Treinar a atenção, treinar a calma, treinar a paciência. Olhar para o mundo e para si próprio com curiosidade. Entrar em contacto, de forma gentil, curiosa e respeitadora, com os seus sentimentos e pensamentos. Quem não gostaria de o poder fazer e de permitir que os seus filhos também conseguissem treinar esta forma de estar e de se relacionar consigo e com os outros? Por isso, deixo-lhe 4 ideias mindful para toda a família:

1 – Encontre a sua âncora.

No Mindfulness, a nossa âncora é aquilo que nos coloca no presente, no aqui e no agora, corpo e mente. Ou como costumo dizer aos mais pequenos – cabeça colada ao resto do corpo. J A mente divaga (naturalmente! Somos seres humanos) para temas do passado ou para cenários futuros e a nossa âncora ajuda-nos atrazer a mente para o presente, voluntariamente, sempre que o desejarmos.

Uma possível âncora ao presente (e totalmente portátil) é a nossa respiração. Porque a respiração está a acontecer “agora”. Não conseguimos estar a prestar atenção à inspiração que aconteceu há 10 minutos ou à expiração que acontecerá dentro de 50 segundos, pois não?

Convide o seu filho a reparar em que parte do seu corpo nota mais a respiração. Sente o peito a expandir-se e a contrair com a respiração? Sente o ar a entrar e a sair pelas narinas? Repara na barriga que cresce e relaxa com a respiração? Ter uma âncora no corpo permite ter um local específico para onde dirigir a atenção durante a respiração. E isso pode ser útil para encontrar alguma calma. Quando precisar de sinalizar ao seu filho a importância da respiração, para se acalmar, por exemplo, pode dizer-lhe “Recordas-te que a tua âncora é a tua barriga? Coloca suavemente as mãos sobre a tua barriga e conta 5 respirações, reparando no movimento da tua mão sobre a barriga.”

E a sua âncora no presente qual é?

2 – A sua mente é como um cachorrinho brincalhão.

Já reparou que a sua mente é como um cachorrinho brincalhão? Está concentrado numa determinada tarefa e, de repente, pufff! A mente correu para outro local, tal como o cachorrinho percorre agitadamente o espaço, saindo do seu campo de visão.

Explique ao seu filho que a sua cabeça (os seus pensamentos) é como esse pequeno cãozinho: é curiosa, gosta de explorar e nem sempre quer seguir as orientações que lhe damos. Muito semelhante a quando dizemos ao cachorro “senta” e ele desata a correr atrás de uma borboleta. Explique ao seu filho que zangar-se com o cachorrinho apenas o assustaria, porque ele ainda está a treinar a ser obediente. Ele não faz por mal. Ele quer apenas descobrir o que o rodeia. Tal e qual o que a nossa mente faz. Então, sugira ao seu filho que sempre que ele repara que os seus pensamentos fugiram para longe – como quando está a ver um filme no cinema e subitamente “desliga” do ecrã e fica a pensar na loja que quer visitar em seguida ou na amiga a quem quer telefonar a contar as últimas novidades – se imagine a reconduzi-los gentilmente para “aqui” tal como se estive a puxar a trela do cachorrinho brincalhão para junto de si.

3 – Pode ser gentil consigo próprio.

Frequentemente falamos de forma pouco gentil connosco próprios. E o seu filho também. Poderá ter dentro dele uma vozinha que lhe diz “Sou mesmo burro.”, quando não está a conseguir resolver o problema de matemática. Ou “Sou um medricas.”, quando não sente coragem para convidar um amigo para ir a sua casa brincar. Quando falamos dessa forma mais rude e crítica connosco próprios pode mesmo ser desagradável. A boa notícia é que podemos treinar conversar connosco próprios de forma menos dura, podemos treinar enviar pensamentos gentis a nós mesmos. Podemos desejar sermos pacientes, sermos respeitadores, estarmos em segurança, por exemplo. E podemos enviar pensamentos gentis a outras pessoas, mesmo que elas não estejam presentes. Posso colocar a mão sobre o peito, desejar que o meu filho tenha um dia de escola divertido, imaginar o seu sorriso e boa disposição. E, depois, reparar como isso me faz sentir. Estar em contacto com a minha experiência interna. Também podemos fazer uma pausa no dia e reparar em aspetos da nossa vida pelos quais estamos gratos. A nossa mente é muitas vezes especialista em reparar no que correu de menos bom naquele dia. Mas mesmo um dia “mau” esconde algo pelo qual podemos estra gratos… Podemos estar gratos pela família que temos, pelos colegas com quem trabalhamos, pela saúde que temos… Mas podemos estar, hoje, gratos por coisas “simples”. O sorriso de um vizinho, um gelado delicioso que se comeu, uma paisagem que se viu, as meias quentinhas que aqueceram os pés no dia frio…

Pelo que está hoje grato? E o seu filho?

 4- Repare no que sente.

O Mindfulness ajuda as crianças a ganharem maior consciência daquilo que sentem e a dar nome ao que sentem, conseguindo deixar na gaveta com mais frequência expressões como “Estou normal.” Ou “Estou bem/mal.”

Um ótimo treino em casa para treinar a consciência emocional é para ser um como um detetive das emoções e reparar em que partes do corpo sente determinadas emoções. Por exemplo, poderá ganhar maior consciência de um sorriso no rosto quando se sente feliz ou de um aperto na barriga quando está nervoso.

O “truque” é sentir, reparar no corpo, fazer uma pausa e dar nome à emoção.

Depois de uma pausa (ancorada no presente – qual é a sua âncora?), dar nome à emoção e reparar como ela fala através do corpo permite-nos – adultos e crianças – preparar para lidar com essa emoção de uma forma mais consciente e controlada, habitualmente de modo mais construtivo para nós e para os outros.