Os pacientes que sofrem de insónias apresentam hiperatividade numa zona do cérebro que, durante o sono, tem de estar silenciada. A descoberta é resultado de uma investigação da Universidade de Aveiro e já está a abrir caminho para novas terapias.
Os pacientes que sofrem de insónias apresentam hiperatividade numa zona do cérebro que, durante o sono, tem de estar silenciada. A descoberta é resultado de uma investigação da Universidade de Aveiro e já está a abrir caminho para novas terapias.
Vira para um lado. Vira para o outro. Por mais voltas que se dê na cama, o cérebro parece não querer parar. São assim as noites de quem sofre de insónias, uma perturbação do sono que afeta cerca de 10 por cento da população mundial.
Para perceber a origem deste distúrbio, Daniel Ruivo Marques, bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, investigador do Sleep & ChronoLab (Universidade de Aveiro) e do Institute for Biomedical Imaging and Life Sciences (da Universidade de Coimbra), submeteu doentes e ‘bons dormidores’ a exames de ressonância magnética funcional, uma técnica que permite observar atividade do cérebro.
Já dentro da máquina, os participantes realizaram várias tarefas, entre a visualização de palavras que remetiam quer para preocupações referentes ao seu passado/presente e futuro quer palavras neutras (sem qualquer valência afetiva).
De uma forma geral, refere Daniel Marques num comunicado enviado ao Boas Notícias, “verificou-se que os doentes com insónia apresentaram uma maior ativação cerebral comparativamente aos bons ‘dormidores’”.
Atividade cerebral incapaz de silenciar
Um dos factos importantes observados pela equipa foi que “nos pacientes com insónia uma das principais redes cerebrais, a Default-mode Network, permanece ativa mesmo quando deveria estar mais silenciosa”.
Um dado “interessante”, justifica o investigador em Psicologia do Sono, “dado que essa é a rede neuronal que por norma é ativada quando os indivíduos recuperam memórias do seu passado, se projetam no futuro [memória projetiva] e se colocam no lugar dos outros [teoria da mente]”.
Pacientes melhoraram com terapia cognitiva
Para além disso, os padrões neuronais disfuncionais observados nos doentes com insónia “foram objetivamente melhorados, segundo os dados da ressonância magnética funcional, após terapia cognitivo-comportamental, uma forma de intervenção não-farmacológica que constitui a estratégia clínica de primeira linha no combate à insónia crónica”.
No entanto, aponta Daniel Marques, “estes estudos constituem apenas dados preliminares dadas algumas das limitações inerentes como a reduzida dimensão amostral”.
A aposta no estudo da neurobiologia da insónia, do qual esta investigação é um exemplo, “pode ajudar também, por exemplo, no aperfeiçoamento e desenvolvimento de novas terapêuticas farmacológicas”.
O estudo contou com a orientação científica de Ana Allen Gomes (UA), de Miguel Castelo-Branco e Gina Caetano, da Universidade de Coimbra (UC), e supervisão clínica de José Moutinho dos Santos e Vanda Clemente do Centro de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
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