuras diferentes e é isso que tenta transmitir também no blogue Ruin’arte. “Sempre que se entra numa ruína, entra-se simultaneamente num risco!”, explica. Podem ocorrer derrocadas ou encontros inesperados com os proprietários, “mas sem estes riscos, o projeto não anda”, garante.   
 
Gastão de Brito identifica-se com os princípios do movimento urbex, embora não se considere membro desta cultura. Este é um movimento artístico de exploração urbana que pretende mostrar – através da fotografia ou do documentário – a beleza e as histórias dos locais abandonados.

Geralmente, os participantes deste movimento organizam-se em fóruns ou redes sociais e estão submetidos a um código de ética específico, que passa por não vandalizar os locais que descobrem, não deixar rasto e não levar nada – além de imagens – do local.

Blogue do ano em 2012
 
O blogue Ruin’arte, que reúne já centenas de imagens acompanhadas de informação detalhada sobre a história de cada edíficio e de pequenas crónicas do autor, tem chamado a atenção da blogosfera e já mereceu destaque em diversos meios de comunicação.

Aliás, foi o blogue de Gastão de Brito que inspirou a intervenção artística do grupo Grande Malha que, neste 25 de Abril, “plantou” cravos de lã de tamanho gigante num antigo campo militar já registado pela lente do fotógrafo.

Em 2011, o projeto Ruin’arte teve a oportunidade de sair da internet para o mundo real, através de uma exposição no Reservatório da Patriarcal, no Museu da Água, Lisboa, numa mostra com cerca de 30 fotografias em grande formato. 

No ano passado, o blogue recebeu a nomeação de “Blogue do ano” na categoria de “Arquitetura.” Um título que representa para o autor o reconhecimento do seu trabalho e a “honra de contribuir para a História de Portugal e para a cultura da nação”.

Clique AQUI para visitar o blogue Ruin'arte.

Comentários

comentários

PUB

Live Facebook

Correio do Leitor

Mais recentes

Passatempos

Subscreva a nossa Newsletter!

Receba notícias atualizadas no seu email!
* obrigatório

Pub

Este site utiliza cookies. Ao navegar no site estará a consentir a sua utilização. Saiba mais aqui.

The cookie settings on this website are set to "allow cookies" to give you the best browsing experience possible. If you continue to use this website without changing your cookie settings or you click "Accept" below then you are consenting to this.

Close